São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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"UNIVERSOS SENSÍVEIS"

Exposição em SP evidencia transformação das moradias da elite brasileira no século 20

Somadas, coleções Klabin se fortalecem

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Qual a diferença entre casa e palácio? "Universos Sensíveis - As Coleções de Eva e Ema Klabin" leva à Pinacoteca a decoração de duas grandes residências, recentemente abertas ao público através de fundações.
Eva Klabin (1903-1991) e sua irmã Ema Klabin (1907-1994) participaram de uma transformação das moradias da elite paulistana e carioca após a Segunda Guerra. Desde os anos 40, dedicaram-se a reunir um acervo representativo de períodos históricos e movimentos artísticos consagrados.
A importância então conferida ao barroco no Brasil imprimiu-se no conjunto. Sob tal aspecto, a composição rebuscada dos acervos exibidos testemunha nacionalismo estético, pois se alinhava à política estatal de tombamento de bens coloniais e formação de museus dedicados a essa época.
O século 18 iniciou a internacionalização do barroco francês. Palácios e palacetes passaram a imitar Versalhes, de Istambul a São Petersburgo, de Petrópolis a Washington. Sans Souci, na Alemanha, fora um dos casos de cópia arquitetônico-decorativa e cedo impressionou as irmãs, durante viagens à Europa. A casa de Ema Klabin, na rua Portugal, repete as linhas desse prédio prussiano.
Residências barrocas dispõem de coleções precisas: pintura, escultura e mobiliário europeus, antigüidades egípcias e greco-latinas, biblioteca, objetos de mesa e etnologia. Também possuem salas temáticas, como a chinesa, em que Eva Klabin transformou seu jardim de inverno, na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio.
Entretanto, a curadoria torna o bricabraque original em classificação museológica. Os núcleos ordenam-se por proveniência das obras, como o "Contraponto Oriental", ou assunto, como "Maternidade". A exceção é a parede em frente à entrada, que preserva a mescla de um par de anjos elegantemente torcidos com a sopeira de prata inglesa e uma escultura de dama do século 16.
Somadas, as coleções apresentam pontos altos. "Ariadne" (séc. 18), de Greuze, e o "Estudo para Retrato de Lady Caroline" (séc. 18), de Reynolds, são óleos exemplares. O cânone clássico prefigura-se no relevo egípcio com a deusa leoa Sekhmet (séc. 10 a.C.). O oriente distante aparece nas aves míticas de Java (séc. 13).
A seção brasiliana, iniciada em 1954, traz o livro de Barléu sobre o Nordeste holandês (Amsterdã, 1647) e um "Rio de Janeiro" (1923), de Tarsila do Amaral.
A mostra evidencia o aspecto aristocrático na gênese dos museus atuais.


Universos Sensíveis
   
Onde: Pinacoteca (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, SP, tel. 0/xx/11/229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 2/5
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)



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