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Capoeira é destaque em Curitiba
Festival de teatro, cuja 16ª edição começa amanhã, apresenta musical com 14 canções para berimbau
Espetáculo de Paulo Cesar Pinheiro conta a história de Manoel Henrique Pereira, o
Besouro Mangangá, herói popular das ruas da Bahia
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO
A caminho da milésima gravação em 40 anos de carreira
(em 2008), o compositor carioca Paulo Cesar Pinheiro prepara um disco dedicado à capoeira. A rigor, o trabalho começou
aos 16 anos, quando da primeira parceria com Baden Powell
em "Lapinha", sucesso na voz
de Elis Regina em 1968.
Mas o teatro chegou antes do
disco: o musical "Besouro Cordão-de-Ouro" estreou em dezembro, no Rio, e é uma das
atrações da mostra oficial do
16º Festival de Curitiba, que começa amanhã e vai até 1º/4.
O roteiro e as 14 canções são
de Pinheiro -cada uma delas
para determinado toque do berimbau: jogo de dentro, jogo de
fora, são bento, angola, cavalaria, benguela, barravento etc.
"Adeus Bahia, zum-zum-zum/
Cordão-de-Ouro/ Eu vou partir porque mataram meu Besouro", continua "Lapinha",
numa citação a Manoel Henrique Pereira (1885-1924), o capoeirista Besouro Mangangá
ou Besouro Cordão-de-Ouro.
Não é a primeira vez que Pinheiro, 58, se aventura pela
criação teatral, parceiro recorrente de Edu Lobo em várias
canções para o palco. "O mais
difícil foi a parte literária", reconhece o autor.
Defesa dos pobres
Um fiapo de dramaturgia
pontua passagens da vida do
personagem evocado na obra
de Noel Rosa, Jorge Amado e
outros. Diz a lenda que Besouro
foi valente com policiais e poderosos, em defesa dos empobrecidos, brandindo as artes da
capoeira, do violão, do samba-de-roda e da chula (dança e música populares de origem portuguesa). "Era um herói da rua
na Bahia, e não um herói mitificado", diz Pinheiro.
"O espetáculo fala de um homem brasileiro, em certo sentido em extinção: aquele que se
impõe enquanto indivíduo, não
com individualismo, em função
de uma coletividade. Besouro
enfrenta a polícia desarmado
para proteger os injustiçados.
Luta com o corpo, a ginga, a
voz", afirma o diretor João das
Neves, 73. Além do recorte biográfico, de modo algum linear, a
narrativa faz incursões históricas à resistência e revolta do
povo negro. No elenco, os 13 artistas que jogam, cantam e dançam são negros.
Com exibições em Curitiba
no sábado e no domingo, a peça
é concebida como uma roda de
capoeira -ao final, literalmente aberta à participação do espectador ou capoeirista. O público ocupa almofadas e cadeiras num cenário envolto por
cerca de mil caixotes.
Pinheiro convidou Neves para dirigir (é a primeira vez que
trabalham juntos) porque assistia a seus shows e espetáculos no Opinião (1964-1982), o
grupo que fazia teatro de protesto durante a ditadura, impulsionado pelo Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE.
"Nossas utopias ideológicas
foram, de alguma maneira, solapadas. Convicções tiveram
que ser revistas dos anos 60 para cá. Não estamos no país da
ditadura, mas da esperança,
apesar de o Brasil carregar muitas das mazelas do passado, algumas delas agravadas", diz
Neves, 50 anos de teatro.
Em tempo: o disco de Paulo
Cesar Pinheiro deve sair até o
final do ano.
Veja o site especial sobre o festival
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