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Mônica Bergamo
bergamo@folhasp.com.br
Marisa Cadouro/Folha Imagem
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Lúcia, 51
A atriz Lúcia Veríssimo, "mais gorda, relaxada", está em SP para a temporada da peça "Usufruto" e diz que, agora, mais velha, entende que "você é porra nenhuma. E é tudo"
Há cinco anos longe da televisão e dos palcos, Lúcia Veríssimo, 51, está de mudança do
Rio para São Paulo, onde volta à
cena com "Usufruto", de sua
autoria. Na semana passada,
antes de subir ao palco do teatro Faap, ela recebeu a coluna
em seu camarim.
FOLHA - É difícil ficar longe da TV?
LÚCIA VERÍSSIMO - Sinto saudades até hoje. Até 1998, eu fazia
uma novela atrás da outra. Entrei na TV Globo com 19 anos.
Já tinha passado mais tempo
na Globo do que na minha casa.
Eu defendia a Globo como se
fosse uma extensão de mim
mesma.
FOLHA - E por que parou?
LÚCIA - Acho que deixei de ser
interessante, passei a não ter
mais convites. Eu falava muito
de como era bom antigamente,
reclamava. As pessoas me falam: "Você tem que voltar!", como se eu fosse a culpada. Não
fui eu que decidi. Foi a nova TV.
FOLHA - E o que é a nova TV?
LÚCIA - Se um dia você descobrir, me conte. Sou de um tempo em que as novelas tinham
um diretor e 24 capítulos de
frente [gravados antecipadamente]. Hoje, são seis diretores
e um capítulo de frente. Aí me
explicaram: antigamente, eram
30 cenas. E hoje são 115. Mas
115 cenas de quê mesmo? A
gente tinha 32 páginas de texto,
de discussão, de cenas incríveis,
você ficava extasiada. Cenas
que duravam um bloco inteiro,
como a de Joana Fomm e Sonia
Braga na pancadaria em "Dancin" Days" [novela de 1978]. Hoje, uma briga daquela se faz em
quatro frases.
FOLHA - Pensa em voltar?
LÚCIA - Penso, é claro. Mas
agora, não. Não toparia fazer
um papel de escada só para estar na televisão. Sempre fui
uma atriz que fez carreira em
cima da TV -apesar de ter começado no teatro, como todo
mundo. Quer dizer, como deveria ser.
FOLHA - Aos 51 anos, ainda se
preocupa muito com a forma física?
LÚCIA - Não tenho mais essa
preocupação. Tenho duas
"Playboys" [ensaios fotográficos em que aparece nua], já fui
considerada a mulher mais linda do Brasil e foda-se se eu não
for mais. Tô mais gorda, relaxei, já fiquei doente.
FOLHA - Mas posaria nua de novo.
LÚCIA - Claro que sim. Estou
mais despencada, vai ser horrível, mas não tenho problema.
Vou à praia de nudismo, meu
peito ainda está inteiraço. Ele
cresceu porque eu engordei,
mas é exatamente como era:
duro, lindo, é a coisa linda do
meu corpo. Não tenho aquela
bunda que eu tinha quando posei para a "Playboy" [nos anos
80], aquela perna, não tenho
aquele braço. Mas tenho muitas outras coisas. E não tenho
mais certeza de absolutamente
nada. Isso a velhice me deu.
Passei a entender que você é
porra nenhuma. E é tudo.
FOLHA - Quando você começou a
escrever?
LÚCIA - Em 1997, comecei a fazer um livro [autobiográfico].
Aí começou a me ligar tanta
gente preocupada [risos], que
eu falei: "Pode deixar que só
vou dar autorização para publicar quando eu morrer". "Usufruto" eu escrevi em uma semana, enquanto esperava as trocas de luz nas gravações da novela "América", em 2005.
FOLHA - A personagem da peça já
se relacionou com homem e mulher
junto. E você?
LÚCIA - Tive casamentos abertos, outros não tão abertos e
outros totalmente fechados.
FOLHA - Você foi casada com a Gal
Costa, né?
LÚCIA - [Risos] Pega o histórico. Os jornais podem te dizer
tudo sobre a minha vida. Não
escondo nada de ninguém, mas
não falo sobre isso. Não existe
homossexualismo, heterossexualismo, bissexualismo, tudo
isso é nomenclatura inventada
por Freud. Pra mim, existe uma
pessoa sexual. Só isso. Você
tem que fazer o que está a fim,
na hora em que quiser.
FOLHA - Sua personagem na peça
acredita que só existe um grande
amor na vida. E você?
LÚCIA - Piamente. A gente tem
um grande amor só uma vez e o
deixa guardado como um fantasma. Os grandes amores não
são para serem vividos, são só
para sabermos que existem. Já
acho difícil você encontrar um.
Se conseguir mais, aí é porque
você foi muito f., sofreu muito
em outra vida e agora ganhou
algo em dose dupla.
FOLHA - E a relação fraternal?
LÚCIA - Acho que esse processo
é lá pros 80, 90 anos. Acho difícil que eu abandone completamente o meu corpo. Na minha
história de vida, o sexo é uma ligação com o cosmo. O momento de prazer transcende qualquer outro experimento que
você tenha aqui nesse planeta.
Mas sei que muita gente abdica
disso. Hoje em dia, me parece
que essa geração mais nova faz
muito menos sexo do que a minha geração fazia. A nova geração consome uma droga horrorosa, não faz sexo e tem um discurso ridículo.
FOLHA - É por isso que você os chama de caretas?
LÚCIA - Hoje, uma menina vai
de vestido curto na faculdade e
quase apanha. Eu comecei a fazer topless em 1970. Hoje em
dia, você é linchado. Eu achava
que ia chegar aos 51 anos com
tudo diferente, todo mundo
em praia de nudismo.
FOLHA - E você?
LÚCIA - Só tomo banho nua.
No barco, faço topless. Na
praia da Reserva, também.
Uma vez, um policial quis me
prender. Falei: "Tenho duas
"Playboys", é atentado ao pudor
eu ficar com o peito de fora?" A
gente namorava sem saber o
nome. Você entrava numa festa, achava aquilo interessante
e ia para o banheiro ou pro
quarto que estivesse vazio.
FOLHA - E você acabou se casando
quantas vezes?
LÚCIA - De morar junto? Umas
nove... Eu não caso mais com
essa facilidade porque hoje eu
estou mais chata, cheia de manias. Isso não quer dizer que eu
não namore, que eu não durma
todo dia junto. Mas, quando
vão pra minha casa, mantenho
sempre um quarto e um banheiro separado. No meu banheiro, [a pessoa] não entra em
hipótese alguma.
FOLHA - Experimentou todas as
drogas?
LÚCIA - Experimentei. Mas
gosto muito de ter a minha
consciência. Gosto de estar
alerta.
FOLHA - Você teve um problema
de saúde há alguns anos.
LÚCIA - Tive um câncer e precisei tirar o útero, apesar de ser
superpreocupada com a saúde.
FOLHA - Por que agradece ao governador Aécio Neves (MG) na peça?
LÚCIA - Somos amigos, fui muito próxima do Tancredo [Neves] nas Diretas-Já. O Aécio
abriu as portas da Cemig, pra
mim [a empresa patrocina a peça da atriz]. Eu sou fundamentalmente uma tucana. Na verdade, torço para o anarquismo,
mas é impossível, com a ignorância, você ter anarquismo.
Então prefiro esse socialismo
de centro que o PSDB defende.
FOLHA - Você vai se mudar do Rio
pra São Paulo. Por quê?
LÚCIA - Estou muito triste com
o que acontece com o Rio e vejo
pouca chance de a situação melhorar. São Paulo é incrível. É a
única cidade da América do Sul
que está em 2010. O Rio parou
no tempo e no espaço, está em
1950, 1960. O Nordeste tá em
1930. O Sul, em 1940. Montevidéu tá onde, meu Deus do céu?
E Buenos Aires?
FOLHA - Qual a solução para o Rio?
LÚCIA - Tinha que voltar o jogo,
reabrir o Cassino da Urca. A
violência melhoraria. Você empregaria todo mundo. E os bicheiros se encarregariam de
cuidar da segurança.
"A gente tem um grande
amor só uma vez e o
deixa guardado como
um fantasma. Os
grandes amores não são
para serem vividos, são
só para sabermos que
existem"
LÚCIA VERÍSSIMO
atriz
"A nova geração
consome uma droga
horrorosa, não faz sexo e
tem um discurso ridículo"
IDEM
Reportagem
LÍGIA MESQUITA
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