São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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500 ANOS
Parlapatões, Patifes e Paspalhões encenam "Caguei pros 500"
Evento "anticomemora" Descobrimento do Brasil

da Redação

Antes que o leitor se indigne com as linhas que seguem, vai aqui uma advertência dos patifes, ops, Parlapatões, Patifes e Paspalhões: "Cagamos para todos os moralistas que não vão entender e nem dar atenção às nossas ironias".
Aos apreciadores de ironias e afins, eis aqui a reportagem. "Cagamos pros 500" é o "espetáculo-performance-festa-protesto" que alguns artistas da cidade de São Paulo irão protagonizar hoje, na virada da noite, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), para "anticomemorar" o Descobrimento do Brasil.
"Está uma visão tão oficial de tudo que a gente decidiu fazer uma brincadeira", explica o ator Hugo Possolo, 37, um dos integrantes do Parlapatões.
A inspiração partiu de um grupo colombiano que, segundo relatou o crítico e dramaturgo Aimar Labaki a Possolo, apresentou em Bogotá, por ocasião dos 500 anos da América, em 1992, um espetáculo cômico intitulado "Me Cago para los 500", uma sátira rasgada.
Além do grupo, participam do evento o Pia Fraus (com seus bonecos e números circenses), Gérson de Abreu (para lembrar Tom Jobim), La Mínima Trupe (com um número inédito), Circo Udi Grudi, de Brasília (com os sons de seu espetáculo "O Cano"), José Rubens "Chachá" (com uma releitura da carta de Pero Vaz de Caminha), Letícia Coura (fazendo versão de Carmem Miranda), Bloco Cara Pintada (samba no comando do mestre Marcelo Bianca), Miguel Briamonte (no teclado) e Coral Collegium Musicum, sob a regência de Abel Rocha.
Essas atrações serão "amarradas" segundo a visão "mais debochada possível" dos principais fatos da história do Brasil.
"É importante que a gente olhe para o passado e tenha uma certidão de nascimento, como é o caso da Carta de Caminha, mas não dá para suportar essa visão tacanha e tímida de hoje, pior do que na época do regime militar", compara Possolo.
"O país não pode ficar olhando para a história como os governantes olham, ignorando a realidade e o povo. Estão fazendo uma festa para inglês ver", critica o "parlapatão" Possolo.

Escolinha de FHC
Para Beto Andretta, 38, um dos integrantes do grupo Pia Fraus, não se trata de um olhar pessimista. "A gente quer apontar apenas que temos 500 anos, tudo bem, mas a situação não está nada legal", afirma. "A ironia ajuda a despertar a atenção."
No texto que enviaram à imprensa, os organizadores escrevem que "o país se transformou em uma grande escolinha em que o professor Fernando Henrique Raimundo mandou que fizéssemos a lição de casa, "comemorar os 500 anos de colonização", mas não somos trouxas e resolvemos rir das babaquices sociais".
(VALMIR SANTOS)


Evento: Cagamos pros 500
Com: vários
Quando: hoje, à meia-noite ("à 0h05 faremos um minuto de silêncio pela entrada do dia 22!")
Onde: Teatro Brasileiro de Comédia -sala TBC (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3115-4622)
Quanto: R$ 5


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