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CINEMA
Cineasta tem longa inacabado sobre a prática da censura a filmes no Brasil e recebe homenagem em Porto Alegre
Sganzerla critica "os tempos trevosos"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
No momento em que sua mais
reconhecida obra -"O Bandido
da Luz Vermelha"- completa 35
anos de realização, o cineasta Rogério Sganzerla, 56, proclama:
"Todos os maus filmes já foram
feitos. Estão faltando os bons.
Mesmo que inacabados".
Com uma homenagem a Sganzerla e a exibição de "O Bandido
da Luz Vermelha" (entre outros
oito títulos de sua autoria), o festival gaúcho ZoomCineEsquemaNovo dará partida em sua primeira edição, no próximo dia 6, em
Porto Alegre.
O cineasta Gustavo Spolidoro,
um dos curadores da mostra, diz
que o nome de Sganzerla foi escolhido por representar o espírito
que define o festival: a divulgação
de trabalhos que "inovem, surpreendam, experimentem, ousem; filmes que não caminhem só
em linha reta, mas que também
andem para a direita, a esquerda,
para cima e para baixo".
Ao citar filmes inacabados,
Sganzerla -que oferecerá um
workshop no ZoomCineEsquemaNovo- faz uma auto-referência. Há sete anos ele rodou "O Signo do Caos". Usou, pela primeira
vez, o formato de película em super-16 mm.
Até hoje, não conseguiu concluir a montagem do longa-metragem, que será o 16º título de
sua carreira, entre curtas, médias
e longas. O diretor diz que não
inscreveu o filme nas leis de renúncia fiscal e contou com o
apoio da distribuidora carioca
Riofilme para a produção.
Além de investir R$ 280 mil em
"O Signo do Caos", a Riofilme
prepara para este ano o lançamento em DVD de "O Bandido
da Luz Vermelha".
Segundo Sganzerla, seu novo
filme "é uma defesa do cinema".
"Mas eu também acuso a figura
do curador -aquele que agiganta
orçamentos- como sendo o
grande intermediário, o grande
parasita da nossa tumultuada indústria cinematográfica", afirma.
O diretor diz que o filme se passa "num pequeno corredor com
um alçapão, na verdade um ninho
de monstros junto à alfândega,
que controlam a importação e a
exportação de material cinematográfico".
Esses "monstros" avaliam (e
descartam) os filmes pela aparência de suas latas. Sganzerla diz
que, por meio do filme, quis reunir "um manancial de informações sobre os mecanismos de censura que assombram nossas colônias desde os tempos trevosos das
capitanias hereditárias". E conclui
que "[a censura" é um assunto
atual, pertinente e que ainda não
foi tratado no cinema nacional".
O festival ZoomCineEsquema
Novo tem mostra competitiva de
104 trabalhos, selecionados entre
583 inscritos. Até o dia 11 de maio,
serão exibidos 1.080 minutos de
programação, na sala de cinema
da Usina do Gasômetro, pertencente à Prefeitura de Porto Alegre,
que apóia a realização da mostra.
Entre os trabalhos apresentados
estão 52 vídeos, 26 filmes em
35mm, 16 títulos em 16mm e dez
obras em super-8.
"Nossa proposta é privilegiar a
criatividade. Temos desde trabalhos universitários realizados
com poucos recursos até filmes
excelentissimamente bem-acabados", diz Spolidoro.
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