São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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ANÁLISE

TV pública deve mostrar independência

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A TV pública no Brasil é mais importante do que parece e deveria oferecer parâmetros independentes de governos e anunciantes.
Em um momento em que as emissoras comerciais, em crise financeira, se dedicam a repetir fórmulas superficiais e sensacionalistas, caberia às TVs públicas -estaduais e federais- atender o interesse dos espectadores.
Acompanhamos apreensivos mais um capítulo na crise da TV Cultura. O conselho da Fundação Padre Anchieta, que mantém o canal de televisão e as emissoras de rádio, optou, na última segunda-feira, por evitar o confronto entre o atual presidente, candidato a um terceiro mandato, e o ex-Secretário da Cultura do Estado, seu antigo superior, que lhe opôs resistência.
O que chegou a ser anunciado como um embate entre defensores de concepções diferentes da coisa pública acabou em um acordo de cavalheiros.
Uma rápida mudança de estatutos garantiu a criação de remuneração para o Presidente do Conselho, abrindo a possibilidade de acomodação dos dois candidatos. As eleições foram adiadas para o dia 10 de maio.
Certamente bem-intencionado, o Conselho Curador composto por representantes de organismos estaduais e municipais ligados à educação e à cultura, além de personalidades, se dispôs a colaborar mais intensamente com a emissora.
O comunicado oficial da reunião, à qual compareceram 32 dos 40 membros, menciona comissões consultivas de trabalho compostas por profissionais idôneos e de reconhecida competência. Uma lista completa dos membros do Conselho Curador está disponível no site da emissora (www.tvcultura.com.br).
Infelizmente, no entanto, nada foi mencionado quanto ao programa de gestão e/ou o conceito de programação que se pretende com a reformulação. O modelo de parceria funciona? Programações de qualidade como "Contos da Meia-Noite" deveriam ser pensadas para o horário nobre?
Na ausência de conteúdos substantivos, a criação do cargo remunerado aparece como a informação mais relevante, o que é constrangedor.
A sociedade espera que o Conselho da Fundação Padre Anchieta e os candidatos à direção tomem a iniciativa de propor rumos substantivos para superar uma crise que se arrasta.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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