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ANÁLISE
TV pública deve mostrar independência
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A TV pública no Brasil é mais
importante do que parece e
deveria oferecer parâmetros independentes de governos e anunciantes.
Em um momento em que as
emissoras comerciais, em crise financeira, se dedicam a repetir fórmulas superficiais e sensacionalistas, caberia às TVs públicas
-estaduais e federais- atender
o interesse dos espectadores.
Acompanhamos apreensivos
mais um capítulo na crise da TV
Cultura. O conselho da Fundação
Padre Anchieta, que mantém o
canal de televisão e as emissoras
de rádio, optou, na última segunda-feira, por evitar o confronto
entre o atual presidente, candidato a um terceiro mandato, e o ex-Secretário da Cultura do Estado,
seu antigo superior, que lhe opôs
resistência.
O que chegou a ser anunciado
como um embate entre defensores de concepções diferentes da
coisa pública acabou em um acordo de cavalheiros.
Uma rápida mudança de estatutos garantiu a criação de remuneração para o Presidente do Conselho, abrindo a possibilidade de
acomodação dos dois candidatos.
As eleições foram adiadas para o
dia 10 de maio.
Certamente bem-intencionado,
o Conselho Curador composto
por representantes de organismos estaduais e municipais ligados à educação e à cultura, além
de personalidades, se dispôs a colaborar mais intensamente com a
emissora.
O comunicado oficial da reunião, à qual compareceram 32 dos
40 membros, menciona comissões consultivas de trabalho compostas por profissionais idôneos e
de reconhecida competência.
Uma lista completa dos membros
do Conselho Curador está disponível no site da emissora
(www.tvcultura.com.br).
Infelizmente, no entanto, nada
foi mencionado quanto ao programa de gestão e/ou o conceito
de programação que se pretende
com a reformulação. O modelo de
parceria funciona? Programações
de qualidade como "Contos da
Meia-Noite" deveriam ser pensadas para o horário nobre?
Na ausência de conteúdos substantivos, a criação do cargo remunerado aparece como a informação mais relevante, o que é constrangedor.
A sociedade espera que o Conselho da Fundação Padre Anchieta e os candidatos à direção tomem a iniciativa de propor rumos
substantivos para superar uma
crise que se arrasta.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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