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CINEMA
Sydney Pollack conta à Folha como foram as negociações para poder filmar "A Intérprete" no prédio das Nações Unidas
ONU serve de cenário para thriller político
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
Para parafrasear o sábio Perry
White (a versão sacana do extinto
"Planeta Diário", não a versão séria do chefe de Clark Kent em
"Super-Homem"), o cineasta
Sydney Pollack, 70, é um velho lobo-do-mar de Hollywood.
Bissexto, já dirigiu de "Tootsie"
(82) a "A Firma" (93), passando
por "Três Dias do Condor" (75),
além de "Entre Dois Amores",
que lhe rendeu dois Oscars em 85,
e uma gema que arrancou talvez a
melhor atuação de Burt Lancaster
(1913-94), o subestimado "O
Enigma de uma Vida" (68).
Atrás das câmeras, levou 12 atores a ganhar um Oscar, de Barbra
Streisand a Paul Newman, de
Meryl Streep a Dustin Hoffman.
Assim, não é surpresa que este
norte-americano de Lafayette, Indiana, mas com sotaque do
Bronx, quisesse ser o autor do primeiro filme feito na ONU.
Dois anos de negociações com o
secretário-geral, Kofi Annan, e
conseguiu. Saiu "A Intérprete",
com Sean Penn no papel de um
agente federal encarregado de
proteger uma tradutora africana
especializada na língua Ku (coloque sua própria piada aqui), de
uma tribo de um país fictício, que
por acaso ouve um plano de assassinato. Ela é Nicole Kidman, na
quinta colaboração entre os dois.
O resultado é um thriller policial,
com toques políticos e um romance amarrando a história.
Folha - Por que filmar na ONU
agora, quando a instituição está
enfraquecida por ter sido ignorada
na Guerra do Iraque e por sucessivos escândalos com Kofi Annan?
Sydney Pollack - Quando eu
aceitei dirigir este filme, a história
era diferente. Aceitei porque gosto de fazer thrillers e porque se
passava num lugar que eu não conhecia muito, só o que lia nos jornais. Como ninguém jamais tinha
filmado lá, achei que seria fascinante mostrar isso ao mundo.
Folha - Então é coincidência o sr.
fazer um filme político 30 anos depois de "Três Dias do Condor",
quando o governo dos EUA também estava sendo criticado?
Pollack - Veja, sei muito bem
que este é um filme político e gosto disso. Mas tentei ser cuidadoso.
Não estou fazendo "Z" [obra-prima de Costa-Gavras de 1968 sobre
a Ditadura dos Coronéis na Grécia]. Quando você aceita fazer um
filme ligado a um grande estúdio,
tudo custa tão caro que você não
pode se dar o luxo de fazer algo
com uma mensagem política
muito óbvia. Tem de dar um jeito
de trabalhar de uma forma híbrida. Em "Condor", queria fazer
uma crítica à CIA, mas, se não
funcionasse como um thriller, estava perdido. Ninguém lhe dá
US$ 90 milhões para ser político.
Folha - Houve censura da ONU?
Pollack - Annan indicou um de
seus subsecretários, Shashi Tharoor, um indiano ótimo que também é um escritor, para ler o roteiro. Como eu não tinha o texto
finalizado, ia dando o que tinha.
Primeiro 20 páginas, aí mais dez...
Folha - Como os convenceu a deixar filmar lá dentro?
Pollack - Foi uma batalha. Chegamos a ir ao Canadá para tentar
encontrar pedaços de outros prédios que pudessem ser usados, e
eu tinha um time de especialistas
em computação gráfica que me
garantiu que dava para fazer o cenário depois, mas fiquei deprimido com essa idéia. Não que eu não
passe a maior parte do tempo deprimido [risos]. Então comecei a
ligar para conhecidos que pudessem ter influência política e consegui, após meses, uma entrevista
com Annan. Na nossa primeira
conversa, abri o jogo: o filme não
seria uma propaganda para a
ONU, eu não sou relações-públicas e não faria esse papel. Mas, como queria muito filmar lá, também não o faria passar vergonha.
Folha - Sob sua direção, 12 atores
ganharam Oscar. Qual o segredo?
Pollack - Não tenho idéia. Comecei como ator frustrado, mas estudei com um grande professor, que
me contratou como seu assistente
quando eu tinha 19 anos. Quando
comecei a dirigir, não sabia nada
da função, não tinha idéia de como me comportar no set, não tinha estudado direção, iluminação, câmera, nada que deixa os
grandes diretores obcecados. Mas
tinha esse passado de entender os
atores e como eles podem melhorar sua atuação. E foi assim.
Folha - Como ensinou Tom Cruise
a cozinhar?
Pollack - Não foi bem assim. Ele
aprendeu a fazer duas especialidades minhas, um pato cozido
desfiado com shiitake e um carneiro assado com risoto de limão,
durante as filmagens de "Olhos
Bem Fechados". Como sou enjoado com comida, raramente aceito
o que é trazido para o set. Gosto
de cozinhar meu jantar. Então,
Tom pediu para o assistente dele
ficar atrás de mim com uma câmera enquanto preparava o jantar e estudou obsessivamente o
vídeo. Ele me convidou para jantar duas vezes. Estavam ótimas.
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