CHRISTIAN MOERK
DO "NEW YORK TIMES"

O ator Tommy Lee Jones, 59, começou a pensar em dirigir aquele que seria seu primeiro longa-metragem durante uma caçada a cervos na paisagem árida do oeste do Texas. Ainda não havia nenhum roteiro. Mas ele já sabia que o personagem dominante do filme não teria uma única fala.
As montanhas silenciosas da região foram a presença em torno da qual Jones e seus colaboradores acabaram por construir "Três Enterros" ("The Three Burials of Melquiades Estrada"), filme que pode ser descrito como uma visão moderna da "Odisséia", de Homero. O próprio Tommy Lee Jones faz um vaqueiro texano cujo novo amigo, um caubói mexicano ilegal no país chamado Melquiades (Julio César Cedillo), é morto a tiros sob circunstâncias misteriosas. Não conseguindo obter respostas das autoridades locais, o vaqueiro americano seqüestra o assassino de Melquiades, e os dois dão início a uma longa jornada rumo à redenção.
Ao longo do caminho, eles se envolvem com outro "personagem" sem voz: a fronteira americano-mexicana, que se estende, tortuosa, ao longo do rio Grande, na região de Van Horn, Texas. Jones disse que foi uma escolha proposital relatar uma história de amizade, perda e perdão num território árido e implacável, sem exibir a "mensagem" em luzes de néon, como Hollywood tão freqüentemente faz.

Roteiro
Jones disse que quis captar "como as coisas são diferentes de cada lado do rio e quais são as conseqüências de estender uma fronteira internacional no meio de uma cultura e chamá-la de duas culturas, impondo essa divisão sob a pena da violência".
Mais de quatro anos atrás, contou, ele leu o roteiro da contundente produção mexicana "Amores Brutos", escrita por Guillermo Arriaga (que mais tarde faria o roteiro de "21 Gramas"). Ficou fascinado. Michael Fitzgerald, que acabou por produzir "Três Enterros", telefonou para Arriaga e convidou o roteirista mexicano e sua mulher para jantar com ele e Tommy Lee Jones. Pouco depois, o roteirista recebeu um convite para conhecer o rancho WD, de Jones, no oeste do Texas.
Durante as filmagens, as exigências da vida na fronteira imprimiram seu toque ao produto final. O público vai reconhecer o estilo narrativo não-linear de Arriaga. "Neste filme, eu queria que o personagem e todas as outras pessoas ficassem confusos em relação ao que aconteceu", afirmou, se referindo ao momento crucial do filme, quando Melquiades morre.