São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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CINEMA

Europa domina competição pela Palma com 13 dos 19 selecionados

Festival de Cannes se volta para o velho mundo

DA REPORTAGEM LOCAL

O Festival de Cannes deixa de lado a "onda asiática" no cinema e se volta para a Europa em sua 59ª edição (de 17/5 a 28/5).
"A Europa relembra, se é que isso é necessário, que possui um cinema de primeira grandeza", disse o diretor-artístico da mostra, Thierry Frémaux, ao anunciar, ontem, os longas selecionados (leia quadro abaixo).
Dos 19 filmes que disputarão a Palma de Ouro, 13 são europeus. Entre os seis restantes, há quatro dos EUA, um do México e um da China. O Brasil não tem representantes na Competição Oficial de longas, mas teve dois curtas selecionados (leia abaixo).
O italiano Nanni Moretti, o espanhol Pedro Almodóvar, o inglês Ken Loach, o finlandês Aki Kaurismäki estão na "constelação" européia de diretores veteranos em Cannes.
Moretti apresenta um libelo anti-Berlusconi ("Il Caimano"). Almodóvar, premiado em Cannes com "Tudo sobre Minha Mãe", retorna com outra reflexão sobre o matriarcado ("Volver"), enquanto Loach ("Meu Nome É Joe", "Pão e Rosas") reflete sobre a Irlanda, e Kaurismäki ("O Homem sem Passado") fecha sua trilogia finlandesa ("Laitakaupungin Valot").
A proposta do festival, segundo Frémaux, é misturar filmes que "mostram as conseqüências dos movimentos políticos e sociais do mundo" com outros outros que "projetam as grandes questões do futuro do planeta", para conjugar presente e futuro no cinema.
Um dos títulos mais esperados, no entanto, é "Marie-Antoinette", em que a norte-americana Sofia Coppola se debruça sobre a personagem histórica da rainha (interpretada por Kirsten Dunst) abatida pela Revolução Francesa.
O mexicano Alejandro González Iñárritu, revelado em Cannes com "Amores Brutos", retorna com um filme de produção norte-americana, que emenda histórias ao redor de vários países, ao sabor da globalização. E o norte-americano Richard Kelly, 30, caçula da disputa, trata do futuro de seu país ("Southland Tales").

Brasil
Os cineastas brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas participam do festival, como convidados especiais. Eles estão no time de diretores convidados a dirigir o longa coletivo "Paris, Je T'Aime", que abrirá a mostra "Un Certain Regard" (um certo olhar).
Salles e Thomas assinam o episódio sobre o 16º arrondissement (bairro) de Paris.
"Ficamos apaixonados por essa outra Paris, dos imigrantes, que os filmes sobre a cidade em geral não retratam", diz Thomas. O episódio acompanha o trajeto da empregada Ana, vivida pela colombiana Catalina Sandino Moreno ("Maria Cheia de Graça"), até o bairro, "que só aparece no último minuto", conta a cineasta.
Salles relembra que as filmagens coincidiram com os protestos de descendentes de imigrantes, que tomaram a capital francesa no fim do ano passado.
"Filmamos em Bobigny, na periferia de Paris, 15 dias antes da revolta dos filhos de imigrantes que aconteceu em outubro. Já se podia sentir no ar o que estava prestes a eclodir. Só o [ministro do Interior Nicolas] Sarkozy é que não percebeu -ou não quis perceber", afirma.
Para Salles, "o que aconteceu ali não é difícil de entender: é o contracampo do colonialismo".


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