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Festival aplaude nova investida de Michael Moore
Documentário sobre as deficiências do sistema de saúde pública nos EUA, "Sicko" foi exibido no sábado, fora de competição
Notificado pelo Tesouro por quebra de embargo a Cuba, diretor afirma esperar por "tempestade" em sua volta para os Estados Unidos
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Vencedor da Palma de Ouro
com "Fahrenheit - 11 de Setembro" (2004), o cineasta norte-americano Michael Moore encontrou na 60ª edição do Festival de Cannes respaldo para
seu novo filme, "Sicko", sobre
as deficiências do sistema de
saúde pública nos EUA.
Exibido fora de competição
no sábado, "Sicko" foi aplaudido diversas vezes em cena aberta, na sessão de imprensa. "Sei
que a tempestade me espera
nos EUA. Mas é tão prazeroso
estar aqui com esse filme", disse Moore, após a projeção.
A "tempestade" se anunciou
há três semanas, quando o Tesouro dos EUA notificou o diretor por suposta quebra do embargo a Cuba, com o filme.
Moore deve apresentar sua
defesa na terça. O desenrolar da
contenda pode levar ao adiamento da estréia de "Sicko" nos
EUA, prevista para 21/6, caso o
cineasta seja punido, hipótese
que Moore classificou como
"ridículas".
"Sou um cidadão americano.
Vivo num país livre. Mas essa
administração [do presidente
George W. Bush] afronta as leis
e a Constituição", disse.
Moore responde à acusação
de quebra do embargo dizendo
que, em "Sicko", empreendeu
uma viagem não com o objetivo
de ir a Cuba, mas ao "solo americano da base de Guantánamo" -localizada na ilha, onde
os EUA encarceram acusados
de terrorismo. "Por acaso",
afirma, foi parar em Havana.
"Sicko" mostra Moore partindo de Miami para Guantánamo, de lancha, com personagens do filme que enfrentam
problemas de saúde decorrentes do trabalho de resgate às vítimas do World Trade Center.
Sem dinheiro para bancar tratamento adequado, eles tampouco obtêm ajuda do Estado.
Diante da base de Guantánamo, com um megafone, Moore
anuncia ao centro médico que
trata "os terroristas da Al Qaeda" que estão ali "voluntários
nos resgates do 11 de Setembro", necessitando cuidados.
A cena seguinte traz o grupo
em Havana. "Sei o que vocês estão pensando. Cuba é onde vive
Lúcifer [surge imagem de Fidel
Castro]", diz a narração.
"Lado escuro"
Moore diz que "há alguma
coisa essencialmente errada"
na sociedade americana, que
terá de "enfrentar seu lado escuro, se quiser ser melhor". O
propósito de "Sicko", segundo
ele, é interrogar: "Por que nos
tornamos o que somos hoje?".
Embora preveja a "tempestade" de reações negativas ao seu
país, Moore disse que os críticos que apontam imprecisões
em seus filmes deveriam lhe
"dar uma folga", considerando
seus acertos anteriores.
"Há oito anos fiz um filme dizendo que a General Motors
era um gigante prestes a cair
["Roger e Eu"], em "Tiros em
Columbine", mostrei que, com
a situação da venda de armas,
os massacres nas escolas não
iriam terminar e, tragicamente,
eles continuam", disse.
Ao ser questionado pelo fato
de não apresentar as falhas dos
sistemas de saúde pública dos
países estrangeiros (Canadá,
França, Inglaterra, Cuba) na
comparação com os EUA, afirmou: "Acho que o resto do
mundo está um pouco cansado
de ouvir os americanos dizendo
a eles o que devem fazer".
Irônico, disse que "hoje existem uns 12 documentários" sobre ele "com títulos como "Michael e Eu", "Eu e Michael",
"Moore Odeia a América", "A
América Odeia Moore'".
E concluiu: "Estou pensando
em patrocinar um festival de
filmes anti-Michael Moore,
com distribuição de prêmios".
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