São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Festival aplaude nova investida de Michael Moore

Documentário sobre as deficiências do sistema de saúde pública nos EUA, "Sicko" foi exibido no sábado, fora de competição

Notificado pelo Tesouro por quebra de embargo a Cuba, diretor afirma esperar por "tempestade" em sua volta para os Estados Unidos

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Vencedor da Palma de Ouro com "Fahrenheit - 11 de Setembro" (2004), o cineasta norte-americano Michael Moore encontrou na 60ª edição do Festival de Cannes respaldo para seu novo filme, "Sicko", sobre as deficiências do sistema de saúde pública nos EUA.
Exibido fora de competição no sábado, "Sicko" foi aplaudido diversas vezes em cena aberta, na sessão de imprensa. "Sei que a tempestade me espera nos EUA. Mas é tão prazeroso estar aqui com esse filme", disse Moore, após a projeção.
A "tempestade" se anunciou há três semanas, quando o Tesouro dos EUA notificou o diretor por suposta quebra do embargo a Cuba, com o filme.
Moore deve apresentar sua defesa na terça. O desenrolar da contenda pode levar ao adiamento da estréia de "Sicko" nos EUA, prevista para 21/6, caso o cineasta seja punido, hipótese que Moore classificou como "ridículas".
"Sou um cidadão americano. Vivo num país livre. Mas essa administração [do presidente George W. Bush] afronta as leis e a Constituição", disse.
Moore responde à acusação de quebra do embargo dizendo que, em "Sicko", empreendeu uma viagem não com o objetivo de ir a Cuba, mas ao "solo americano da base de Guantánamo" -localizada na ilha, onde os EUA encarceram acusados de terrorismo. "Por acaso", afirma, foi parar em Havana.
"Sicko" mostra Moore partindo de Miami para Guantánamo, de lancha, com personagens do filme que enfrentam problemas de saúde decorrentes do trabalho de resgate às vítimas do World Trade Center. Sem dinheiro para bancar tratamento adequado, eles tampouco obtêm ajuda do Estado.
Diante da base de Guantánamo, com um megafone, Moore anuncia ao centro médico que trata "os terroristas da Al Qaeda" que estão ali "voluntários nos resgates do 11 de Setembro", necessitando cuidados.
A cena seguinte traz o grupo em Havana. "Sei o que vocês estão pensando. Cuba é onde vive Lúcifer [surge imagem de Fidel Castro]", diz a narração.

"Lado escuro"
Moore diz que "há alguma coisa essencialmente errada" na sociedade americana, que terá de "enfrentar seu lado escuro, se quiser ser melhor". O propósito de "Sicko", segundo ele, é interrogar: "Por que nos tornamos o que somos hoje?".
Embora preveja a "tempestade" de reações negativas ao seu país, Moore disse que os críticos que apontam imprecisões em seus filmes deveriam lhe "dar uma folga", considerando seus acertos anteriores.
"Há oito anos fiz um filme dizendo que a General Motors era um gigante prestes a cair ["Roger e Eu"], em "Tiros em Columbine", mostrei que, com a situação da venda de armas, os massacres nas escolas não iriam terminar e, tragicamente, eles continuam", disse.
Ao ser questionado pelo fato de não apresentar as falhas dos sistemas de saúde pública dos países estrangeiros (Canadá, França, Inglaterra, Cuba) na comparação com os EUA, afirmou: "Acho que o resto do mundo está um pouco cansado de ouvir os americanos dizendo a eles o que devem fazer".
Irônico, disse que "hoje existem uns 12 documentários" sobre ele "com títulos como "Michael e Eu", "Eu e Michael", "Moore Odeia a América", "A América Odeia Moore'".
E concluiu: "Estou pensando em patrocinar um festival de filmes anti-Michael Moore, com distribuição de prêmios".


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