São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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crítica

Diretor se reinventa e faz filme cativante

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

A primeira imagem de "Sicko" faz piada a partir de um discurso de George W. Bush. A última, igualmente cômica, também envolve a Casa Branca. Entre uma e outra, porém, Michael Moore se reinventa para além da trágica era Bush.
Em "Sicko", Moore aposenta o método confrontacionista de autoridades, públicas ou corporativas, que o celebrizou em "Roger e Eu" e "Fahrenheit - 11 de Setembro". Para mostrar a miséria do serviço de saúde pública dos EUA, o cineasta radicaliza sua faceta jornalística, apresentando casos reais de dramas médicos e viajando mundo afora para retratar modelos estatais de saúde em pleno funcionamento.
Vamos com "Sicko" ao Canadá, Reino Unido, França e, final e involuntariamente, a Cuba. Nesta última, o destino original era o impressionante centro médico da base americana de Guantánamo.
A intenção de Moore era levar até lá três adoentados trabalhadores, voluntários em resgate nos escombros do World Trade Center, e fixar o contraponto: o tratamento médico disponível para os pretensos membros da Al Qaeda seria muito melhor do que o oferecido pelos EUA aos heróis do 11 de Setembro.
A cena não se concretiza, e "Sicko" escorrega para a ingenuidade com uma estadia cinco estrelas para a câmera na Cuba de Fidel.
Muito mais focada é a radiografia da indústria de saúde nos EUA. "Sicko" ataca de frente as grandes corporações de seguro-saúde, alvejando no caminho a indústria farmacêutica e os políticos, republicanos ou democratas. Nixon substitui Bush como o perpetrador do pecado original, mas sobra até para Hillary Clinton.
Michael Moore sabiamente aparece menos e o faz de forma simpática e controlada. A farta utilização de material de arquivo, de dramas e telejornais americanos a musicais soviéticos, é certeira e hilária. Por vezes tocante, quase sempre convincente, "Sicko" é cativante -e urgente.


SICKO
Direção:
Michael Moore
Produção: EUA, 2007


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