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Alain Resnais exibe mais um "corpo estranho"
DA ENVIADA A CANNES
Quando o diretor Alain
Resnais, 86, exibiu em
Cannes "Hiroshima Meu
Amor", em 1959, os cineastas que constituíram
a nouvelle vague se interrogaram se aquele seria "o
primeiro filme moderno
do cinema falado", e Jean-Luc Godard pronunciou
uma de suas frases mais
ressonantes: "O travelling
[um movimento de câmera] é uma questão moral".
Esse episódio, relembrado no número que a revista "Cahiers du Cinéma"
dedica ao 62º Festival de
Cannes, rondou como um
fantasma a estreia, ontem,
de "Les Herbes Folles" (as
ervas daninhas), com o
qual Resnais concorre à
Palma de Ouro.
Mais uma vez, o cineasta
apresenta um "corpo estranho" no panorama da
produção cinematográfica
de seu tempo. "Les Herbes
Folles" seria uma comédia
romântica sobre os subterrâneos do desejo, se não
fosse um filme com a assinatura de Alain Resnais e,
portanto, inclassificável.
A história gira em torno
do roubo da bolsa de uma
mulher (Sabine Azéma). O
homem (André Dussol-lier) que a encontra e devolve se apaixona imediatamente pela vítima.
Casado, ele passa a escrever e telefonar para o
seu novo amor, como se
ambos já tivessem uma relação. As reações dela ao
afeto dele oscilam.
Confrontado com uma
pergunta sobre a eventual
possibilidade de "Les Herbes Folles" ser um sucesso
de público, Resnais disse:
"Minha maior preocupação sempre foi que o espectador fique feliz em sua
poltrona e não queira sair
da sala. Se eu soubesse que
haveria um número maior
de espectadores colocando a câmera um pouco
mais para a direita ou para
a esquerda, eu faria isso
imediatamente". Para
Resnais, o movimento da
câmera continua sendo
uma questão moral.
(SA)
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