|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVRO CRÍTICA
Maçã com vinho do Porto
da Redação
Entre vários outros critérios arbitrários, seria possível hoje em dia
separar os livros de receita em duas
grandes famílias. Numa delas o
que vale é o didatismo: muitas fotos, páginas arejadas, passo a passo
detalhando as passagens mais
complicadas, abolição de qualquer
ingrediente difícil de encontrar.
"O Livro das Frutas", de Jane
Grigson, lançado agora em português pela Companhia das Letras,
parece diametralmente oposto. É
sem dúvida um livro de receitas
-ao menos, elas abundam às centenas por todo o livro. Mas se trata
de um pesado calhamaço de quase
580 páginas, escrito em letras
cruelmente miúdas, e sem ao menos uma mísera ilustração que socorra o leitor que deseje ter uma
idéia mais imediata e precisa da cara de frutas como arbuto, cornisolo ou medronheiro.
Quem mergulhar na leitura dos
capítulos distribuídos em ordem
alfabética pelo nome das frutas logo perceberá que, embora recheado de receitas (muitas interessantíssimas), "O Livro das Frutas" insere-se menos entre os livros voltados à vida prática e mais no gênero
propriamente literário. Tanto que
não dá importância alguma ao fato
de que muitos leitores (o livro saiu
na Inglaterra em 1982) jamais viram ou verão muitas das frutas citadas -como admite sem remorsos que, em pelo menos um caso, o
da feijoa, a própria autora jamais
provou o objeto de seu estudo.
Por mais que cada fruta seja
exaustivamente descrita, e seguida
de muitas receitas, evidenciando
que Jane Grigson estudou a
fundo o tema,
o mais saboroso é percorrer
as linhas bem
escritas de um
texto fluido,
cheio de referências históricas, mas principalmente de
relatos de paixões pessoais.
E, para completar, Grigson dá
uma colher de chá aos apreciadores do vinho, reproduzindo resumidamente as opiniões de Edward
Bunyard sobre a combinação da
bebida com as frutas.
Damascos? Coma com Sauternes
ou Monbazillac. Figos, com xerez
ou Marsala ("Algumas gotas de um
deles introduzidas com um conta-gotas na fruta antes de servir irá
angariar muitos aplausos para o
cozinheiro", escreve Grigson).
Groselhas, com Mosela. Maçãs,
Porto seco ou xerez. Morangos
com clarete ou Beaujolais. Nectarinas e pêssegos, Borgonha ou Châteauneuf du Pape, ou champanhe.
Pêra, Pomerol, Saint-Émilion ou
Sauternes. Já cerejas ou laranjas,
melhor deixar sozinhas.
(JM)
Livro: O Livro das Frutas
Autora: Jane Grigson
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 38 (576 págs.)
Texto Anterior: Gastronomia: E o Oscar da Boa Mesa vai para... o palmito Próximo Texto: "Nhoque da Alegria" ajuda crianças Índice
|