São Paulo, Sexta-feira, 21 de Maio de 1999
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LIVRO CRÍTICA
Maçã com vinho do Porto

da Redação

Entre vários outros critérios arbitrários, seria possível hoje em dia separar os livros de receita em duas grandes famílias. Numa delas o que vale é o didatismo: muitas fotos, páginas arejadas, passo a passo detalhando as passagens mais complicadas, abolição de qualquer ingrediente difícil de encontrar.
"O Livro das Frutas", de Jane Grigson, lançado agora em português pela Companhia das Letras, parece diametralmente oposto. É sem dúvida um livro de receitas -ao menos, elas abundam às centenas por todo o livro. Mas se trata de um pesado calhamaço de quase 580 páginas, escrito em letras cruelmente miúdas, e sem ao menos uma mísera ilustração que socorra o leitor que deseje ter uma idéia mais imediata e precisa da cara de frutas como arbuto, cornisolo ou medronheiro.
Quem mergulhar na leitura dos capítulos distribuídos em ordem alfabética pelo nome das frutas logo perceberá que, embora recheado de receitas (muitas interessantíssimas), "O Livro das Frutas" insere-se menos entre os livros voltados à vida prática e mais no gênero propriamente literário. Tanto que não dá importância alguma ao fato de que muitos leitores (o livro saiu na Inglaterra em 1982) jamais viram ou verão muitas das frutas citadas -como admite sem remorsos que, em pelo menos um caso, o da feijoa, a própria autora jamais provou o objeto de seu estudo.
Por mais que cada fruta seja exaustivamente descrita, e seguida de muitas receitas, evidenciando que Jane Grigson estudou a fundo o tema, o mais saboroso é percorrer as linhas bem escritas de um texto fluido, cheio de referências históricas, mas principalmente de relatos de paixões pessoais.
E, para completar, Grigson dá uma colher de chá aos apreciadores do vinho, reproduzindo resumidamente as opiniões de Edward Bunyard sobre a combinação da bebida com as frutas.
Damascos? Coma com Sauternes ou Monbazillac. Figos, com xerez ou Marsala ("Algumas gotas de um deles introduzidas com um conta-gotas na fruta antes de servir irá angariar muitos aplausos para o cozinheiro", escreve Grigson).
Groselhas, com Mosela. Maçãs, Porto seco ou xerez. Morangos com clarete ou Beaujolais. Nectarinas e pêssegos, Borgonha ou Châteauneuf du Pape, ou champanhe. Pêra, Pomerol, Saint-Émilion ou Sauternes. Já cerejas ou laranjas, melhor deixar sozinhas. (JM)

Livro: O Livro das Frutas
Autora: Jane Grigson
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 38 (576 págs.)



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