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GASTRONOMIA
E o Oscar da Boa Mesa vai para... o palmito
NINA HORTA
Colunista da Folha
Engraçado. Neste ano a reunião
da Boa Mesa me surpreendeu pelo
número de estandes e de produtos
e pela animação nos corredores.
Antigamente, isto é, há três anos, o
foco estava nas aulas de culinária e
seus chefs cheios de estrelas. Passeava-se de quando em quando
pelo cenário quando os professores davam folga, para espiar as comidas e bebidas.
Pois não é que a coisa se inverteu? Parece que com todas as aulas
que recebemos
nos últimos anos
passamos a nos interessar por comidinhas jamais vistas, por um sem-fim de novidades,
desde o mais eficiente maçarico
para brûler nosso
creme até o uniforme mais adequado para o banquete que vamos
fazer... E casas para alugar toalhas,
pratos, talheres.
Tem de tudo. Não
dá tempo, passeando o dia inteiro,
de ficar sabendo de cada canto desta Boa Mesa.
Numa tarde esfomeada, minha
sócia e eu descobrimos o carinho
de dona Rosely, da Berna. Naquele
espaço, pouco maior que um caixote, ela se comporta como a rainha hospitaleira que é, e filamos
um almoço de terrinas, salsichas,
novidades, tudo aquecido na hora,
sabe lá Deus onde. Todos os produtos da Berna chefiados pela
grande mãe e pelos filhos eficientíssimos. Charcutaria das boas.
Agora, a melhor iguaria que se
apresentava na feira para degustação vocês não vão acreditar. O Oscar foi para... o nosso velho palmito de guerra, a pupunha. O estande
do rapaz, vulgo Rambo, era um sucesso estrondoso. Parecia um filme acelerado com o dono e o auxiliar picando, ralando, cortando,
temperando. O espanto foi o carpaccio de palmito cru com molho
pesto. Hum...
A Companhia das Ervas deslumbrou com suas pimentas e agora
tem até um belo livro sobre pimentas e ervas, vendido, por enquanto,
só por eles.
Já era hora do almoço, outro, no
dia seguinte. Não estava fácil, é
preciso confessar. Os sortudos que
entravam na Praça da Alimentação
podiam comer o que quisessem,
fazer seu menu degustação, servido pelos próprios donos dos restaurantes. Gostaria de ter provado
muito de tudo, mas a minha escolha foi uma brandade de bacalhau
sobre triângulos de polenta grelhada, do Locanda della Mimosa.
Continuei com um pato no tucupi,
que já conhecia e por isso precisei
comer de novo, do Lá em Casa, Belém do Pará. A língua adormecida
pelo jambu foi logo acesa pelo coelho assado com quirerinha do maravilhoso Boulevard, Paraná. A sobremesa vinha do Guimas, Rio de
Janeiro.
Grande Praça da Alimentação.
Muito do Brasil, e poucos e bons
imigrados.
Alegria tive, alegria mesmo, ao
saber que foi Benedita de Oliveira a
vencedora da semifinal do Bocuse
D'Or. Ora, Benê, parabéns. Bem sei
o que você gramou
e lutou para chegar
a isto, autodidata,
esforçada. A torcida para o Bocuse
do milênio vai estar a postos, prometemos.
Assisti de cabo a
rabo a uma conferência sobre os vinhos da Provença,
com palestra perfeita de um expositor cheio de humor. Dos vinhos
não falo porque não entendo, não é
meu ramo, não é meu forte. Estavam lá nossos grandes sommeliers, que deitaram verbo, sentiram
gosto de frutas secas, azeitonas, flores do campo, leve
odor de pêssegos
maduros, fogueiras apagadas, cominho selvagem
rasgando a terra e
até de uvas, se me
permitem. Espero
que Jezebel, a doce
Jezebel da Sopexa,
que me guiou por este caminho,
não tenha percebido a minha
afoiteza para que chegasse logo a
hora de beber os vinhos, que é
sempre o que me interessa nestes
eventos. Não fosse eu da família
Guimarães, de Alphonsus e outros, chamada, não sei por quais
más línguas em tempos antigos, de
família dos Guimarães do copo.
Teriam suas razões.
Já falei sobre a experimentação
do foie gras Ducs de Gascogne?
Achei que poderia também ter menos conversa sobre gansos e mais
fígado. Sinto dizer que não tenho
pena de ganso, em nenhum sentido.
Quem estava lá para dar aulas de
cozinha caipira era o famoso tropeiro Ocilio Ferraz, presidente da
Fundação Nacional do Tropeirismo. Perdi a aula, mas já comi da
comida. É das boas. Que vida, que
vida esta de repórter de Boa Mesa.
Existissem duas por ano eu sucumbiria... Trabalho penoso... Um
esforço infernal...
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