São Paulo, Sexta-feira, 21 de Maio de 1999
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NETVOX
Um dia o dicionário acaba

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

"Naquele tempo, quem quisesse podia registrar qualquer nome na Internet. Não havia falta de palavras, não era preciso subornar ninguém nem comprar domínios de atravessadores..." Essa é a história que os nossos netos vão contar para os netos deles quando o dicionário inteiro já tiver sido loteado entre milhares de endereços.
Talvez eles tenham que inventar palavras, mudar os sufixos, registrar domínios em outros países, quem sabe até usar aquele sistema de terminações que o Comitê Gestor da Internet inventou ("jor" para jornalista, "eng" para engenheiro e por aí vai).
Porque o dicionário um dia acaba... Mas não vai ser hoje nem amanhã. Pedi à empresa de consultoria Insite que testasse os domínios brasileiros, usando um dicionário de tamanho razoável. O resultado é que 9.267 palavras diferentes estão registradas aqui, entre substantivos, nomes próprios, verbos e suas flexões etc. São 4,11% do dicionário (de 225.426 palavras). Sobram, portanto, mais de 95%...
Mas as palavras do dicionário são uma parte muito pequena dos domínios brasileiros registrados na Fapesp. Muitos dos nomes registrados são palavras em inglês, nomes de empresas ou palavras inventadas.
O sufixo com.br, que concentra o maior número de domínios, tinha esta semana mais de 82 mil nomes registrados. O total, com os outros sufixos, era de pouco mais de 87 mil -7.000 destes foram registrados no mês passado!
Já os nomes próprios vão acabar logo: dos 616 que existem no dicionário, 255 (41,39%) já foram registrados. Entre eles, todos os nomes de Estados brasileiros -menos a Bahia, que por algum motivo foi reservada pelo Comitê Gestor e não pode ser registrada.
A maioria das partes do corpo (braços, pé, boca, mãos etc) também já foi registrada. Também foram registradas palavras genéricas de apelo mais fácil, como namoro, sexo, bate-papo, carro, notícia, TV, rádio etc. Mas poucos deles estão em uso. Boa parte delas foi registrada em 96 e 97 por gente que achou que poderia vendê-las com lucro no futuro, e, pelo jeito, ninguém ainda se interessou.
Hoje o registro é cheio de regras. Não se pode registrar substantivo plural, nem nome genérico, nem as misteriosas palavras "reservadas", como Bahia. As obscenas também estão de fora, embora muitas tenham sido tomadas antes do estabelecimento dessas regras. O dicionário é grande, mas, com o desconto das palavras "proibidas" e das que não interessam a ninguém, acaba não oferecendo tanta variedade assim (para saber quais palavras já foram registradas é possível pesquisar no endereço registro.fapesp.br).
A revista "Wired" fez a mesma pesquisa nos domínios norte-americanos. Encontrou mais de 23 mil palavras do dicionário registradas. Segundo a revista, o fato de tantas palavras estarem tomadas obriga as pessoas a acharem soluções diferentes. Algumas empresas chegam a mudar de nome, só para ter um domínio. Matrix.com, por exemplo, já tinha dono quando o filme estreou -o site ficou então com o endereço whatisthematrix.com.
A pesquisa da Insite foi além das palavras. Revela que São Paulo é a cidade que tem mais domínios registrados -mais de 50%. Logo atrás vêm Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Brasília.
Mas o resultado mais surpreendente da pesquisa é o tipo de servidores usados para a Internet no Brasil. A esmagadora maioria é Apache, um software gratuito, que está em mais de 60% dos computadores ligados à Internet. A Microsoft tem 29% dos servidores, e o resto é dividido entre outras marcas (outros resultados no www.insite.com.br/pesquisa).

E-mail: ercilia@folhasp.com.br

NOTAS


Máquinas
A Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor) está oferecendo 50 computadores IBM a instituições que tenham projetos de difusão do uso da Internet. Os critérios de escolha são os benefícios públicos que podem gerar condições técnicas para uso do equipamento e infra-estrutura de acesso à Web. Os pedidos serão julgados por conselhos da Rede Nacional de Pesquisa, Rits e entidades civis. Informações no www.rits.org.br.


Yahoo.br
Está marcada para o dia 1º de junho a estréia do Yahoo brasileiro.

Zines
O zine eletrônico "Uia" estréia com poesia e prosa independente, fotografia, ilustrações e uma novelinha (www.uia.com.br). A "Revista A", de Ronaldo Bressane, traz contos, poemas, artigos e entrevistas (www.revistaa.com.br).

Não tente essa em casa
"Matrix" é um dos filmes que já é possível copiar na Internet. Depois da pirataria de música, a próxima tinha de ser a de cinema. Só que essa é menos democrática -não dá nem para sonhar em copiar um filme em casa, por uma linha telefônica, e assistir no computador.


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