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NETVOX
Um dia o dicionário acaba
MARIA ERCILIA
Editora de Internet
"Naquele tempo, quem quisesse podia registrar qualquer
nome na Internet. Não havia
falta de palavras, não era preciso subornar ninguém nem
comprar domínios de atravessadores..." Essa é a história que
os nossos netos vão contar para
os netos deles quando o dicionário inteiro já tiver sido loteado entre milhares de endereços.
Talvez eles tenham que inventar palavras, mudar os sufixos, registrar domínios em outros países, quem sabe até usar
aquele sistema de terminações
que o Comitê Gestor da Internet inventou ("jor" para jornalista, "eng" para engenheiro e
por aí vai).
Porque o dicionário um dia
acaba... Mas não vai ser hoje
nem amanhã. Pedi à empresa
de consultoria Insite que testasse os domínios brasileiros,
usando um dicionário de tamanho razoável. O resultado é
que 9.267 palavras diferentes
estão registradas aqui, entre
substantivos, nomes próprios,
verbos e suas flexões etc. São
4,11% do dicionário (de
225.426 palavras). Sobram,
portanto, mais de 95%...
Mas as palavras do dicionário são uma parte muito pequena dos domínios brasileiros registrados na Fapesp. Muitos
dos nomes registrados são palavras em inglês, nomes de empresas ou palavras inventadas.
O sufixo com.br, que concentra o maior número de domínios, tinha esta semana mais
de 82 mil nomes registrados. O
total, com os outros sufixos, era
de pouco mais de 87 mil
-7.000 destes foram registrados no mês passado!
Já os nomes próprios vão acabar logo: dos 616 que existem
no dicionário, 255 (41,39%) já
foram registrados. Entre eles,
todos os nomes de Estados brasileiros -menos a Bahia, que
por algum motivo foi reservada
pelo Comitê Gestor e não pode
ser registrada.
A maioria das partes do corpo
(braços, pé, boca, mãos etc)
também já foi registrada. Também foram registradas palavras genéricas de apelo mais
fácil, como namoro, sexo, bate-papo, carro, notícia, TV, rádio
etc. Mas poucos deles estão em
uso. Boa parte delas foi registrada em 96 e 97 por gente que
achou que poderia vendê-las
com lucro no futuro, e, pelo jeito, ninguém ainda se interessou.
Hoje o registro é cheio de regras. Não se pode registrar
substantivo plural, nem nome
genérico, nem as misteriosas
palavras "reservadas", como
Bahia. As obscenas também estão de fora, embora muitas tenham sido tomadas antes do
estabelecimento dessas regras.
O dicionário é grande, mas,
com o desconto das palavras
"proibidas" e das que não interessam a ninguém, acaba não
oferecendo tanta variedade assim (para saber quais palavras
já foram registradas é possível
pesquisar no endereço registro.fapesp.br).
A revista "Wired" fez a mesma
pesquisa nos domínios norte-americanos. Encontrou mais de
23 mil palavras do dicionário
registradas. Segundo a revista, o
fato de tantas palavras estarem
tomadas obriga as pessoas a
acharem soluções diferentes. Algumas empresas chegam a mudar de nome, só para ter um domínio. Matrix.com, por exemplo, já tinha dono quando o filme estreou -o site ficou então
com o endereço whatisthematrix.com.
A pesquisa da Insite foi além
das palavras. Revela que São
Paulo é a cidade que tem mais
domínios registrados -mais de
50%. Logo atrás vêm Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Curitiba e Brasília.
Mas o resultado mais surpreendente da pesquisa é o tipo
de servidores usados para a Internet no Brasil. A esmagadora
maioria é Apache, um software
gratuito, que está em mais de
60% dos computadores ligados
à Internet. A Microsoft tem 29%
dos servidores, e o resto é dividido entre outras marcas (outros
resultados no www.insite.com.br/pesquisa).
E-mail: ercilia@folhasp.com.br
NOTAS
Máquinas
A Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor) está oferecendo 50 computadores IBM a instituições que tenham projetos de difusão do uso da Internet. Os critérios de escolha são os benefícios
públicos que podem gerar condições técnicas para uso do equipamento e infra-estrutura de acesso à
Web. Os pedidos serão julgados
por conselhos da Rede Nacional de
Pesquisa, Rits e entidades civis. Informações no www.rits.org.br.
Yahoo.br
Está marcada para o dia 1º de junho a estréia do Yahoo brasileiro.
Zines
O zine eletrônico "Uia" estréia
com poesia e prosa independente,
fotografia, ilustrações e uma novelinha (www.uia.com.br). A "Revista A", de Ronaldo Bressane, traz
contos, poemas, artigos e entrevistas (www.revistaa.com.br).
Não tente essa em casa
"Matrix" é um dos filmes que já é
possível copiar na Internet. Depois
da pirataria de música, a próxima
tinha de ser a de cinema. Só que essa é menos democrática -não dá
nem para sonhar em copiar um filme em casa, por uma linha telefônica, e assistir no computador.
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