São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Argentino e ex-proprietários da Miramax reúnem US$ 50 milhões; brasileiro será contemplado

Empresários criam fundo para cinema latino

Ana Carolina Fernandes - 12.jun.2000/Folha Imagem
Policial entrega celular para o seqüestrador Sandro do Nascimento, retratado no documentário "Ônibus 174", de José Padilha


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O sempre necessitado cinema latino-americano acaba de ganhar o maior fundo de sua história: US$ 50 milhões, ou R$ 112,50 milhões pela cotação da manhã de ontem. É uma iniciativa do argentino Eduardo Costantini Jr., administrador do Malba, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, que se associou aos irmãos Bob e Harvey Weinstein, ex-proprietários da Miramax. A meta é adquirir ou produzir 14 longas-metragens nos próximos três ou quatro anos, falados em espanhol, inglês ou português.
O fundo, administrado por Costantini, é formado ainda pelos investidores Kelly Park Argentina, a divisão local dos estúdios Kelly Park Film Village, da Nova Zelândia, e Banif Investment Banking, um banco de investimentos português com escritório em SP. Com a Costantini Films e a Weinstein Company, cada um tem uma participação similar no total.
Segundo analistas da indústria do entretenimento, o investimento terá um impacto sem precedentes na produção do continente, que gasta entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão em média na produção de um longa. A idéia é investir uma média de US$ 2,5 milhões por aquisição e entre US$ 4 milhões e US$ 10 milhões por produção. "Nossa intenção é ressaltar a importância do cinema latino-americano no mundo", disse à Folha, por telefone, Eduardo Costantini Jr..
O dinheiro bancaria 41 longas brasileiros; a produção nacional tem um custo médio de US$ 1,2 milhão, segundo dados de 2004 do Ministério da Cultura. Pois é justamente um longa brasileiro o primeiro a ser produzido: "Tropa de Elite", orçado em US$ 2,5 milhões, estréia na ficção do diretor José Padilha, autor do premiado documentário "Ônibus 174".
O filme, ainda em produção, com roteiro do próprio Padilha, mais Bráulio Mantovani ("Cidade de Deus") e o ex-capitão da PM Rodrigo Pimentel, é inspirado na vida do capitão da PM André Batista, que o escreveu o livro "Elite da Tropa" com Pimentel e o antropólogo Luiz Eduardo Soares e mostra a violência urbana do ponto de vista de policiais cariocas do Bope, o Batalhão de Operações Especiais.
Já o primeiro filme adquirido pelo fundo é o argentino "Crónica de una Fuga", thriller político dirigido por Adrián Caetano que foi exibido no último Festival de Cannes. "Agora, vamos viajar por todo o continente à procura de parcerias e de projetos que nos interessem", disse Costantini. "Algumas de nossas primeiras paradas são São Paulo e Rio."
Não é a primeira incursão dos irmãos Weinstein no cinema latino. Sua Miramax foi distribuidora ou co-produtora nos EUA do brasileiro "Cidade de Deus" (2002), da co-produção mexicana "Frida" (2002), do venezuelano "Secuestro Express" (2005), do mexicano "Como Água para Chocolate" (1992) e da co-produção cubana "Morango e Chocolate" (1994).

"Abaporu"
Nem Costantini Jr. pode ser considerado um neófito. Aos 30 anos, freqüentador do circuito dos festivais internacionais há três, onde conheceu a dupla de irmãos produtores, o argentino é diretor do renomado Malba. Ali, ganhou fama por criar uma elogiada cinemateca e transformar a sala de exibição do museu num espaço "cult", com ciclos de cineastas pouco exibidos ou não-comerciais, entre eles o brasileiro Glauber Rocha (1938-1981) -"Glauber Rocha: Del Hambre al Sueño" (da fome ao sonho) foi a primeira retrospectiva integral da obra do cineasta.
O argentino tem outra ligação com o Brasil. É filho do milionário Eduardo Costantini, dono da maior coleção privada de arte moderna latino-americana -causou espécie sua compra, em leilão da Christie's em 1995, do marco modernista "O Abaporu", óleo sobre tela de 1928 de Tarsila do Amaral, por US$ 1,4 milhão, maior valor alcançado por uma tela brasileira até então.


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