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Acre recebe artistas que estarão na Bienal de SP
Curadora diz que Estado é importante
para a "conceituação" do evento
Colombiano Alberto Baraya
vai trazer de Rio Branco obra
de 18 metros em forma de
seringueira para o Pavilhão
da Bienal, no Ibirapuera
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
Há seis semanas, uma cena
insólita chama a atenção dos visitantes do parque Capitão Ciríaco, em Rio Branco, capital do
Acre: o artista colombiano Alberto Baraya, trepado em andaimes, lambuza de látex uma
seringueira de 18 metros.
Em duas semanas, a borracha que envolve a árvore deverá
ser retirada, mantendo o formato da seringueira, e será
transportada para a 27ª Bienal
de São Paulo, para ser exibida a
partir de 7 de outubro, data da
abertura da exposição.
"Esse é um desenvolvimento
da série que denomino "Herbário de Plantas Artificiais". Até
agora, eu coletava flores de
plástico e as classificava, numa
paródia às expedições botânicas do século 17. Agora, é como
se eu conseguisse viabilizar algo que faltava a um colecionador, a própria árvore", conta
Baraya à Folha, no parque.
Para construir sua obra, o artista realiza um trabalho basicamente artesanal. Ele mesmo
compra o látex colhido logo cedo das seringueiras em Capixaba, uma vila a 80 km de Rio
Branco, e depois o leva para envolver a outra árvore, onde trabalha com dois assistentes, um
deles também seringueiro.
"Eu poderia ter feito essa
obra de maneira mais tecnológica, mas achei importante
construir uma árvore a partir
de seu próprio material, ainda
mais aquele que serve para
criar flores artificiais", explica
Baraya.
A idéia para o uso da borracha surgiu quando o artista
participava de uma expedição
pela Amazônia. "Fiquei fascinado por toda a história da borracha e, graças à residência,
posso desenvolver esse trabalho", conta Baraya.
Trocas
Num ateliê da recém-inaugurada Usina das Artes, um centro cultural construído numa
antigo engenho de manipulação de castanhas, o artista desenvolveu os protótipos para a
grande obra que virá para a Bienal. Lá, ele cria centenas de folhas de borracha que irão também compor a imensa seringueira, auxiliado pelo artista local Ueliton Santana.
"Esse intercâmbio é outro
dos objetivos das residências,
pois certamente a presença dos
artistas aqui em Rio Branco
deixará muitas sementes", afirma a curadora da 27ª Bienal, Lisette Lagnado.
Além da grande seringueira
de borracha, Baraya continua
recolhendo flores de plástico
para seu "Herbário" e também
fotografa a maneira como essas
plantas artificiais estão dispostas onde residem as pessoas da
cidade, como o fez quando
acompanhou Lagnado na visita
à casa de uma sobrinha de Hélio Melo (1926-2001), artista
que também toma parte da Bienal, e onde a curadora selecionou novas obras para a mostra.
O colombiano é um dos dez
selecionados para realizar uma
residência artística no país, um
dos três escolhidos para Rio
Branco. No último fim de semana, a curadora da Bienal, Lisette Lagnado, e o professor
Marcos Moraes, coordenador
do projeto das residências pela
Faap, parceira da iniciativa, estiveram no Acre para acompanhar o trabalho do artista.
Fronteiras
Desde que escolheu o Acre
como um dos temas da Bienal,
Lagnado não retornava ao Estado. "Essa viagem serviu para
confirmar a importância do
Acre na conceituação da Bienal,
pois esse é um local onde há
uma intensa discussão sobre
fronteiras", diz a curadora.
A fundação é também parceira da Bienal nas residências artísticas, sendo responsável pelo
apoio local aos artistas. "Não
temos palavras para agradecer
a visibilidade que um evento
como a Bienal proporcionará
ao Estado", diz Souza.
Também passaram por Rio
Branco as artistas Susan Turcot, do Canadá, e Marjetica
Portc, da Eslovênia. Ambas realizaram workshops na cidade.
"De modo surpreendente,
houve uma disputa pelo Acre.
Outros artistas quiseram vir
para cá e, curiosamente, ninguém pediu para ir ao Rio.
Quando soube do projeto, o artista grego Xagoraris Zafos, que
nem foi convidado a ser residente, veio para cá por sua própria conta", diz Lagnado. "Fiquei emocionada quando a Susan me escreveu e contou que
havia uma Susan antes de Rio
Branco e outra depois."
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