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TEATRO
Rússia é destaque na Quadrienal de Praga; Brasil não convence júri
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A PRAGA
Entre 55 países, Brasil e
Rússia coincidiram ao escolher dramaturgos de peso como eixo de suas exibições na
11ª Quadrienal de Praga (República Tcheca), que termina domingo. Na confluência
da palavra para o desenho de
cena, porém, Anton Tchecov
se saiu melhor que Nelson
Rodrigues, conforme o júri.
No início da semana, artistas da Rússia conquistaram o
troféu mais importante do
encontro, pelo tratamento
dado ao tema. Triunfaram
sobre o uso duvidoso de tecnologias e o pendor institucional de boa parte das representações nacionais.
Por 11 dias, estandes que
exibem a produção contemporânea em palcos e espaços
alternativos ocupam o salão
central do Palácio Industrial.
A PQ (sigla da Quadrienal)
nasceu há 40 anos sob influência da Bienal de Artes
de SP, que dedicava espaço
ao teatro. O encontro se propõe a incentivar a formação e
acolher tendências da criação e pesquisa em cenografia, figurinos e arquitetura e
tecnologia para teatro.
O estande brasileiro não
decepciona dentro do que se
propõe. A estrutura de ferro
em espiral, co-criação de Daniela Thomas, permite ao visitante experimentar ascensão e queda ao percorrer
imagens em vídeo e fotos de
montagens, pontuadas por
frases de Nelson Rodrigues.
O problema talvez seja esse: a palavra rouba a cena.
Não por acaso, o curador da
exibição brasileira, o ator
Antônio Grassi, distribuiu no
local 900 livros da edição inglesa do autor publicada pela
Funarte em 1998. O órgão do
MinC, que Grassi presidia
até 2006, investiu cerca de
R$ 800 mil. Foi a verba mais
robusta em participação brasileira. Desde 1967, nunca
tantos profissionais ou estudantes brasileiros foram a
Praga (cerca de 30), a maioria às próprias custas, em
busca de aperfeiçoamento.
Na seção de arquitetura e
tecnologia, tampouco a mostra com maquetes e desenhos de obras de Niemeyer,
"escondida" na ponta do espaço expositivo, convenceu o
júri. Aliás, não houve premiação em arquitetura.
Ao evocar Tchecov, a Rússia dá sentido orgânico à dramaturgia e ao espaço. Observada nos estandes da PQ, a
cenografia até pressupõe
certa autonomia, mas incorre em armadilha, posto que
só ganha "corpo" quando encontra o ator, a luz, o som etc.
O atual espírito pantanoso
da Rússia é esculpido em maquetes sobre pratos, cadeiras, gaiola; enfim, suportes
frágeis diante do peso da
existência. Goteiras, piso encharcado e botas de borracha
sugerem, quem sabe, o drama de um país em xeque.
O jornalista VALMIR SANTOS viajou a convite da Funarte/ MinC.
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