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Ponte-aérea gastronômica
Comparação mostra que preço cobrado por restaurantes paulistanos no Rio ou cariocas em São Paulo costuma ser maior
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os restaurantes são os mesmos e os cardápios quase idênticos, mas os preços cobrados
pelos estabelecimentos paulistanos no Rio ou cariocas em
São Paulo nem sempre batem.
A diferença, na maioria dos casos, não é significativa, mas há
pratos que variam mais de 20%
entre a matriz e a filial.
Nas duas primeiras semanas
de junho, a reportagem da Folha avaliou os cardápios e comparou o preço cobrado pelos
pratos mais conhecidos de sete
restaurantes presentes nas
duas cidades: Antiquarius, Gero, Forneria, Carlota, Nam
Thai, Bráz e Nakombi. À exceção dos dois últimos, que têm
os mesmos valores lá e cá, as
casas paulistanas cobram mais
em alguns pratos no Rio e as
cariocas têm custo mais elevado em São Paulo. Ou seja, a filial costuma ser mais cara que a
matriz. Segundo os proprietários, a variação deve-se a fatores como a diferença de custo e
oferta da matéria-prima, o aluguel e a carga tributária.
O tradicional arroz de pato
do Antiquarius custa R$ 71 na
matriz carioca e R$ 86 na filial
paulistana, uma diferença de
R$ 15 ou de 21%. A açorda de
bacalhau, que sai por R$ 79 no
Rio, também é mais cara em
São Paulo: R$ 86. "É um pouco
mais caro porque os custos em
São Paulo são diferentes. O piso salarial e a tributação são
maiores. Ajustamos à realidade", diz Thales Martins Filho,
proprietário do Antiquarius.
O mesmo aconteceu no Gero, que fez o caminho inverso
da ponte-área. Na matriz paulistana, a costeleta de vitela
custa R$ 61. No Rio, fica R$ 13
mais caro, diferença de 21%. A
massa recheada de abóbora
também é mais cara no Rio: R$
45. Em São Paulo sai por R$ 41.
"O Rio não tem a mesma disponibilidade de matéria-prima
que São Paulo. Muitas coisas
vão daqui para lá. E a locação
em Ipanema é quatro vezes
mais cara que em São Paulo.
Além disso, a competição em
São Paulo é bem maior, o que
faz com que os preços fiquem
mais baixos", diz o restaurateur Rogério Fasano, que, além
do Gero, inaugura em julho no
Rio o Fasano al Mare.
No Antiquarius e no Gero os
demais preços comparados pela reportagem foram iguais ou
variaram pouco. Na Forneria, a
variação foi pequena: de R$ 1 a
R$ 2 apenas. No Carlota, foi de
R$ 1 a R$ 4; no Nam Thai, de R$
2 a R$ 5.
"Se fôssemos levar a rigor, o
Rio deveria ter preços maiores
porque grande parte da matéria-prima está sendo comprada
em São Paulo, o que eleva o
custo. Mas diminuímos a margem de lucro para manter o
preço idêntico", diz Edgar Costa Bueno, sócio da pizzaria
Bráz, recém-aberta no Rio.
Ao gosto do cliente
Apesar de algumas diferenças nos preços, o que mais varia
de uma cidade para a outra é o
perfil ou os gostos da clientela.
David Zisman, chef e sócio do
Nam Thai, conta que seu restaurante em São Paulo é maior
do que o carioca por uma diferença de hábito das cidades.
"Eu não entendia por que os
restaurantes paulistanos eram
tão grandes, mas percebi que,
em São Paulo, o cliente chega
mais tarde, mas fica a noite toda. No Rio, tenho menos lugares, mas as pessoas ficam menos tempo e dá para atender
mais gente", diz.
Zisman afirma também que
teve de adaptar a carta de vinhos ao clima de cada cidade.
Além disso, diz que o paulistano faz mais questão de serviços
como o valet do que o carioca.
Na Bráz carioca, o consumo
de vinho chamou atenção. "É
três vezes maior do que em São
Paulo", diz Bueno. "Tenho algumas hipóteses: uma é que o
paulistano herdou o costume
de comer pizza bebendo cerveja dos italianos que vieram para
São Paulo. No Rio, acho que
chope é associado a boteco.
Quando o carioca vai ao restaurante, pede vinho, que tem um
apelo gastronômico."
No Nakombi, tradicional japonês paulistano recém-chegado ao Rio, os preços não variam,
diferentemente do gosto dos
públicos de uma cidade para a
outra. Cristina Piereck, gerente-geral da casa, conta que a filial carioca vende mais saladas
e grelhados do que a matriz
paulistana, enquanto, em São
Paulo, pratos quentes são mais
pedidos do que no Rio.
O Nakombi fica localizado,
no Rio, num quarteirão com
dois exemplos quase vizinhos
da invasão paulista da cidade. A
poucos passos do restaurante,
está a Bráz. Em ambos os casos,
acontece o mesmo fenômeno: a
novidade atraiu um público de
famosos para as casas e, especialmente no caso da Bráz, a espera na fila pode levar horas.
"Muitos cariocas que viajam
para São Paulo já conheciam a
Bráz ou já tinham ouvido falar.
Esperávamos muito movimento, mas superou as nossas expectativas", diz Eduardo Cunha, sócio da filial carioca.
Dos restaurantes comparados, o único cujo proprietário
não atendeu aos pedidos de entrevista -deixados nos restaurantes, no e-mail e no celular-
foi o Carlota, da chef Carla Pernambuco.
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