São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011

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Pedalar "é quase antidarwiniano", diz David Byrne

Atração da Flip, músico escocês vem ao Brasil falar sobre bicicleta e mobilidade urbana, seu tema da vez

Artista, que após evento participa de fórum em São Paulo, diz que não faz literatura e que só vai cantar no chuveiro

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

O David Byrne que vem para Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) só cantará no chuveiro. Quem diz é o próprio, em entrevista à Folha. Apesar de ser mais conhecido aqui por sua música, desde que liderou os Talking Heads nos 70/80, e por sua relação intensa com o Brasil (revigorou Tom Zé e Mutantes), o tema de sua nova visita é bicicleta, ou o seu espaço na cidade. Autor de "Diários de Bicicleta" (R$ 49, 336 págs.), lançado no Brasil no fim de 2009 pelo selo Amarilys, da Manole, o escocês radicado em Nova York, 59 anos, estará no último dia da Flip (10/7), em mesa com o urbanista Eduardo Vasconcellos. Dia 12, estará em São Paulo para discutir mobilidade urbana no Sesc Pinheiros. A morte do empresário atingido por um ônibus enquanto pedalava em São Paulo ocorreu após o envio das questões por escrito (foi encaminhada depois uma questão adicional, que Byrne não respondeu até ontem). Mas ele falou sobre a raiva descontrolada por trás de casos como o do motorista que atropelou um grupo de ciclistas em Porto Alegre. Disse que também se irrita com atitudes de ciclistas. "Mas nem por isso os atropelo!"

Folha - O título "Diários de Bicicleta" remete aos "Diários de Motocicleta" de Che Guevara. Cicloativismo é uma forma de guerrilha?
David Byrne - Tem um pouco de brincadeira -a bicicleta é bem menos macho que uma moto, mesmo uma caindo aos pedaços como a dele [Che]. Se é ativismo? Sim, da forma mais profunda. Para mim, é uma decisão silenciosa de ter uma vida mais humana diante de um mundo que frequentemente nos seduz com o oposto -progresso e novidade que temos de comprar. É também uma rejeição de status -o que torna isso quase antidarwiniano.

Como o cicloativismo pode mudar a realidade? É um pequeno passo. Como quem decide não comer carne em todas as refeições. Pequeno, mas funciona.

Na Flip, falará só de bicicleta ou haverá espaço para música e literatura? Pode cantar?
É meio inusual -não vou ler meu livro e hesito em chamá-lo de literatura-, mas deve haver debate e troca de ideias. Não é ruim misturar disciplinas, juntá-las um pouco. Não acho que vou cantar em nenhum momento, exceto no chuveiro.

Você viu o vídeo em que um motorista atropela um grupo de ciclistas em Porto Alegre? O que acha dessas coisas?
Eu vi. Também houve casos em que a polícia de NY tratou ciclistas assim. Há aí muita raiva. Eu mesmo me irrito com ciclistas que não param no sinal, que desrespeitam pedestres ou pedalam na mão errada. Mas nem por isso eu os atropelo!

Quais os seus atuais trabalhos artísticos?
Trabalho em outro livro, sobre música. Também numa espécie de musical sobre Imelda Marcos [ex-primeira-dama das Filipinas].

Que músicos brasileiros atuais lhe agradam?
Lenine, Tiê, Tulipa, Céu, Fino Coletivo, Cidadão Instigado... Gosto de muita coisa.

FOLHA.com
Leia a íntegra da entrevista
folha.com.br/il932380


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