São Paulo, sábado, 21 de julho de 2001

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DA RUA

Generosidade

FERNANDO BONASSI

Acordei cedo. Acordei fácil. Acordei puro. Abro portas e janelas. Deixo entrar esse ar viciado de sol e sirenes. Ponho-me à disposição. Ocupo-me dos outros desocupados. Sou enrolado, sugado e cuspido nas faces oferecidas. Dou esmolas que os santos desconfiam. Empresto sem esperar de volta. Agradeço a propaganda dos prédios em construção. Leio contratos às menores palavras. Acredito. Trato a sarna dos cachorros mais perdidos. Afago cabelos sujos e vaginas desesperadas. Faço o bem. Um sorriso de arrepiar. Sou capaz de qualquer sacrifício que não me valha nada. Que ninguém me agradeça. Não faço mais que uma obrigação. Daria tudo. Amaria qualquer coisa. Amaria qualquer um. Feito uma vadia. Feito Deus.



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