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MÚSICA
Produtor carioca apresenta hoje em São Paulo um projeto no qual os sons são criados a partir de jogo eletrônico portátil
Kassin mostra música feita com videogame
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com apenas 30 anos, o produtor carioca Alexandre Kassin já
conta com um dos mais respeitáveis currículos de nossa história
musical recente. Também instrumentista (toca guitarra, teclado,
bateria e especialmente baixo) e
autor de remixes, Kassin soma colaborações com músicos tão variados como Los Hermanos, Caetano Veloso, Marisa Monte, Fernanda Abreu, Lenine, Bebel Gilberto, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Orquestra Imperial e Jards Macalé. E são só alguns
exemplos.
Atualmente, entre tantos outros
planos, prepara-se para lançar o
disco de estréia de um novo projeto solo, chamado de Artificial, onde cria sons a partir do pequeno
videogame Game Boy. Com esse
projeto, vem hoje a São Paulo para um show no pequeno e disputado bar Milo Garage (r. Minas
Gerais, 203, Higienópolis, tel.0/
xx/11/3129-8027) -seu primeiro
show após voltar da Espanha, onde se apresentou no conceituado
festival Sónar, exatamente com o
Artificial. O disco será lançado no
começo do mês que vem pela gravadora de Kassin, a Ping Pong.
Ao lado do também produtor
Berna Ceppas, Kassin é dono do
estúdio Monaural, que produz,
além de discos, trilhas para publicidade, TV e cinema. Mas talvez
seu projeto mais consistente seja
ao lado dos músicos Moreno Veloso (filho de Caetano) e Domenico Lancelotti. Juntos, criaram o
projeto +2, onde revezam-se como protagonistas e coadjuvantes,
criando coletivamente os sons para as canções e voz de cada um.
Primeiro veio Moreno +2, depois
Domenico +2. O próximo será
Kassin +2, a ser lançado ainda
neste ano.
Leia, a seguir, entrevista com o
produtor Alexandre Kassin.
Folha - Como surgiu este projeto
de fazer música com videogame?
Alexandre Kassin - Eu fui fazer
uma viagem para o Japão um
tempo atrás com o plano de ficar
apenas um mês. Acabei ficando
seis. Nessa mesma época, eu tinha
comprado um programa que
acessa o chip de som do Game
Boy, como se fosse um sintetizador -um lance primitivo, mas
que funciona muito bem. Aí,
aconteceu que o único instrumento que levei na viagem foi esse
Game Boy. Como fiquei lá muito
mais tempo do que planejava, fui
fazendo o disco do Artificial. Criei
todos os sons de bateria eletrônica
e baixo com o Game Boy e coloquei uns acordes de teclado. Ficou
legal, mas não dava uma sensação
de algo que se pudesse ouvir muito. Então resolvi fazer um falso álbum pop, imaginei que ia ficar
mais do mal ainda se fosse cantado. Fiz umas letras estúpidas em
inglês e cantei tudo em falsete, tipo Prince. O som gera uma estranheza, mas ficou algo divertido,
interessante. Quando me apresentei no Sónar, foi uma loucura,
todo mundo dançou. Aí eu vi que
funciona.
Folha - Seus trabalhos são sempre variados entre si, você trabalha
com artistas de estilos diferentes.
Existe alguma preferência ou seleção?
Kassin - Isso é um reflexo do
meu próprio gosto. É claro que
tem coisas que eu gosto mais, mas
acho que escolhi trabalhar com
produção para não fazer a mesma
coisa todo dia. Gosto de coisas
distintas, até acho que faço pouco.
Queria produzir um disco de pagode, por exemplo, ia ser um
grande aprendizado. Adoraria
trabalhar também com funk carioca, com o DJ Marlboro, que é
amigo meu. O que me move é isso, conhecer coisas que não enfrentei antes. Produzir artistas como Caetano em um dia e Totonho
no outro é o que me dá vontade de
seguir fazendo.
Folha - Depois de Moreno +2 e
Domenico +2, como vai o Kassin
+2?
Kassin - O disco sai até o fim do
ano. Nós já gravamos baixo e bateria em todas as faixas, falta colocar as guitarras, as vozes e acrescentar outros detalhes. No meu
disco eu resolvi fazer uma coisa
ensaiada, queria que fosse a banda tocando, quente. Nos outros a
gente fez tudo praticamente no
estúdio, gravando. O disco segue
a linha do trio: os três são diferentes, mas são parecidos. As idéias
mudam, mas o jeito de a gente se
relacionar é o mesmo. Acho que a
nossa amizade transparece na
música.
Folha - E o que vem agora, depois
da conclusão da trilogia?
Kassin - A gente tem muito essa
dúvida também. Talvez a solução
seja seguir como apenas +2. Não
dá para voltar à trilogia do início
nem tocar as músicas só de um
-agora todo mundo já tem música nova, quem vai ao show quer
ouvir músicas de todos. Assim
continua sendo bem livre e continua sendo nosso.
Folha - Como aconteceu de trabalhar com Caetano Veloso e Jorge
Mautner? Como foi?
Kassin - O Caetano gostava muito da produção dos discos do Moreno e do Domenico, aí me chamou para produzir o disco dele
com o Mautner, "Eu Não Peço
Desculpa". Tanto que a banda
desse disco é quase a mesma dos
discos do +2. Eu e o Caetano nos
demos muito bem trabalhando
juntos, foi incrível. Ele tem aquela
visão de quem já fez muito, via
coisas que eu não via, foi uma
complementação boa. E eu estou
querendo agora fazer um disco
solo do Mautner. Eu já toco de vez
em quando com ele, ao vivo, ele
tem um monte de composições
boas. O cara é um grande mestre,
eu queria ser aluno em um colégio
em que ele fosse professor.
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