São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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OUTRA FREQUÊNCIA

Agora, Favela FM tem até entrevista com presidenciáveis

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A polêmica Favela FM é o tema do filme "Uma Onda no Ar", que estréia no dia 6 de setembro em São Paulo, trazendo de volta aos holofotes a discussão sobre estações ilegais.
Antes de mais nada, é bom que se diga: o longa, de Helvécio Ratton, é mais obrigatório a fãs de rádio do que a cinéfilos. Premiado em Gramado, na semana passada, não escapa de clichês. Mas isso, pelo menos aqui, é o de menos. O que importa é que lá está a história, em tom documental, de uma estação que irradiou seus primeiros sinais direto do Aglomerado da Serra, a maior favela de Belo Horizonte, no fim dos anos 70.
Em pleno regime militar, jovens tiraram do ar a "Voz do Brasil" para transmitir, ilegalmente, programas feitos por e para moradores da região.
O que torna a trajetória dessa rádio diferente da de tantas outras é que ela, apesar de ter sido fechada várias vezes, nunca saiu do ar definitivamente. E está entre as mais ouvidas da cidade. O filme termina contando que a Favela FM, reconhecida por seu trabalho social, recebeu em 2000 uma concessão de Pimenta da Veiga, então ministro das Comunicações.
É o fim do romance de Ratton, mas o início de um debate político, que Misael dos Santos, fundador da rádio, joga no ar.
Ponto um: "O governo só deu a concessão porque foi obrigado. A Justiça me condenou oito vezes. Viu que não adiantava e obrigou o governo a regularizar a rádio". E aí Pimenta da Veiga, que deu a Minas -seu reduto eleitoral- o maior número de concessão de rádios, subiu no morro, cercado pela imprensa, para entregar a autorização nas mãos de Santos.
Ponto dois: "Hoje temos verba do governo. Antes, o governo pagava anúncio num dia e mandava fechar a rádio no outro".
Ponto três: "Agora, todo mundo quer aparecer. Já marquei entrevista com os presidenciáveis. Minas é importante para ganhar a eleição, e ninguém ganha aqui se não passar pela Favela FM".
Ponto final: alguém tem alguma dúvida de que toda a discussão sobre rádio -favelas FMs, comunitárias, e seja o que Deus quiser- está, como sempre, a milhas das preocupações de qualquer um que assuma o governo?

Políticos desolados: Paulo Barboza, que comandava um dos palanques de maior audiência do dial, na Record AM, foi demitido. Um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus entrou em seu lugar. É mais uma demonstração dos rumos que a nova direção da Rede Record pretende dar. À rádio e à TV.

laura@folhasp.com.br



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