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Cartilha está a cargo de uma índia
DA REPORTAGEM LOCAL
Doutoranda em lingüística pela
Universidade Federal de Alagoas
e professora da Funai, Maria das
Dores de Oliveira pertence à etnia
indígena pancararú (do município de Tacaratú, Pernambuco).
Sua tese intitula-se "Descrição de
uma Língua Indígena Brasileira"
e tem ênfase na fonologia e gramática ofaié, com aplicação dos
resultados na educação escolar da
etnia. Leia a seguir a entrevista
que ela deu à Folha.
(ES)
Folha - De que consiste sua pesquisa?
Maria das Dores de Oliveira - Minha pesquisa está orientada para
duas perspectivas: uma puramente lingüística, que é verificar como
a língua está organizada internamente e descrever tal organização; outra, direcionada para aplicação dos resultados na educação
escolar dos ofaiés, com sugestões
de escrita da língua.
Folha - Quais são algumas peculiaridades da língua?
Maria das Dores - O ofaié não faz
a distinção morfológica entre presente, passado e futuro, como o
português, para termos um parâmetro de comparação. Assim, enquanto em português dizemos
"eu mato" e "eu matei", em ofaié
há apenas uma forma para os dois
tempos: "ta oketxi kãj". O falante
pode fazer a distinção, mas isso é
feito com advérbios e não mudando o verbo.
Folha - Quais as reais chances de
sobrevivência do ofaié?
Maria das Dores - Acredito ser
possível a revitalização da língua,
pois ainda existem falantes e há
um conjunto de situações que pode contribuir com seu fortalecimento. Como a atitude mais positiva dos falantes em relação à língua, ou seja, a vontade declarada
de que ela seja preservada. Para isso, um caminho é propor meios
de fazê-la ser utilizada mais intensamente e colocá-la na escola para
que as crianças compreendam
que a sua língua tem uma função
social na comunidade. Isso não
depende somente dos ofaiés. Eles
precisam do nosso apoio através
da pesquisa lingüística.
Folha - Como o fato da sra. também vir de uma comunidade indígena influencia sua pesquisa?
Maria das Dores - A minha condição étnica sempre pesa nas minhas decisões de atuação. Primeiro porque desde cedo aprendi que
se deve lutar contra uma série de
situações que tornam o índio invisível socialmente. Então, manter valores socioculturais é fortalecer a identidade e marcar nossa
existência enquanto povo distinto. A língua é um símbolo importante de identidade étnica dos
ofaiés. Por isso, eles não querem
perdê-la.
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