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"Novo disco é para tocar no churrasco", diz Jorge
Cantor faz lançamento independente e diz que "América Brasil" não busca rádios
Governo Lula é improvisado "como uma jam session", afirma músico, que aderiu ao "Cansei'; "Eu era isento, passei a ser participativo"
DA REPORTAGEM LOCAL
Seu Jorge define "América
Brasil", o álbum que está lançando em turnê, como "um disco doméstico, para tocar no
churrasco, no computador".
Embora seja um CD com
canções de fácil assimilação, ele
diz que "não é um disco de rádio, de night club, é para colocar no som e deixar tocando, se
convier. Não é necessariamente um trabalho que a gente vai
explorar comercialmente".
O disco vai ser lançado de
maneira "independente", nos
shows, para só depois contar
com a distribuição de uma
grande gravadora -que, aí sim,
deve escolher uma música de
trabalho para as rádios e colocar o CD nas lojas.
Seu Jorge se considera "uma
pessoa muito difícil" e diz não
estar "encaixado num esquema, num jogo". Mas ele está envolvido numa polêmica ligada
ao uso de sua imagem na publicidade da cachaça Sagatiba, para a qual compôs uma música,
incluída no CD.
O cantor fez um acordo comercial com a marca de bebida,
mas diz que não fez a música
por dinheiro... Por que teria feito, então? "Porque me pediram", responde. "Não ofereci
nada, me pediram uma canção.
Eu gravei essa versão e aí obviamente,
está na lei, pagaram
por isso, normal."
Mas o cantor não
nega o óbvio, que é
um contrato comercial. "Isso é negócio,
é business", diz, abusando das palavras
em inglês que
aprendeu lá fora.
É em inglês, aliás,
que planeja gravar
seu próximo CD.
Sem intenção de fincar os pés no samba-rock, ele pega o violão para mostrar as
músicas que já compôs. "É rock'n'roll."
O cantor desdenha da via-crúcis a
que os artistas costumam se submeter
na TV para lançarem seus trabalhos.
"Quando estou no Brasil,
quero ficar com minhas filhas.
Sair de casa para ficar um dia
inteiro num estúdio, falar umas
bobagens e aí entrar o último
eliminado do "Big Brother"...
nem é o que ganhou, não! Aí você se arrebenta. Eu evito esse
constrangimento."
Além do selo próprio, Seu
Jorge tem uma produtora, a
Cafuné, que administra a sua
carreira -fazendo de assessoria de imprensa a figurinos.
Só desligado das grandes empresas, afirma, poderia refazer
o CD três vezes, até ficar como
ele queria, e batalhar por um
custo mais baixo -um dos seus
planos é fazer uma promoção,
com discos a R$ 18.
Uma tentativa, também, de
evitar a pirataria, "implantada
no nosso povo". "Sou completamente a favor do compartilhamento [pela internet], mas
não da pirataria, que é caixa
dois."
"Você é jornalista, gosta de
música. Aí eu te dou o disco e
você faz uma cópia, dá para alguém. Isso é compartilhar. Outra coisa é você pegar o meu
disco e botar no camelô para revender, como fizeram com o
Bope [o filme "Tropa de Elite",
de José Padilha]. Um filme que
nem finalizado foi. E acontece
muito disso", reclama.
O cantor, aliás, diz que, graças a um amigo, "compartilhou" a cópia pirata de "Tropa
de Elite". Para ele, é o melhor
filme do cenário nacional atual.
Melhor que "Cidade de Deus"?
Ele hesita. "São dois
propósitos diferentes. O "Cidade..." é
lindo, maravilhoso.
Mas o Bope... eu
gosto muito, cara!
Wagner Moura,
Deus abençoe esse
homem. Maravilhoso, fantástico."
Seu Jorge torce
para que Moura seja, como ele mesmo
foi, "adotado" pelos
estrangeiros.
"Quando fui para o
Coachella [festival
de música na Califórnia], um diretor
foi conversar comigo e me perguntou
do Wagner, se ele
falava inglês. Eu
disse "Fala!". Nem
sei se fala [risos]!
"Fala pra burro!"."
Insatisfeito com a "estagnação" do Brasil, o cantor aderiu
ao "Cansei", movimento encabeçado pelo empresário João
Doria Jr. e que envolve nomes
como Hebe e Ivete Sangalo.
"Eu era isento, passei a ser
participativo. E o país não me
ajudou para isso não, cara. O
Brasil não me deu nada, não.
Pelo Brasil, eu tava na cadeia,
no subemprego, sacou? Então
cansei de tudo, qualquer coisa
que eu faça é R$ 100 mil, R$
300 mil de imposto que eu pago, com três irmãos desempregados."
E o que acha de o movimento
ser taxado de elitista? "Elite o
quê? Sou trabalhador, chego
juntinho com o fisco, não deixo
o leão sem o bife dele", afirma.
"Quando você anda dentro
do padrão, segura o "tchan" e vai
reclamar, dizem que é ser elitista. Por quê? Porque cumpre
suas obrigações, paga imposto,
pelo amor de Deus, isso é complexo de inferioridade. Daquele
cara que se sente mal quando
vê você ascender."
Seu Jorge diz precisar brigar
pela "cidadania" e desejar "o
desenvolvimento do Brasil, que
não cresce desde os anos 80".
Ele compara a administração
do PT "baseada no improviso",
a uma "jam session". "É
"freestyle total"."
(CRISTINA FIBE)
AMÉRICA BRASIL TOUR
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3188-4148)
Quanto: de R$ 80 a R$ 200
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