São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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"Novo disco é para tocar no churrasco", diz Jorge

Cantor faz lançamento independente e diz que "América Brasil" não busca rádios

Governo Lula é improvisado "como uma jam session", afirma músico, que aderiu ao "Cansei'; "Eu era isento, passei a ser participativo"

DA REPORTAGEM LOCAL

Seu Jorge define "América Brasil", o álbum que está lançando em turnê, como "um disco doméstico, para tocar no churrasco, no computador".
Embora seja um CD com canções de fácil assimilação, ele diz que "não é um disco de rádio, de night club, é para colocar no som e deixar tocando, se convier. Não é necessariamente um trabalho que a gente vai explorar comercialmente".
O disco vai ser lançado de maneira "independente", nos shows, para só depois contar com a distribuição de uma grande gravadora -que, aí sim, deve escolher uma música de trabalho para as rádios e colocar o CD nas lojas.
Seu Jorge se considera "uma pessoa muito difícil" e diz não estar "encaixado num esquema, num jogo". Mas ele está envolvido numa polêmica ligada ao uso de sua imagem na publicidade da cachaça Sagatiba, para a qual compôs uma música, incluída no CD.
O cantor fez um acordo comercial com a marca de bebida, mas diz que não fez a música por dinheiro... Por que teria feito, então? "Porque me pediram", responde. "Não ofereci nada, me pediram uma canção.
Eu gravei essa versão e aí obviamente, está na lei, pagaram por isso, normal."
Mas o cantor não nega o óbvio, que é um contrato comercial. "Isso é negócio, é business", diz, abusando das palavras em inglês que aprendeu lá fora.
É em inglês, aliás, que planeja gravar seu próximo CD.
Sem intenção de fincar os pés no samba-rock, ele pega o violão para mostrar as músicas que já compôs. "É rock'n'roll."
O cantor desdenha da via-crúcis a que os artistas costumam se submeter na TV para lançarem seus trabalhos.
"Quando estou no Brasil, quero ficar com minhas filhas. Sair de casa para ficar um dia inteiro num estúdio, falar umas bobagens e aí entrar o último eliminado do "Big Brother"... nem é o que ganhou, não! Aí você se arrebenta. Eu evito esse constrangimento."
Além do selo próprio, Seu Jorge tem uma produtora, a Cafuné, que administra a sua carreira -fazendo de assessoria de imprensa a figurinos.
Só desligado das grandes empresas, afirma, poderia refazer o CD três vezes, até ficar como ele queria, e batalhar por um custo mais baixo -um dos seus planos é fazer uma promoção, com discos a R$ 18.
Uma tentativa, também, de evitar a pirataria, "implantada no nosso povo". "Sou completamente a favor do compartilhamento [pela internet], mas não da pirataria, que é caixa dois."
"Você é jornalista, gosta de música. Aí eu te dou o disco e você faz uma cópia, dá para alguém. Isso é compartilhar. Outra coisa é você pegar o meu disco e botar no camelô para revender, como fizeram com o Bope [o filme "Tropa de Elite", de José Padilha]. Um filme que nem finalizado foi. E acontece muito disso", reclama.
O cantor, aliás, diz que, graças a um amigo, "compartilhou" a cópia pirata de "Tropa de Elite". Para ele, é o melhor filme do cenário nacional atual. Melhor que "Cidade de Deus"?
Ele hesita. "São dois propósitos diferentes. O "Cidade..." é lindo, maravilhoso.
Mas o Bope... eu gosto muito, cara!
Wagner Moura, Deus abençoe esse homem. Maravilhoso, fantástico."
Seu Jorge torce para que Moura seja, como ele mesmo foi, "adotado" pelos estrangeiros.
"Quando fui para o Coachella [festival de música na Califórnia], um diretor foi conversar comigo e me perguntou do Wagner, se ele falava inglês. Eu disse "Fala!". Nem sei se fala [risos]! "Fala pra burro!"."
Insatisfeito com a "estagnação" do Brasil, o cantor aderiu ao "Cansei", movimento encabeçado pelo empresário João Doria Jr. e que envolve nomes como Hebe e Ivete Sangalo. "Eu era isento, passei a ser participativo. E o país não me ajudou para isso não, cara. O Brasil não me deu nada, não.
Pelo Brasil, eu tava na cadeia, no subemprego, sacou? Então cansei de tudo, qualquer coisa que eu faça é R$ 100 mil, R$ 300 mil de imposto que eu pago, com três irmãos desempregados."
E o que acha de o movimento ser taxado de elitista? "Elite o quê? Sou trabalhador, chego juntinho com o fisco, não deixo o leão sem o bife dele", afirma.
"Quando você anda dentro do padrão, segura o "tchan" e vai reclamar, dizem que é ser elitista. Por quê? Porque cumpre suas obrigações, paga imposto, pelo amor de Deus, isso é complexo de inferioridade. Daquele cara que se sente mal quando vê você ascender."
Seu Jorge diz precisar brigar pela "cidadania" e desejar "o desenvolvimento do Brasil, que não cresce desde os anos 80".
Ele compara a administração do PT "baseada no improviso", a uma "jam session". "É "freestyle total"." (CRISTINA FIBE)


AMÉRICA BRASIL TOUR
Quando:
hoje e amanhã, às 22h
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, São Paulo, tel. 0/xx/11/3188-4148)
Quanto: de R$ 80 a R$ 200


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