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Filme será crítico, mas não político, diz diretor
Foco na polícia será maior na conduta após a morte de Jean Charles do que no crime
Para Goldman, viés político exigiria olhar anterior para a polícia brasileira, mais "truculenta'; acobertamento foi o mais grave, avalia
DE LONDRES
O filme sobre a vida e a morte
de Jean Charles de Menezes será crítico com a polícia londrina, mas não será "político". Baseados em Londres há anos, os
dois roteiristas, Henrique
Goldman (que também é o diretor) e Marcelo Starobinas, fazem a mesma comparação: em
relação à polícia brasileira, a
britânica ainda é exemplar.
"É a história da morte de um
emigrante, triste, mas é um filme "life-affirming", pra cima.
Não é um filme político. A polícia fez uma cagada, fez merda e
tal. Mas, se fôssemos fazer um
filme político, teríamos de
olhar antes para a nossa própria polícia, que é muito pior",
diz Goldman. "A esperança
nossa é fazer uma coisa que toque as pessoas. A idéia é fazer
um filme popular", completa.
O foco na questão policial,
afirma Starobinas, será muito
mais na atuação da polícia nos
momentos que se seguiram à
morte. "A polícia daqui não é
truculenta que nem a polícia no
Brasil. É uma outra polícia.
Quando a gente compara com
esses caras do Brasil, eles aqui
são umas moças. Mais do que a
morte do Jean Charles, a gente
vai criticar o cover-up [o acobertamento que se seguiu a
ela]", diz ele.
A polícia londrina levantou
uma série de suspeitas sobre
Jean Charles e escondeu o erro
crasso mesmo quando já sabia
que havia matado um inocente.
Ele foi confundido com um dos
terroristas que no dia anterior
tinha lançado um ataque suicida fracassado em Londres.
Duas semanas antes, quatro
atentados simultâneos haviam
deixado 52 mortos em três
pontos do metrô e em um ônibus. "O erro da morte é horrível, um absurdo. Mas não pode
tirar do contexto, naquele dia
havia quatro homens-bomba
soltos. Eles estavam em uma situação crítica."
Nenhum dos policiais envolvidos foi julgado, mas a polícia
teve de pagar ao governo uma
multa de 175 mil libras (em torno de R$ 525 mil) por colocar a
vida da população em risco (veja o desenrolar do caso no quadro ao lado).
Londres e Paulínia
A cena da morte foi gravada
numa parte abandonada da estação do metrô de Charing
Cross, comumente cedida para
as autoridades britânicas para a
filmagem de cenas em que o
metrô londrino é retratado.
Ao todo, foram cinco semanas de filmagens no Reino Unido -ainda será feita mais uma
semana no Brasil, em Paulínia
(SP), que vai servir de cenário
para Gonzaga (MG), cidade natal de Jean Charles.
Até agora não houve nenhum
problema com o governo ou a
polícia, mas o histórico turbulento do filme levou a produção
a adotar cautela. Em 2006, a rede estatal britânica BBC cancelou a produção do longa. Na
época, Goldman disse que o
problema aconteceu porque ele
queria fazer um filme sob o
ponto de vista brasileiro, e eles,
com a visão inglesa.
"Eles queriam focar nas mazelas policiais, e eu estava interessado no aspecto brasileiro
do caso", afirmou, então. "Não
houve censura."
No mês passado, estreou em
Londres um filme baseado no
assassinato de Jean Charles,
com foco na atuação da polícia,
chamado "Shoot on Sight" (algo como "atire no ato"). Mas,
em um movimento simplista, a
vítima inocente é um muçulmano, do sul da Ásia. "É um crime ser muçulmano?", questiona a voz no trailer do filme.
(PEDRO DIAS LEITE)
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