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Médici e Scapin recriam "Irma Vap"
Dupla substitui Marco Nanini e Ney Latorraca, protagonistas da montagem original, comédia de sucesso nos anos 80 e 90
Marília Pêra volta a dirigir
peça inglesa em que dois
atores interpretam oito
personagens; nova versão
estréia nesta quinta em SP
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em entrevista à Folha em
2006, ao comentar uma possível remontagem de "O Mistério de Irma Vap", um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, Marília Pêra, diretora da
original, disse não saber "que
atores teriam o fôlego para
cento e tantas trocas de roupa".
Pois agora apareceram: Marcelo Médici (de "Cada Um com
Seus Pobrema") e Cássio Scapin (de "Quando Nietzsche
Chorou") reprisam, a partir da
próxima quinta, no teatro do
shopping Frei Caneca, em São
Paulo, a aeróbica cênica que
consagrou Marco Nanini e Ney
Latorraca 20 anos atrás.
Novamente sob direção de
Marília, a peça do norte-americano Charles Ludlam (1943-1987) acompanha a difícil
adaptação de Lady Enid à vida
no castelo do novo marido,
Lord Edgard, nos confins da
Inglaterra. Ali, será perseguida
pelo fantasma da primeira mulher dele e atazanada por uma
governanta sinistra.
No palco, o entra-e-sai (por
três portas) e as mudanças alucinadas de figurino são fruto da
desproporção entre personagens (oito) e atores (dois).
Ainda que reverentes à encenação, os intérpretes de agora
não temem comparações. "Vou
ser sincero: tenho grande admiração pelo Ney e pelo Nanini. Mas, se tivesse medo, não
faria. Estou supertranqüilo.
O máximo que pode acontecer é
dizerem que o Nanini era melhor. E aí vou achar ótimo, porque ser pior do que o Nanini,
tudo bem, né?!", diz Médici.
Para Scapin, mais importante do que inspirar paralelos
com a primeira montagem é levar a história às "gerações que
não viram, sabem de ouvir falar
ou lembram só das roupas".
Ele acha que "Irma" mantém o
frescor, duas décadas depois,
por causa do "jogo dos atores,
que independe de períodos históricos e modismos": "É um
texto de puro entretenimento,
uma diversão, uma fábula não
localizada numa região, num
grupo social. É uma historinha
de terror-humor confortável".
Filme não é "Irma Vap"
Médici situa a peça (escrita
em 1984, montada aqui em
1986) em relação à dramaturgia
que se destacava à época no
Brasil: "Não desmerecendo,
pois era genial, mas acho o besteirol do [grupo carioca] Asdrúbal [Trouxe o Trombone] mais
anos 80, localizado, quase um
teatro de Ipanema".
O desempenho abaixo do esperado nas bilheterias (cerca
de 300 mil ingressos) do filme
inspirado na peça, "Irma Vap: O
Retorno" (2006), não é um indicador de que a trama pode,
afinal, ter ficado datada? "O filme é diferente, outro roteiro.
Gosto, acho que o Nanini e o
Ney estão impagáveis. Mas não
é a história de "Irma Vap". É metalinguagem em cima do sucesso que fez o espetáculo", observa Médici, "gongado" (termo
dele) em teste para a película.
Talvez porque não o viram
imitar Marília Pêra no show de
esquetes "Terça Insana":
"Até Prêmio Coca-Cola [de
teatro infantil] eu já apresentei
de Marília. Morria de medo de
conhecê-la. É minha atriz predileta, uma referência de gerações. Na primeira reunião para
a peça, antes de entrar, dei cinco voltas no quarteirão e fumei
16 cigarros.
Nos ensaios, tive de
fazer um trabalho muito grande para relaxar. É como aquela
transa com que você sonha a vida inteira e, na hora, tem de tomar cuidado para não brochar."
O MISTÉRIO DE IRMA VAP
Quando: qui. e sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h; até 7/12
Onde: Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/3472-2229)
Quanto: de R$ 60 a R$ 70
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 10 anos
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