São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Médici e Scapin recriam "Irma Vap"

Dupla substitui Marco Nanini e Ney Latorraca, protagonistas da montagem original, comédia de sucesso nos anos 80 e 90

Marília Pêra volta a dirigir peça inglesa em que dois atores interpretam oito personagens; nova versão estréia nesta quinta em SP

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em entrevista à Folha em 2006, ao comentar uma possível remontagem de "O Mistério de Irma Vap", um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, Marília Pêra, diretora da original, disse não saber "que atores teriam o fôlego para cento e tantas trocas de roupa". Pois agora apareceram: Marcelo Médici (de "Cada Um com Seus Pobrema") e Cássio Scapin (de "Quando Nietzsche Chorou") reprisam, a partir da próxima quinta, no teatro do shopping Frei Caneca, em São Paulo, a aeróbica cênica que consagrou Marco Nanini e Ney Latorraca 20 anos atrás.
Novamente sob direção de Marília, a peça do norte-americano Charles Ludlam (1943-1987) acompanha a difícil adaptação de Lady Enid à vida no castelo do novo marido, Lord Edgard, nos confins da Inglaterra. Ali, será perseguida pelo fantasma da primeira mulher dele e atazanada por uma governanta sinistra. No palco, o entra-e-sai (por três portas) e as mudanças alucinadas de figurino são fruto da desproporção entre personagens (oito) e atores (dois). Ainda que reverentes à encenação, os intérpretes de agora não temem comparações. "Vou ser sincero: tenho grande admiração pelo Ney e pelo Nanini. Mas, se tivesse medo, não faria. Estou supertranqüilo.
O máximo que pode acontecer é dizerem que o Nanini era melhor. E aí vou achar ótimo, porque ser pior do que o Nanini, tudo bem, né?!", diz Médici. Para Scapin, mais importante do que inspirar paralelos com a primeira montagem é levar a história às "gerações que não viram, sabem de ouvir falar ou lembram só das roupas".
Ele acha que "Irma" mantém o frescor, duas décadas depois, por causa do "jogo dos atores, que independe de períodos históricos e modismos": "É um texto de puro entretenimento, uma diversão, uma fábula não localizada numa região, num grupo social. É uma historinha de terror-humor confortável".

Filme não é "Irma Vap"
Médici situa a peça (escrita em 1984, montada aqui em 1986) em relação à dramaturgia que se destacava à época no Brasil: "Não desmerecendo, pois era genial, mas acho o besteirol do [grupo carioca] Asdrúbal [Trouxe o Trombone] mais anos 80, localizado, quase um teatro de Ipanema". O desempenho abaixo do esperado nas bilheterias (cerca de 300 mil ingressos) do filme inspirado na peça, "Irma Vap: O Retorno" (2006), não é um indicador de que a trama pode, afinal, ter ficado datada? "O filme é diferente, outro roteiro.
Gosto, acho que o Nanini e o Ney estão impagáveis. Mas não é a história de "Irma Vap". É metalinguagem em cima do sucesso que fez o espetáculo", observa Médici, "gongado" (termo dele) em teste para a película. Talvez porque não o viram imitar Marília Pêra no show de esquetes "Terça Insana": "Até Prêmio Coca-Cola [de teatro infantil] eu já apresentei de Marília. Morria de medo de conhecê-la. É minha atriz predileta, uma referência de gerações. Na primeira reunião para a peça, antes de entrar, dei cinco voltas no quarteirão e fumei 16 cigarros.
Nos ensaios, tive de fazer um trabalho muito grande para relaxar. É como aquela transa com que você sonha a vida inteira e, na hora, tem de tomar cuidado para não brochar."


O MISTÉRIO DE IRMA VAP
Quando: qui. e sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h; até 7/12
Onde: Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/3472-2229)
Quanto: de R$ 60 a R$ 70
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 10 anos



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