|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Paulo Autran celebra seus 50 anos no palco
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
A menos de dois meses de atingir 50 anos da estréia como ator,
seu meio século de carreira, Paulo
Autran vai ganhando ares -até
entonação- de mestre.
Ele segue em cartaz. Hoje mesmo faz uma apresentação de
"Quadrante", seu "show", como
descreve. Também está distante
de esquecer os velhos antagonismos de celebridade no teatro,
com rivais como Walmor Chagas
e até Sérgio Cardoso, como se
percebe em poucos minutos de
conversa.
Mas é o mestre, o professor, que
se vê mais ultimamente, inclusive
ao representar "Quadrante".
Ao ensaiar Bete Coelho no monólogo "Pai", anteontem à tarde,
ou ao conversar com Ariclê Perez
depois de se apresentar no Sesc
Ipiranga, à noite, o ator de 77
anos, completados no dia 7 de setembro, vai distribuindo experiência, temperança -e um fascínio perene pelo palco.
Diz ele, sobre dirigir "Pai", que
estréia mês que vem: "Eu adoro
dirigir o ator. Gosto de ver o personagem surgindo. Sou um diretor de ator, não de espetáculo".
Em "Quadrante", as suas primeiras frases, tiradas da peça "Liberdade, Liberdade": "Sou um homem de teatro. Sempre fui, sempre serei um homem de teatro".
Um homem de teatro que surgiu no dia 13 de dezembro de
1949, a estréia como profissional
ao lado de Tônia Carrero, em
"Um Deus Dormiu lá em Casa", e
que uma semana depois ganhou
prêmio de melhor ator do ano.
Sobre a estréia, o ator relata em
"Um Homem no Palco", livro-entrevista que Autran lançou para
marcar o cinquentenário: "Fiquei
completamente idiota, convencido. Eu achava que, por um acaso,
tinha nascido outro Laurence Olivier no Brasil, e esse Laurence Olivier era eu".
Achava -e moldou muito de
sua carreira à imagem de Olivier,
firmando o mito aos poucos.
Fez seguidos papéis shakespearianos, de Otelo ao rei Lear, mas
deixou escapar Hamlet, objeto do
desejo de todo ator. "Quando eu
quis, já tinha passado da idade",
disse ele ao jornal, sem pesar, mas
questionando a atenção exagerada à idade, no Brasil. "Se eu fizesse, seria um escândalo."
"Um Homem no Palco", o livro-entrevista do crítico Alberto
Guzik, é a consagração do Laurence Olivier brasileiro. Acompanha a vida de Paulo Autran com
uma distância respeitosa, cuidando de não entrar em fatos da intimidade ou simplesmente polêmicos, da carreira.
Da avaliação do TBC como revolucionário ao questionamento
renitente da telenovela, o livro
traz pouca novidade em comparação a depoimentos anteriores
do ator, como em "Atrás da Máscara", também de entrevistas, de
Simon Khoury (ed. Civilização
Brasileira, 83).
Mas a edição é sóbria, com revisão cuidadosa, fotos bem reproduzidas, em papel cuchê, como
fez por merecer o mito sancionado.
Para conhecer o ator, o melhor é
ir ao teatro. "Quadrante", que faz
hoje à noite a última de suas três
apresentações no Sesc Ipiranga,
em São Paulo, e que está sempre
voltando ao cartaz, traz interpretações virtuosísticas de poesia e
prosa, ainda que com certa auto-ironia de Autran.
Nada contra poesia e prosa no
palco, mas é na cena teatral final
que se dá o deslumbramento, em
"Quadrante". O próprio ator fez a
edição de "Meu Tio o Iauaretê",
cortando trechos, mas mantendo
o que o crítico Leo Gilson Ribeiro
chama adequadamente de monólogo -e não novela.
Como em Guimarães Rosa, o
homem-onça se revela aos poucos, pelas palavras, mas aqui também pelo olhar cada vez mais crispado, pelos gestos, pela ameaça
selvagem e pelo medo. É aterrorizante, irracional: faz lembrar, em
plano diverso, a atuação como
Porfírio Diaz, em "Terra em
Transe".
Um Paulo Autran mais acessível e afeito à lenda pode ser encontrado no CD de poemas de
Carlos Drummond de Andrade
que o ator lança dia 27, em São
Paulo. Entre os poemas estão alguns dos mais conhecidos de
Drummond, como "Quadrilha",
"Poema de Sete Faces" e "José".
A interpretação é inesperadamente menos virtuosística do que
nos poemas de "Quadrante". Autran revela as palavras de Drummond sem excessos emocionais,
como que seguindo um conselho
do poeta, em "Procura da Poesia",
que está no CD: "não dramatizes".
Espetáculo: Quadrante
Concepção e direção: Paulo Autran
Quando: hoje, às 21h
Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822,
São Paulo, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quanto: R$ 5 e R$ 10
Avaliação:
Disco: Carlos Drummond de Andrade
por Paulo Autran
Gravadora: Luz da Cidade
Lançamento: dia 27, a partir das 19h30,
na Fnac (av. Pedroso de Morais, 858, São
Paulo, tel. 0/xx/11/867-0022)
Quanto: entre R$ 16 e R$ 18
Avaliação:
Livro: Um Homem no Palco
Autor: Alberto Guzik
Editora: Boitempo (tel. 0/xx/11/3865-6947)
Quanto: R$ 28 (208 págs.)
Avaliação:
Texto Anterior: Televisão: Cultura reexibe programas sobre o compositor Cartola Próximo Texto: Parlapatões brincam com a pornografia em nova montagem Índice
|