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MOSTRA DE CINEMA "MENTIRAS"
Coreano traz sexo como diferença e libertação
BRUNO GARCEZ
da Redação
Tapas, gritos de dor, sessões de
açoitamento, porretadas. É essa a
rotina do casal de amantes retratado em "Mentiras", que a Mostra
exibe hoje em São Paulo. Mas que
ninguém se engane. Trata-se de
uma história de amor.
Mas de um amor levado ao seu
limite, sem qualquer glamour
hollywoodiano. Do tipo que faria
a cena da manteiga de Marlon
Brando com Maria Schneider em
"O Último Tango em Paris" parecer brincadeira de médico.
Segundo seu realizador, Jang
Sun Woo, o filme é "uma história
sobre a vida e o amor. Embora o
amor nem sempre seja espetacular". Definição precisa. Os amantes de "Mentiras" são pessoas como outras quaisquer, mas que se
entregam de forma incomum.
A fim de realçar a idéia de que
estamos diante de pessoas banais
não nos é dada sequer a chance de
saber seus nomes, só as iniciais. A
estudante de 18 anos é Y. O escultor vinte anos mais velho é J.
O rumo que o amor de Y e J toma nada tem, no entanto, de banal. No início, limitam-se ao sexo,
digamos, convencional. Logo
passam para jogos eróticos que
envolvem o autoflagelo e a humilhação, auxiliados por acessórios
como varas de bambu e chicotes.
O sexo passa a ocupar suas vidas em tempo integral. J abandona seu lar e sua família. Y larga o
colégio. O pouco dinheiro que
lhes sobra serve para financiar
uma verdadeira turnê pelos motéis da Coréia do Sul. Tentam
romper com qualquer laço social,
mas cedo descobrem que tal empreitada é inviável.
"Mentiras" não deve ser tomado por pornográfico. É mais pudico, por exemplo, do que "O Império dos Sentidos", de Nagisa Oshima, ou "Romance" de Catherine
Breillat, uma vez que as cenas de
sexo são simuladas e, por vezes,
até filmadas como se fossem um
videoclipe.
Nada que justifique as críticas
de católicos quando da exibição
do filme no Festival de Veneza
deste ano ou a reação da censura
sul-coreana, que vetou a exibição
da obra em seu país de origem.
Em "Mentiras", o sexo surge como uma desesperada tentativa de
fugir de uma cultura repressiva.
Um grito em favor da individualidade, como bem sintetiza Y na cena em que se nega a assinar um
manifesto político: "Eu seria apenas mais uma em 1 milhão".
Avaliação:
Filme: Mentiras
Título original: Gojitmal
Direção: Jang Sun Woo
Produção: Coréia do Sul, 1999, 102 min
Com: Kim Tae Yeon e Lee Sang Hyun
Quando: hoje, às 13h55, no Unibanco
Outras exibições na mostra: dia 28
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