São Paulo, Quinta-feira, 21 de Outubro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Artista apresenta hoje na galeria São Paulo trabalhos realizados a partir de 1997
Eduardo Sued coloca as cores no lugar

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Na juventude de seus 74 anos, o artista plástico carioca Eduardo Sued, pintor "reconstrutivo", como ele prefere ser chamado, volta hoje à cidade para exibir, na galeria São Paulo, suas criações, produzidas a partir de 1997.
As pinturas de Sued possuem uma composição bastante simples, em que um campo cromático bem determinado é envolvido por outro, de cor ou textura diferentes, criando assim um espaço de fruição dentro da própria tela.
Ao contrapor, por exemplo, uma superfície fosca a uma mais brilhante ou de cor diferente, o artista cria um espaço para a abstração do espectador.
"Meus trabalhos desejam representar uma paisagem. Trata-se de uma figura figurante, pois não tem uma representação objetiva, mas interior", disse Sued.
Nessa mostra, destacam-se composições verticais, que alteram a percepção do espectador, já que ele as encara de maneira mais direta e imediata.
"Sempre senti a necessidade de reproduzir a mesma estrutura, mas de maneira desigual, com diferenças acentuadas pelas cores, relevos e texturas. Essas formas que uso hoje são decorrentes de estruturas anteriores, que foram decantadas", explica Sued, que herdou sua afeição às formas rígidas de seu interesse por matemática (ele estudou engenharia, antes de optar pela pintura).
São, em sua maioria, estruturas retangulares, nas quais define seus campos monocromáticos. É como se as bandeirinhas de Volpi fossem substituídas por portas e janelas em que o espectador deve mergulhar para provar uma experiência lúdica e de êxtase.
As cores pulsam nos trabalhos de Sued, com sua textura, luminosidade, profundidade, volume e tensão com o espaço.
As combinações entre dourado e magenta, negro e roxo ou azul e negro, por exemplo, reproduzem ainda a configuração tradicional de um quadro, com se a tela fosse delimitada por uma moldura de cor. "Tenho uma formação clássica e por isso me preocupo com a composição e com as cores", disse o artista.
Há também um retorno do artista ao dourado, cor com a qual havia ensaiado anos atrás. "Há um ano retomei o dourado. Achei que já estava sabendo usá-lo. Ele encontrou o seu lugar e passou então a fazer parte do quadro", disse.
Alguns de seus novos trabalhos dourados são ainda enriquecidos com furos que retomam a preocupação do artista com a profundidade do trabalho.
Os trabalhos lembram as experiências carregadas de misticismo do mexicano Mathias Goeritz e suas "Mensagens Metacromáticas", em que o artista perfurou com pregos lâminas de ouro, cobre ou ferro (alusão aos estigmas de Cristo).
Sued apresenta ainda nessa mostra colagens pouco ortodoxas, com tiras e recortes de papel pintados colados parcialmente sobre outras folhas de papel, estratégia usada para acentuar a profundidade perseguida pelo artista.
Eduardo Sued, um dos maiores artistas brasileiros vivos, já participou da Bienal de Veneza e de duas Bienais de São Paulo. Em 1997, foi um dos três vencedores da primeira edição do prêmio Johnnie Walker de artes plásticas.


Mostra: Eduardo Sued (pinturas, colagens e uma instalação) Onde: galeria São Paulo (r. Estados Unidos, 1.456, Jardins, tel. 0/xx/11/852-8855)
Vernissage: hoje, às 21h Quando: de segunda a sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 19h Quanto: R$ 6.000 (altura mais largura)


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