|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SHOW/CRÍTICA
Jô transfere
seu humor
para o jazz
EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos
Saiu no lucro quem foi ver Jô
Soares e Sexteto Onze e Meia,
anteontem, no Bourbon Street.
O show, que se repete hoje, é
mais do que uma passarela para que o apresentador, humorista, poliglota e escritor revele
ao público outros talentos. Há
momentos de boa música.
Bom humor. Esse é o segredo
da receita que fez a apresentação dar certo. E a diversão não
se deu apenas no domínio que
Jô tem no uso espirituoso das
palavras e expressões faciais.
Musicalmente, esse humor
foi traduzido em citações divertidas nos solos. O primeiro
exemplo saiu do trompete de
Jô, que inseriu a "Marselhesa"
(hino nacional francês) no
meio da languidez safada do
blues "Makin" Whoopee".
O segundo -e mais surpreendente- exemplo saiu
das mãos do guitarrista Tomati, que arranjou um jeito de citar "Tico-Tico no Fubá" sobre
uma versão de "Caravan".
Tomati responde por outro
momento de ousadia musical.
Com a guitarra plugada a um
pedal de wah-wah, ele dá um
toque soul a "St. James Infirmary", um blues ortodoxo.
Se não é brilhante como cantor e trompetista, Jô não atrapalha. Com seu trompete, ele
ajuda o Sexteto a apresentar os
temas e faz solos pautados por
notas longas. Assim, ele deixa
as manobras arriscadas a cargo
dos outros músicos.
Nas canções com melodias
mais bem definidas e que pedem voz miúda -como
"Summertime" e "Let's Get
Lost"-, Jô revela ser um ouvinte atento e simula -sem o
mesmo alcance, é claro- a sutileza do canto de Chet Baker.
Isso não se dá na espinhosa
"Stormy Monday", que tem
uma melodia mais aberta e que
exige muita técnica de quem se
mete a preencher os espaços no
arranjo. No bongô, o humorista mostra ser capaz de arriscar
umas firulas sem deixar a peteca do andamento cair.
Os demais músicos -Derico
(sax e flauta), Chiquinho
(trompete e flugelhorn), Osmar (piano), Bira (baixo) e Miltinho (bateria)- garantem a
solidez dos arranjos.
Por fim, a pergunta. Jô Soares
é músico de verdade? A resposta é não. Mas é fato que ele
transformou o Bourbon Street
em um grande box de banheiro. E todos se deliciaram.
Avaliação:
Show: Jô Soares e Sexteto Onze e
Meia
Quando: hoje, às 21h30
Onde: Bourbon Street Music Club (r.
dos Chanés, 127, tel. 5561-1643)
Quanto: R$ 30
Texto Anterior: Artes Plásticas: Eduardo Sued coloca as cores no lugar Próximo Texto: Contardo Calligaris: O amor dos pais não é panacéia Índice
|