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CINEMA
Longa-metragem "O Amor e Outros Objetos Pontiagudos" adapta conto do escritor Marçal Aquino ambientado em hidrelétrica
Beto Brant filma a paixão antes do dilúvio
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O próximo filme de Beto Brant
(o diretor de "Os Matadores" e
"Ação entre Amigos") será uma
adaptação do conto "Sete Epitáfios para uma Dama Branca", de
Marçal Aquino.
Mas o nome do filme não será
esse, e sim "O Amor e Outros Objetos Pontiagudos", título do livro
em que está o conto, e que chega
às livrarias esta semana (leia abaixo).
A história se passa à beira de um
grande rio no interior do país, onde a construção de uma barragem
vai inundar uma enorme área de
matas e aldeias indígenas.
Nessa paisagem em transformação desenvolve-se um triângulo amoroso entre personagens
vindos de longe. A mulher do engenheiro-chefe da obra envolve-se com um geólogo, subordinado
do marido. No conto, a história é
narrada em primeira pessoa pelo
geólogo.
"O que me interessou de imediato nessa narrativa foi imaginar
aqueles três personagens urbanos
deslocados naquela paisagem estranha, e a leitura que cada um
deles faz daquele lugar", diz
Brant, que abandonou um projeto de longa-metragem em andamento, "O Invasor", quando leu,
em primeira mão, o conto de
Marçal Aquino.
"O Invasor" seria, basicamente,
uma história de traição e assassinato entre sócios de uma empresa
que tem negócios escusos com o
governo.
"Percebi de repente que "O Invasor" seria muito próximo de
meus filmes anteriores. Ao ler o
conto do Marçal, vislumbrei a
possibilidade de mudar de registro", afirma Brant.
De sua parte, Marçal Aquino diz
ter se surpreendido com a decisão
do amigo cineasta.
"Para mim, era o menos cinematográfico dos textos do livro",
afirma o escritor.
"Se eu fosse cineasta, teria escolhido uma das outras histórias,
que têm ações expressas, ao passo
que nesse conto o que há é uma
atmosfera. Existe nele um discurso subjetivo muito forte, que torna difícil pensá-lo em termos de
imagem."
De divergências como essa é
que se nutre a parceria entre
Brant e Aquino, iniciada quando
o cineasta escolheu o conto "Os
Matadores", do livro "Miss Danubio" (1994), para servir de base a
seu primeiro longa-metragem.
Marçal Aquino colaborou no
roteiro de "Os Matadores" e no
do longa seguinte de Brant, "Ação
entre Amigos", baseado também
numa história original sua (uma
novela que não chegou a ser concluída).
Os dois costumam trabalhar os
roteiros com um terceiro parceiro, Renato Ciasca, que será também co-produtor de "O Amor e
Outros Objetos Pontiagudos", ao
lado de Bianca Vilar.
Embora Brant, 35, só tenha conhecido Aquino, 41, em 1991,
quando se interessou em transformar em curta-metragem um
dos contos do livro "Fome de Setembro" (projeto que acabou não
vingando), uma curiosa coincidência já havia prenunciado o encontro dos dois.
Em 1989, o diretor filmou seu
premiado curta "Dov'è Meneghetti" em Amparo (SP), cidade
em que Aquino nasceu e viveu até
os 27 anos.
"Eu soube que tinha um cara fazendo um filme na cidade, mas
não sabia que era o Beto", lembra
Aquino.
Embora reconheça que o hábito
de ver filmes exerceu grande influência sobre sua literatura, o autor diz que nunca escreve pensando em cinema. "Minha abordagem é essencialmente literária.
Nunca penso em meus textos como embriões de filmes."
Gente perturbada
Assim como Beto Brant sobrevive profissionalmente dirigindo
comerciais, Marçal Aquino também vive de seu texto, mas não de
sua literatura. Trabalha com jornalismo, publicidade e marketing. Sempre escrevendo.
O trabalho de repórter policial,
que exerceu nos anos 80 no "Jornal da Tarde", deixou duas heranças à literatura de Aquino: a concisão e a predileção por personagens marginais e situações-limite.
"Gente perturbada é sempre interessante. São pessoas que parecem sempre estar à beira de alguma coisa", define.
"O Amor e Outros Objetos Pontiagudos" deverá ser filmado no
próximo ano. A primeira versão
do roteiro está pronta. Beto Brant
está agora à procura do local ideal
para filmar.
"Estamos pesquisando vários
lugares em que estão sendo construídas hidrelétricas. O local é
muito importante em meus filmes. Em "Os Matadores", eu trouxe para dentro do filme a festa do
peão do boiadeiro, o comércio da
fronteira. No "Ação entre Amigos", incorporei a briga de galos.
Só vou saber a cara de "O Amor..."
quando chegar na locação e começar a filmar."
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