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A LENDA DE RITA
Filme ilumina a onda terrorista na Alemanha
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O capital inventou o terrorismo a fim de ser melhor protegido", dizia o comissário de polícia de "A Terceira Geração", filme em que Fassbinder furava, no final da década, a onda
terrorista revolucionária que sacudira a Alemanha dos anos 70. É
um ponto de vista semelhante que
encontraremos num personagem
de "A Lenda de Rita": "o terrorismo reforça as defesas da burguesia". Mas o diretor, Volker
Schlöndorff, contemporâneo de
Fassbinder, está atrasado.
Passaram-se mais de duas décadas e o cineasta continua fazendo
o papel do revisionista da geração. O problema em "A Lenda de
Rita", no entanto, não é o distanciamento histórico.
Retomemos as palavras do tal
personagem, um dirigente da
Alemanha Oriental, pois elas parecem corresponder à visão que
Schlöndorff guarda de seus personagens: o terrorismo é um rumo temerário, mas como deixar
de simpatizar com todo romantismo dos terroristas da esquerda?
É assim que o governo da Alemanha Oriental decide proteger o
grupo terrorista de Rita Vogt, foragido da parte ocidental do país.
Eis a maior diferença entre o grupo de Rita e os grupos revolucionários brasileiros da mesma época: ter um outro governo na retaguarda. Muito mais fácil passar
para a clandestinidade quando se
conta com a ajuda de um serviço
de inteligência. A luta, no entanto,
era a mesma. Afinal, como dizia
Rita, a política, nos anos 70, era a
mesma guerra por todo o mundo.
Eram todos grupos de jovens
romântico-revolucionários lutando inutilmente por um "povo que
faltava". Mas Shlöndorff é um diretor frio demais para conseguir
retratar o paroxismo utópico de
70. Ele não chega ao centro do turbilhão emocional de seus personagens. Permanece sempre à distância.
De início, o diretor se ampara
na ação. O estado emocional dos
personagens é apenas uma inferência, assim como a qualidade de
suas inter-relações. A estrutura
do roteiro, no entanto, parte do
pressuposto de que os personagens e, com eles, os espectadores,
tenham atingindo tamanha tensão psicológica de início, que todo
o resto (isto é, a clandestinidade,
"a vida proletária" de Rita) não
possa ser sentido senão com um
certo alívio, como uma espécie de
sobrevida da personagem que é
pura fruição existencial.
Tarde demais: Schlöndorff já terá errado a mão e só lhe restará levar com dignidade o seu trabalho
até o fim. Ainda assim, trata-se de
seu melhor filme nos últimos
anos. Uma direção muito técnica
e conscienciosa, mas também, e
consequentemente, muito fria para um tema assim tão quente.
(TIAGO MATA MACHADO)
A Lenda de Rita
Die Stille nach dem Schuss
Direção: Volker Schlöndorff
Produção: Alemanha, 1999
Com: Bibiana Beglau e Martin Wuttke
Quando: hoje, às 14h20 (Cinearte);
amanhã, às 14h (Espaço Unibanco)
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