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26ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP
Mexicano põe homem frente à sua destruição
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Para contar a história de um homem que quer se destruir, o mexicano Carlos Reygadas, 31, levou-o, caminhando, até o alto de um
canyon. Isolou-o e expôs suas fraquezas a agentes da natureza, o
vento, a chuva, a fome, a sede.
Também deu-lhe o abrigo de uma
velha senhora, e, assim, selou seu
caminho rumo à ruína.
"Japón", filme de estréia de Reygadas, além do nome inusitado
(não há nenhuma relação entre a
trama e o Japão) também surpreende nos desfechos. A relação
entre homem e mulher idosa
principia como a de um patrão e
um empregado, evolui para a de
mãe e filho e culmina na transformação de ambos em amantes.
"Quando os dois se encontram,
o homem está confundido. Acredita querer uma coisa, e, na realidade, quer outra -o que é, em
maior ou menor medida, algo comum a todos os homens. Quanto
à mulher, ela é alguém que aceitou o tempo. Mais do que aceitar a
destruição, ela percebe o fim de
um ciclo natural e um cumprimento dos objetivos vitais. Por isso aceita fazer sexo quando ele a
convida", disse Reygadas à Folha.
Premiado no festival de Cannes,
Reygadas chegou a ser comparado pela crítica européia a Andrei
Tarkovsky (1932-1986), a quem
admira. "Há coisas em meu filme
que querem se parecer a esboços
de Tarkovsky. Mas ele criou um
universo a que sempre foi fiel,
diante do qual manteve um gosto
peculiar e que se sustentava em
uma concepção filosófica profunda e coerente. Eu me limito a fazer
"travellings" sobre paredes rugosas, não chego nem a seus pés."
"Japón" é a mais nova sensação
do cinema mexicano. Este, por
sua vez, virou moda nos EUA e na
Europa. Na carona do sucesso recente de "Amores Brutos" (Alejandro González Iñárritu, 2000) e
"E Sua Mãe Também" (Alfonso
Cuarón, 2001), os cineastas mexicanos têm recebido aplausos nos
festivais e retorno nas bilheterias.
A revista inglesa "The Economist" chamou a atenção para a
"onda mexicana", em artigo recente intitulado "The mexicans
are coming!" (os mexicanos estão
chegando!). Na primeira quinzena de novembro estréia em 50 salas norte-americanas o polêmico
"El Crímen del Padre Amaro", de
Carlos Carrera, baseado em romance de Eça de Queiroz.
Reygadas comenta o bom momento do cinema latino-americano em geral: "As pessoas da minha idade, que nasceram na América Latina, têm passado -no
melhor dos casos- a metade das
vidas em tempos de crise. Pode
ser que estejamos fartos de tudo,
dos produtores de sempre, dos
roteiros de sempre e das famílias
de sempre. Quando estamos fartos, queremos gritar e o grito sai
assim. Cada vez há mais expressão individual e menos fórmula.
Acho que isso define essa nova
onda de criadores", conclui.
Sobre a temática da nova geração, o cineasta diz: "Jamais penso
em um sentido antropológico. Esta é uma das características do
que distingue o cinema atual do
que se vem fazendo na América
Latina há anos. O cinema do passado levava o "sociológico" ao extremo e assim se fazia cinema étnico. É verdade que o protagonista do filme é um ocidental mexicano e os outros são não-ocidentais mexicanos. Mas assim é o México e eu nunca pretendi fazer
uma tese antropológica."
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