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CRÍTICA
"Japón" atrai pelo mistério
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
"Para baixo , para baixo,
para baixo": é o périplo de
uma alma às voltas com suas profundezas que antevemos no eterno declive do caminho do protagonista no início de "Japón".
A uma das caronas que lhe pergunta o que fará lá embaixo, o estranho coxo andarilho responde
secamente: "Vou me matar".
Um homem e seu mistério: é tudo o que precisa o diretor estreante Carlos Reygadas para nos enredar em seu território. Depois, o
contato com os homens, o frescor
documental das hesitações dos
atores não-profissionais diante da
câmera não chegam a dissipar a
angústia desse primeiro instante.
Essa angústia se dissemina frente ao distanciamento que o forasteiro se impõe, à constatação de
que o convívio não lhe é possível.
Sua dor não o deixa, mas, aos
poucos, a pulsão de morte do personagem entra numa estranha
dialética com a vida do vale.
A síntese, Reygadas encontra no
desejo, na história da relação entre o forasteiro suicida e a viúva
septuagenária que o abriga num
casebre. Mais do que uma perversão buñuelesca tardia, o desejo do
suicida pela velha religiosa revela-se aqui uma bela, ainda que atroz,
manifestação da vida.
Japón
Direção: Carlos Reygadas
Produção: México/Espanha, 2002
Quando: hoje, às 15h55, no Cinesesc;
dia 24, às 20h20, no Cineclube DirecTV;
dia 25, às 15h50, no Cinesesc, e dia 27, às
21h, na Sala Cinemateca
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