São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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CRÍTICA

"Japón" atrai pelo mistério

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

"Para baixo , para baixo, para baixo": é o périplo de uma alma às voltas com suas profundezas que antevemos no eterno declive do caminho do protagonista no início de "Japón".
A uma das caronas que lhe pergunta o que fará lá embaixo, o estranho coxo andarilho responde secamente: "Vou me matar".
Um homem e seu mistério: é tudo o que precisa o diretor estreante Carlos Reygadas para nos enredar em seu território. Depois, o contato com os homens, o frescor documental das hesitações dos atores não-profissionais diante da câmera não chegam a dissipar a angústia desse primeiro instante.
Essa angústia se dissemina frente ao distanciamento que o forasteiro se impõe, à constatação de que o convívio não lhe é possível.
Sua dor não o deixa, mas, aos poucos, a pulsão de morte do personagem entra numa estranha dialética com a vida do vale.
A síntese, Reygadas encontra no desejo, na história da relação entre o forasteiro suicida e a viúva septuagenária que o abriga num casebre. Mais do que uma perversão buñuelesca tardia, o desejo do suicida pela velha religiosa revela-se aqui uma bela, ainda que atroz, manifestação da vida.


Japón
    
Direção: Carlos Reygadas
Produção: México/Espanha, 2002
Quando: hoje, às 15h55, no Cinesesc; dia 24, às 20h20, no Cineclube DirecTV; dia 25, às 15h50, no Cinesesc, e dia 27, às 21h, na Sala Cinemateca



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