|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Aquele Querido Mês de Agosto"
Realismo poético embala filme vibrante
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Difícil esperar novidades do batido terreno
da fronteira entre documentário e ficção. Mas
"Aquele Querido Mês de Agosto" é um genuíno sopro de vento fresco em campo saturado.
O filme é tão estimulante que
já colocou o nome de seu diretor, o português Miguel Gomes,
entre os que têm seus próximos
trabalhos ansiosamente aguardados por cinéfilos.
Gomes se insere em uma tradição do cinema português
(que teria, hoje, Pedro Costa
como seu maior expoente),
confirmando a vocação do país
para produzir um cinema pequeno, porém vibrante. O diretor e sua equipe se instalaram
nas montanhas portuguesas e
captaram vários depoimentos e
imagens documentais. Mais
tarde, voltaram à região -também num agosto- e realizaram
uma ficção.
O mais interessante está na
maneira como o filme articula
essas duas "partes". Gomes faz
isso sem nunca clamar pelo
"efeito de realidade" do cinema. Tudo aqui adquire um tom
fabular, ainda que realista. A
música tem uma importância
ímpar. O registro de um festival
de canções populares faz a ponte entre documental e ficcional.
Volta e meia, diretor e equipe
entram em cena, representando a si próprios, em esquetes
cômicos. Há estranheza, mas
não quebra, pois Gomes logra
uma unidade de tom e ritmo.
Gomes trabalha no terreno
do realismo poético de Rossellini e outros, que conseguem
respeitar a certa "vocação" realista do cinema com um olhar
muito próprio e rico. É tão visível a entrega e a alegria daqueles que estão participando da
experiência que contamina o
espectador. Uma felicidade.
AQUELE QUERIDO MÊS
DE AGOSTO
Quando: hoje, às 21h20, no Unibanco
Arteplex 4; amanhã, às 17h, no Cine
Olido; quinta, às 16h30, na Cinemateca
(sala Petrobras); dia 29, às 17h50, no
Unibanco Arteplex 4
Classificação: não indicado a menores
de 12 anos
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Lanterninhas Próximo Texto: Os destaques da mostra hoje Índice
|