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ANÁLISE
Muita discussão e... "até o próximo incêndio?"
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na madrugada do dia 8 de julho de 1978, a quase totalidade
do acervo do Museu de Arte
Moderna do Rio foi consumida
por um incêndio. Pinturas de
Di Cavalcanti, Portinari e Ivan
Serpa viraram cinzas ao lado de
obras de Picasso, Miró, Dalí,
Magritte e do grande artista
uruguaio Joaquín Torres-García -que figurava numa ampla
exposição no museu e teve a
maior parte de sua obra destruída pelo fogo.
O incêndio no MAM foi um
trauma, uma espécie de chacina cultural ocorrida numa instituição criada para evitá-la.
Num lance de trágica ironia, alguns anos depois ardeu o apartamento de Niomar Moniz Sodré, fundadora do museu. Desapareceram obras de Mondrian, Chagall e Volpi, entre outros artistas da coleção.
Incêndios nunca mais? Bem,
há poucos anos o curador Paulo
Herkenhoff deixou a direção do
Museu de Belas Artes depois de
denunciar riscos de incêndio. E
sexta-feira, foi a vez de Hélio
Oiticica. Culpa da família? Culpa do poder público?
É fácil sair atirando na hora
da fúria -e não é de todo mal
que se atire, mesmo com a
chance de errar o alvo. A energia da revolta ajuda a criar movimento. O risco é conhecido:
indignação nos botequins, discussões na imprensa, promessas de autoridades e... "nos vemos no próximo incêndio?".
Seria desejável que essa tragédia ajudasse a transferir para
o plano das medidas práticas a
reflexão sobre o papel dos museus de arte no Brasil já elaborada por críticos e curadores
como Paulo Sergio Duarte e o
próprio Herkenhoff.
O sistema de instituições é irracional, invertebrado e pobre,
embora no meio artístico circule bastante dinheiro. Abrem-se
centros culturais como lanchonetes, empresas bancam mostras com renúncia fiscal, mas os
museus vivem com pires na
mão. Alguns deles nem sequer
possuem acervos próprios
-apenas coleções particulares
em regime de comodato. Aliás,
é preciso pagar para expor em
instituições como o Masp ou o
MAM-Rio. Essa é a realidade.
A produção de arte se expande e os problemas vão se avolumando. Já é hora de criar meios
para financiar e qualificar essas
instituições -e o que é básico:
fazer da aquisição de acervos
uma rotina cultural no país.
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