São Paulo, quarta, 21 de outubro de 1998

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LITERATURA
Escritor lança segundo volume de coleção sobre pecados capitais
Torero usa guerra para falar da ira em seu livro

Fabiano Accorsi/Folha Imagem
José Roberto Torero, que lança "Xadrez, Truco e Outras Guerras"


MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

O escritor e cineasta José Roberto Torero, 34, articulista da Folha, é o autor do segundo volume da coleção "Plenos Pecados", da editora Objetiva -uma série de sete livros sobre os pecados capitais.
Zuenir Ventura foi quem abriu a coleção. Seu livro "Mal Secreto" é sobre a inveja. Entre os inéditos, Luís Fernando Veríssimo escreve sobre a gula, João Ubaldo Ribeiro escolheu a luxúria, João Gilberto Noll, a preguiça, o argentino Tomás Eloy Martinez, a soberba, e o chileno Ariel Dorfman, a avareza.
O pecado de Torero é a ira. "Xadrez, Truco e Outras Guerras" é inspirado na Guerra do Paraguai (1865-1870), talvez o maior conflito armado em que o Brasil esteve envolvido no continente.
Não é o primeiro romance histórico de Torero. Em 1994, ele lançou "O Chalaça", que narra os bastidores da corte brasileira. Em 1997, publicou "Terra Papagalli", sobre um marinheiro que aportou no Brasil com Pedro Álvares Cabral. Ambos os livros foram publicados pela Companhia das Letras.
"A história é um apoio para os meus livros. Em "O Chalaça', 70% era verdade. Em "Terra Papagalli', uns 30%. Agora, é bem menos", disse Torero.

Folha - Entre os sete pecados, quais estavam à sua disposição?
José Roberto Torero -
Já tinham escolhido a gula, a inveja e a luxúria. Sobravam os outros. Avareza, nos dias de hoje, sob o domínio dos economistas, nem é mais pecado. Já, já, vai ser riscado da lista.
Folha - Por que escolheu a ira?
Torero -
É o pecado mais movimentado. Até Deus teve ira, queimou cidades, inundou o mundo.
Folha - A guerra é fruto da ira?
Torero -
Pensando bem, não é. Guerra é cobiça, luxúria.
Folha - Você logo pensou na Guerra do Paraguai?
Torero -
Não. Primeiro pensei em Duque de Caxias. Um herói, um soldado. Sempre o vi com desconfiança. Como um cara que mata pode ser visto como herói? Ele tinha fama de sanguinário. Era um político de bastidores, um estrategista, mas distante da batalha.
Folha - Pesquisou sobre ele?
Torero -
Pesquisei. A Guerra do Paraguai foi a maior guerra brasileira. E é a mais bem documentada. O resto é bobagem.
Folha - Por que o livro é pouco violento?
Torero -
A guerra antiga não é tão violenta. É uma guerra de trincheiras, muitas manobras para guardar posição. São ataques furtivos, longas caminhadas e tomadas de fortes.
Folha - As cenas de seu livro aconteceram de fato, como a que o "inimigo" usa civis como escudo?
Torero -
Essa eu inventei. Mas muitas cenas aconteceram, como quando o "inimigo" queima a mata, provocando um incêndio onde estavam acampados os brasileiros.
Folha - Foi intencional escrever uma narrativa simples, com diálogos e capítulos curtos?
Torero -
Os diálogos eram enormes no primeiro tratamento. Mas percebi que, numa guerra, as conversas devem ser curtas.



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