São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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Arnaldo e sua tribo

Músico lança DVD gravado em estúdio, com ex-Titãs e Tribalistas como convidados, e diz que rock continua presente, mas que se sente mais confortável como cantor e sentindo o "sabor de cada palavra"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O CD "Qualquer" (2006) foi gravado durante três dias num estúdio, com os músicos tocando ao mesmo tempo, como se fosse ao vivo. Pois na hora de fazer o seu primeiro DVD ao vivo, neste ano, Arnaldo Antunes voltou ao estúdio e compactou oito câmeras e 50 convidados sentados no chão.
"Não via esse show intimista num teatro grande ou espaço aberto. Era importante a relação com o público pertinho. E não queria só um registro de show. Teve um diferencial", diz Arnaldo, que registrou 27 faixas acompanhado de três músicos e seis convidados no Mosh, em São Paulo, em 14 de agosto.
Mesmo quem não goste de todas as músicas de Arnaldo há de reconhecer que "Ao Vivo no Estúdio" é uma peça única, e não mais um DVD resultante de um show filmado, fórmula mais do que surrada da indústria fonográfica.
Aproveitando que já era preto-e-branco o vídeo de Marcia Xavier e Doca Corbett que formava o "cenário em movimento" de suas apresentações, o cantor optou, ao lado do diretor Tadeu Jungle, por um DVD todo sem cores, com toques expressionistas, nada previsível. A escolha reforça as características de "Qualquer": sonoridade mais despojada, nada roqueira, e Arnaldo ressaltando sua voz grave, sem os agudos forçados dos tempos do Titãs.
"Ao cantar berrado, eu também tentava dizer ao máximo o significado das palavras. Mas a voz era mais instrumental do que reveladora. Hoje, eu sinto o sabor de cada palavra. Está tudo mais nítido, inteligível", diz.
João Gilberto
No ano passado, ele já falava na "lição de João Gilberto". Ela não consistiria em cantar baixinho, mas em buscar extrair das palavras a maior "densidade" possível. "Embora nossas vozes sejam bem diferentes, é claro que estou hoje mais próximo da forma de cantar de João", diz, mantendo a reverência.
Mas ele ressalta que "tem ali [no DVD] algo de rock". Mesmo espremido no estúdio, Arnaldo dá sinais de sua performance característica, com gestos que lembram mais o artista pop que ele é do que um intérprete de recital.
E o rock também se manifesta, ainda que em formato mais cool, nas participações de seus ex-colegas de Titãs Nando Reis (em "Não Vou me Adaptar") e Branco Mello ("Eu Não Sou da Sua Rua"), na versão roqueira de "Judiaria" (Lupicínio Rodrigues), embalada pela guitarra de Edgard Scandurra, e na releitura de "O Que".
"Não me vejo dentro de um gênero específico. Mesmo nos Titãs, tocávamos rock, reggae, funk, ouvíamos muita música brasileira, era um híbrido. Não sei o que será meu próximo trabalho. Mas é verdade que eu me sinto mais confortável cantando hoje", afirma ele, que se apresentará no domingo, às 18h, no Centro Cultural São Paulo, com entrada franca.

Referências
O eixo principal do DVD é o repertório de "Qualquer" -já no CD "Ao Vivo no Estúdio", também lançado agora, ele só repetiu quatro faixas do disco de 2006. Mas há músicas de seus outros discos solo, como "O Silêncio" -com citação de "Desafinado" (Tom Jobim/ Newton Mendonça)- e "Saiba", participação dos Tribalistas Marisa Monte e Carlinhos Brown e três "referências afetivas": "Acabou Chorare", clássico dos Novos Baianos que já estava em "Qualquer"; "Qualquer Coisa", música de Caetano Veloso que se impôs pela presença da expressão-título em outras canções do repertório; e a marcha "Bandeira Branca" (Max Nunes/Laércio Alves).
"São paixões de diferentes épocas que me permitem um olhar sobre a tradição", resume Arnaldo, que sonha gravar um disco de intérprete, cantando só criações alheias.


AO VIVO NO ESTÚDIO
Artista:
Arnaldo Antunes
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 43 (DVD) e R$ 30 (CD), em média



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