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Arnaldo e sua tribo
Músico lança DVD gravado em estúdio, com ex-Titãs e Tribalistas como convidados, e diz que rock continua presente, mas que se sente mais confortável como cantor e sentindo o "sabor de cada palavra"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O CD "Qualquer" (2006) foi
gravado durante três dias num
estúdio, com os músicos tocando ao mesmo tempo, como se
fosse ao vivo. Pois na hora de fazer o seu primeiro DVD ao vivo,
neste ano, Arnaldo Antunes
voltou ao estúdio e compactou
oito câmeras e 50 convidados
sentados no chão.
"Não via esse show intimista
num teatro grande ou espaço
aberto. Era importante a relação com o público pertinho. E
não queria só um registro de
show. Teve um diferencial", diz
Arnaldo, que registrou 27 faixas acompanhado de três músicos e seis convidados no Mosh,
em São Paulo, em 14 de agosto.
Mesmo quem não goste de
todas as músicas de Arnaldo há
de reconhecer que "Ao Vivo no
Estúdio" é uma peça única, e
não mais um DVD resultante
de um show filmado, fórmula
mais do que surrada da indústria fonográfica.
Aproveitando que já era preto-e-branco o vídeo de Marcia
Xavier e Doca Corbett que formava o "cenário em movimento" de suas apresentações, o
cantor optou, ao lado do diretor
Tadeu Jungle, por um DVD todo sem cores, com toques expressionistas, nada previsível.
A escolha reforça as características de "Qualquer": sonoridade mais despojada, nada roqueira, e Arnaldo ressaltando
sua voz grave, sem os agudos
forçados dos tempos do Titãs.
"Ao cantar berrado, eu também tentava dizer ao máximo o
significado das palavras. Mas a
voz era mais instrumental do
que reveladora. Hoje, eu sinto o
sabor de cada palavra. Está tudo mais nítido, inteligível", diz.
João Gilberto
No ano passado, ele já falava
na "lição de João Gilberto". Ela
não consistiria em cantar baixinho, mas em buscar extrair das
palavras a maior "densidade"
possível. "Embora nossas vozes
sejam bem diferentes, é claro
que estou hoje mais próximo da
forma de cantar de João", diz,
mantendo a reverência.
Mas ele ressalta que "tem ali
[no DVD] algo de rock". Mesmo
espremido no estúdio, Arnaldo
dá sinais de sua performance
característica, com gestos
que lembram mais o artista
pop que ele é do que um intérprete de recital.
E o rock também se manifesta, ainda que em formato mais
cool, nas participações de seus
ex-colegas de Titãs Nando Reis
(em "Não Vou me Adaptar") e
Branco Mello ("Eu Não Sou da
Sua Rua"), na versão roqueira
de "Judiaria" (Lupicínio Rodrigues), embalada pela guitarra
de Edgard Scandurra, e na releitura de "O Que".
"Não me vejo dentro de um
gênero específico. Mesmo nos
Titãs, tocávamos rock, reggae,
funk, ouvíamos muita música
brasileira, era um híbrido. Não
sei o que será meu próximo trabalho. Mas é verdade que eu me
sinto mais confortável cantando hoje", afirma ele, que se
apresentará no domingo, às
18h, no Centro Cultural São
Paulo, com entrada franca.
Referências
O eixo principal do DVD é o
repertório de "Qualquer" -já
no CD "Ao Vivo no Estúdio",
também lançado agora, ele só
repetiu quatro faixas do disco
de 2006. Mas há músicas de
seus outros discos solo, como
"O Silêncio" -com citação de
"Desafinado" (Tom Jobim/
Newton Mendonça)- e "Saiba", participação dos Tribalistas Marisa Monte e Carlinhos
Brown e três "referências afetivas": "Acabou Chorare", clássico dos Novos Baianos que já estava em "Qualquer"; "Qualquer
Coisa", música de Caetano Veloso que se impôs pela presença
da expressão-título em outras
canções do repertório; e a marcha "Bandeira Branca" (Max
Nunes/Laércio Alves).
"São paixões de diferentes
épocas que me permitem um
olhar sobre a tradição", resume
Arnaldo, que sonha gravar um
disco de intérprete, cantando
só criações alheias.
AO VIVO NO ESTÚDIO
Artista: Arnaldo Antunes
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 43 (DVD) e R$ 30 (CD),
em média
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