São Paulo, Terça-feira, 21 de Dezembro de 1999


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DISCO - LANÇAMENTOS
CDs têm blues feito abaixo da linha do Equador

NUNO MINDELIS

EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos


Ser o mais completo guitarrista de blues nacional não é o bastante para garantir uma aposentadoria confortável para Nuno Mindelis, angolano radicado no Brasil.
Só agora ele chega ao seu quarto disco, "Blues on the Outside", três anos após ter gravado "Texas Bound", CD no qual mostrou ser possível fazer blues convincente abaixo da linha do Equador.
Nesse meio tempo, ele trocou de gravadora -deixou a Eldorado e assinou com a Trama-, participou de pequenos festivais no Brasil, tocou na Europa, ganhou o prêmio de melhor guitarrista de blues da revista norte-americana "Guitar Player", foi ao Texas, juntou o pessoal do disco anterior -em especial Chris Layton e Tommy Shannon (baterista e baixista da banda de Stevie Ray Vaughan)- e perpetrou o atual.
Apesar de contarem com a mesma "cozinha", um oceano separa um trabalho do outro. Para começar, Mindelis está mais maduro em "Blues on the Outside".
Descobriu que os registros médios são os mais confortáveis para a sua voz. Apurou seu estilo na guitarra e está muito mais cuidadoso com os finais das frases nos solos, esculpindo-os, como se as notas dessem um último e significativo suspiro antes de sucumbir.
A técnica sobra. A empolgação do disco anterior foi substituída pelo conhecimento de causa. Com uma produção menos improvisada que a do disco anterior, Mindelis não corre riscos em "Blues on the Outside". Como um trapezista cuidadoso, o guitarrista resolveu usar rede de proteção.
Isso é bom e é mau. Os arranjos esmerados e executados com precisão dão ao CD atual uma clareza que o anterior não tinha. Por sua vez, "Texas Bound" é permeado por uma imponderabilidade que dá a ele um quê de paixão.
Para resumir: o que o trabalho anterior tem de revolução, o atual tem de evolução.

Repertório
E essa evolução aparece logo na escolha das canções que compõem "Blues on the Outside". Mindelis está mais à vontade com o inglês. Quando seu conhecimento da língua não foi suficiente, ele contou com o auxílio do norte-americano Ron Ferrell e do britânico Phil Nicholson, amigos pessoais do guitarrista.
No que diz respeito às melodias, fica faltando aquele toque a mais de originalidade. Em compensação, Mindelis mostra ser capaz de compor músicas cuja melodia vem à mente sempre que o nome delas é citado.
O resultado dessa soma de letras e melodias são canções que transitam por várias veredas do campo blueseiro. Desde lânguidos blues pautados pela lentidão até variantes da soul music do sul dos EUA, mais especificamente, daquela produzida pela extinta gravadora Stax, de Memphis.
"I Know what You Want", representante da vertente soul, traz a mais gratificante surpresa do disco. Trata-se do grupo vocal feminino Tiffany & the Gospel Motions, que aproveita os vocais de fundo para autenticar as frases cantadas por Mindelis.
Fora isso, o que resta é a competência natural do guitarrista e do time que o acompanha.
Em qualquer lugar do mundo, EUA incluídos, "Blues on the Outside" não fará vergonha nas prateleiras de blues entre os discos dos mestres do gênero. O encarte em inglês indica que esse é o caminho do trabalho.


Avaliação:    

Disco: Blues on the Outside Artista: Nuno Mindelis Lançamento: Trama Quanto: R$ 18 (em média)


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