|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO - LANÇAMENTOS
CDs têm blues feito abaixo da linha do Equador
NUNO MINDELIS
EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos
Ser o mais
completo guitarrista de blues
nacional não é o
bastante para
garantir uma
aposentadoria confortável para
Nuno Mindelis, angolano radicado no Brasil.
Só agora ele chega ao seu quarto
disco, "Blues on the Outside", três
anos após ter gravado "Texas
Bound", CD no qual mostrou ser
possível fazer blues convincente
abaixo da linha do Equador.
Nesse meio tempo, ele trocou de
gravadora -deixou a Eldorado e
assinou com a Trama-, participou de pequenos festivais no Brasil, tocou na Europa, ganhou o
prêmio de melhor guitarrista de
blues da revista norte-americana
"Guitar Player", foi ao Texas, juntou o pessoal do disco anterior
-em especial Chris Layton e
Tommy Shannon (baterista e baixista da banda de Stevie Ray Vaughan)- e perpetrou o atual.
Apesar de contarem com a mesma "cozinha", um oceano separa
um trabalho do outro. Para começar, Mindelis está mais maduro
em "Blues on the Outside".
Descobriu que os registros médios são os mais confortáveis para
a sua voz. Apurou seu estilo na
guitarra e está muito mais cuidadoso com os finais das frases nos
solos, esculpindo-os, como se as
notas dessem um último e significativo suspiro antes de sucumbir.
A técnica sobra. A empolgação
do disco anterior foi substituída
pelo conhecimento de causa.
Com uma produção menos improvisada que a do disco anterior,
Mindelis não corre riscos em
"Blues on the Outside". Como um
trapezista cuidadoso, o guitarrista
resolveu usar rede de proteção.
Isso é bom e é mau. Os arranjos
esmerados e executados com precisão dão ao CD atual uma clareza
que o anterior não tinha. Por sua
vez, "Texas Bound" é permeado
por uma imponderabilidade que
dá a ele um quê de paixão.
Para resumir: o que o trabalho
anterior tem de revolução, o atual
tem de evolução.
Repertório
E essa evolução aparece logo na
escolha das canções que compõem "Blues on the Outside".
Mindelis está mais à vontade com
o inglês. Quando seu conhecimento da língua não foi suficiente, ele contou com o auxílio do
norte-americano Ron Ferrell e do
britânico Phil Nicholson, amigos
pessoais do guitarrista.
No que diz respeito às melodias,
fica faltando aquele toque a mais
de originalidade. Em compensação, Mindelis mostra ser capaz de
compor músicas cuja melodia
vem à mente sempre que o nome
delas é citado.
O resultado dessa soma de letras e melodias são canções que
transitam por várias veredas do
campo blueseiro. Desde lânguidos blues pautados pela lentidão
até variantes da soul music do sul
dos EUA, mais especificamente,
daquela produzida pela extinta
gravadora Stax, de Memphis.
"I Know what You Want", representante da vertente soul, traz
a mais gratificante surpresa do
disco. Trata-se do grupo vocal feminino Tiffany & the Gospel Motions, que aproveita os vocais de
fundo para autenticar as frases
cantadas por Mindelis.
Fora isso, o que resta é a competência natural do guitarrista e do
time que o acompanha.
Em qualquer lugar do mundo,
EUA incluídos, "Blues on the
Outside" não fará vergonha nas
prateleiras de blues entre os discos dos mestres do gênero. O encarte em inglês indica que esse é o
caminho do trabalho.
Avaliação:
Disco: Blues on the Outside
Artista: Nuno Mindelis
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 18 (em média)
Texto Anterior: Indicados para o Shell Próximo Texto: Paulo Meyer & The Burning Bush Índice
|