São Paulo, Terça-feira, 21 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

500 ANOS
Lugar onde o descobridor teria morado passa por reforma e será um centro cultural em Portugal
Casa de Cabral torna-se Casa do Brasil

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Santarém


Em 9 de março do ano que vem, o presidente Fernando Henrique Cardoso vai inaugurar em Santarém (cerca de 80 km ao norte de Lisboa) a Casa do Brasil, num prédio onde se supõe que Pedro Álvares Cabral tenha vivido.
Historiadores portugueses se digladiam sobre a tese de que foi ali mesmo, na construção ao lado da igreja da Graça, com fachada de frente para a rua Vila de Belmonte, que o descobridor do Brasil passou seus últimos anos.
Mas, como diz um deles, Luís Matta, "não obstante as deambulações acadêmicas que possam se fazer à volta dessas casas, a relevância de sua reabilitação é justificável", tanto do ponto de vista histórico quanto arquitetônico.
Parece haver certo consenso (mas não unanimidade) de que Cabral de fato morava em Santarém quando morreu, antes do mês de outubro, no ano de 1520.
Sua mulher, Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque, pertencia a uma das famílias mais ricas e poderosas da cidade.
O túmulo, na igreja da Graça, onde se acredita estar o corpo de Cabral, na verdade é dela e só subsidiariamente do marido.

Quinto centenário
O projeto de recuperar a casa e transformá-la num centro cultural e acadêmico com ênfase no Brasil apareceu por causa do quinto centenário da viagem de Cabral, um personagem que até 1968 era pouco visível nas ruas de Santarém, cidade-natal de outros exploradores marítimos famosos.
O marco que está no largo Pedro Álvares Cabral, em frente à igreja da Graça, só foi inaugurado (pelo então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Magalhães Pinto) em 1968, quinto centenário do nascimento do navegante.
A estátua de Cabral no mesmo local foi para lá em 1998. Antes, estava em local bem menos nobre, na Estrada Nacional.
Agora, Cabral está na moda. Mas, como reconhece Paulo Afonso Grisolli, diretor-geral do projeto Cabral, Viajante do Rei, a notoriedade atual não ajudou a descobrir muito de novo sobre a obscura vida de Cabral.
O projeto, que inclui uma revista eletrônica (www.cabral.art.br), uma exposição itinerante (que será inaugurada em março de 2000 em Santarém e em 29 cidades do Brasil) e um livro, tem como ponto alto a criação da Casa do Brasil.
Independente do que essa instituição venha a realizar nos próximos anos (leia os objetivos do prefeito de Santarém em texto nesta pág.), a simples recuperação da construção já é algo notável.
Foi realizado um trabalho de arqueologia arquitetônica e descobriu-se que a construção foi ocupada sucessivamente desde a chegada dos muçulmanos a Portugal.
A planta mais antiga da casa é do século 18. Acredita-se que ela tenha sido muito modificada devido ao terremoto de 1755, que destruiu Lisboa e afetou Santarém. Pedaços da parede original do prédio, um nicho do século 16 e arcos da Idade Média serão deixados à mostra para que o público possa ter uma idéia do que existiu ali no passado remoto.
O trabalho, realizado sob os auspícios da Bento Pedroso Construção, a empresa do Grupo Odebrecht em Portugal, é difícil. Por exemplo, levou muito tempo até descobrir quem seria capaz de usar as técnicas da época para recuperar uma cisterna ali encontrada. Para fazer telhas para a cisterna, foram procurados originais em museus de Portugal.


O colunista Arnaldo Jabor está em férias


Texto Anterior: Download
Próximo Texto: Santarém quer ser a "capital do Brasil em Portugal"
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.