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500 ANOS
Lugar onde o descobridor teria morado passa por reforma e será um centro cultural em Portugal
Casa de Cabral torna-se Casa do Brasil
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Santarém
Em 9 de março do ano que vem,
o presidente Fernando Henrique
Cardoso vai inaugurar em Santarém (cerca de 80 km ao norte de
Lisboa) a Casa do Brasil, num prédio onde se supõe que Pedro Álvares Cabral tenha vivido.
Historiadores portugueses se
digladiam sobre a tese de que foi
ali mesmo, na construção ao lado
da igreja da Graça, com fachada
de frente para a rua Vila de Belmonte, que o descobridor do Brasil passou seus últimos anos.
Mas, como diz um deles, Luís
Matta, "não obstante as deambulações acadêmicas que possam se
fazer à volta dessas casas, a relevância de sua reabilitação é justificável", tanto do ponto de vista
histórico quanto arquitetônico.
Parece haver certo consenso
(mas não unanimidade) de que
Cabral de fato morava em Santarém quando morreu, antes do
mês de outubro, no ano de 1520.
Sua mulher, Isabel de Castro,
sobrinha de Afonso de Albuquerque, pertencia a uma das famílias
mais ricas e poderosas da cidade.
O túmulo, na igreja da Graça,
onde se acredita estar o corpo de
Cabral, na verdade é dela e só subsidiariamente do marido.
Quinto centenário
O projeto de recuperar a casa e
transformá-la num centro cultural e acadêmico com ênfase no
Brasil apareceu por causa do
quinto centenário da viagem de
Cabral, um personagem que até
1968 era pouco visível nas ruas de
Santarém, cidade-natal de outros
exploradores marítimos famosos.
O marco que está no largo Pedro Álvares Cabral, em frente à
igreja da Graça, só foi inaugurado
(pelo então ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Magalhães
Pinto) em 1968, quinto centenário
do nascimento do navegante.
A estátua de Cabral no mesmo
local foi para lá em 1998. Antes,
estava em local bem menos nobre, na Estrada Nacional.
Agora, Cabral está na moda.
Mas, como reconhece Paulo
Afonso Grisolli, diretor-geral do
projeto Cabral, Viajante do Rei, a
notoriedade atual não ajudou a
descobrir muito de novo sobre a
obscura vida de Cabral.
O projeto, que inclui uma revista eletrônica (www.cabral.art.br),
uma exposição itinerante (que será inaugurada em março de 2000
em Santarém e em 29 cidades do
Brasil) e um livro, tem como ponto alto a criação da Casa do Brasil.
Independente do que essa instituição venha a realizar nos próximos anos (leia os objetivos do
prefeito de Santarém em texto
nesta pág.), a simples recuperação
da construção já é algo notável.
Foi realizado um trabalho de arqueologia arquitetônica e descobriu-se que a construção foi ocupada sucessivamente desde a chegada dos muçulmanos a Portugal.
A planta mais antiga da casa é
do século 18. Acredita-se que ela
tenha sido muito modificada devido ao terremoto de 1755, que
destruiu Lisboa e afetou Santarém. Pedaços da parede original
do prédio, um nicho do século 16
e arcos da Idade Média serão deixados à mostra para que o público
possa ter uma idéia do que existiu
ali no passado remoto.
O trabalho, realizado sob os
auspícios da Bento Pedroso Construção, a empresa do Grupo Odebrecht em Portugal, é difícil. Por
exemplo, levou muito tempo até
descobrir quem seria capaz de
usar as técnicas da época para recuperar uma cisterna ali encontrada. Para fazer telhas para a cisterna, foram procurados originais
em museus de Portugal.
O colunista Arnaldo Jabor está em férias
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