São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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CRÍTICA

"Colheitas" de Erico continuam a gerar frutos saborosos

CRÍTICO DA FOLHA

No início não tinha para ninguém. As amplas fronteiras do "Sítio do Picapau Amarelo", de Monteiro Lobato, ocultavam outras colheitas literárias na área infanto-juvenil. Até mesmo as plantadas por Erico Verissimo, que embora menos fecundas do que as do paulista, não deixavam de fornecer frutos suculentos.
O "Sítio" ganhou várias vezes as telas da televisão, enquanto a obra infantil do gaúcho passou algum tempo esquecida. No entanto, ela já representou para gerações de pais e filhos uma alternativa de literatura nacional de qualidade com a qual podiam contar quando se cansavam das travessuras da boneca Emília.
Alguns detalhes conservam a marca de sua época. Basílio é um paquiderme indiano que, caçado, vai parar num zoológico inglês. Quando "A Vida do Elefante Basílio" foi lançada (1939), a Índia fazia parte da Coroa Britânica. A mãe do "Urso com Música na Barriga" (1938) passa o dia "tomando conta da casa, lavando louça, remendando a roupa do marido e do filho" condição que hoje pode soar opressora.
Mas não se precisa de notas de rodapé para as crianças do século 21 apreciarem os textos de Erico. A razão está na graça e na poesia inseridas nas situações, como a do ursinho que não fala, mas toca uma música diferente para exprimir cada um de seus estados de espírito ou a do elefante que deseja ser uma borboleta.
As histórias apresentam certa indefinição e finais um tanto abruptos, que lembram o estilo dos contos de Grimm. "O Urso com Música na Barriga" parece mais bem resolvido ideológica e estruturalmente. As sempre apropositadas ilustrações de Eva Furnari contribuem, porém, para dirimir qualquer problema. (MARCELO PEN)


O Urso Com Música na Barriga e A Vida do Elefante Basílio
   
Autor: Erico Verissimo
Ilustrações: Eva Furnari
Editora: Companhia das Letrinhas
Quanto: R$ 22 cada um (48 e 56 págs.)



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