São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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BIA ABRAMO

Nova novela do SBT já nasce velha


Em "Revelação", o destino tem nome próprio e a sociologia entra como adorno


UMA DAS inovações de "Revelação" merece entrar para o panteão da teledramaturgia brasileira. Em vez de atribuir a tarefa de manipular os destinos e desatinos dos personagens a um vilão qualquer, a novela criou o Oculto -isso mesmo, como nome próprio. Vale a pena recorrer à sua caracterização tal como está no próprio site da novela: "Personagem que interfere em todas as grandes decisões da trama, sempre aparece em silhueta, sem que se veja seu rosto. Seu único interlocutor é Ermírio, com quem se comunica por telefone, de um escritório no topo de edifício de vista deslumbrante, em alguma grande metrópole não muito bem definida".
Bem à maneira do SBT, escancara-se de início a artificialidade da trama. Chegamos, afinal, à quintessência da novela. Os adornos de uma certa representação sociológica do país que a novela, e esta não é exceção, pretende aderir à história não são mais que isso: ornamentos, firulas e enrolação. O que importa mesmo é isso aí: destinos predeterminados, trajetórias pessoais truncadas por uma força maior, a vontade, o livre-arbítrio e a racionalidade impotentes.
Temos, portanto, uma cidade imaginária, Tirânia, como "microcosmo" da sociedade brasileira. Teremos, nessa cidade, o embate entre o magnânimo proprietário rural e patriarca de uma extensa família, incluindo o filho dos empregados, e o novo poder, representado por um prefeito sem escrúpulos e ambicioso. O agregado Lucas é o protagonista jovem e do bem, financiado por seu benfeitor Ermírio para ser o novo cacique local.
Futuro cacique e agregado obediente, sim, mas esclarecido. No primeiro capítulo, Lucas já aparece defendendo sua tese em uma vetusta universidade (ou um prédio que parece com uma) portuguesa, engrolando algo sobre os benefícios da iniciativa privada para a sociedade.
Agora, pergunta-se: para quê mesmo tudo isso? Se não vai haver meio de driblar o "Oculto"? Se toda a trama se resolverá, ao final, por uma "revelação" inesperada, o que dará sentido a tudo? Se o sujeito vai estudar na Europa e desfaz o casamento com o grande amor da sua vida por causa de uma foto em que a moça aparece com outro cara? Ou se a moça do casal não consegue contar para o cara que está grávida? Ora...
Não há muitas particularidades em esta novela ser feita ou não pelo SBT, a não ser um aspecto geral de produção mais precário e defeitos técnicos mais graves. O impasse, digamos, teórico é o mesmo. Não se sabe muito bem mais para quê ou para quem se faz uma novela, além de botá-la na rinha da audiência.

biabramo.tv@uol.com.br


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