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Favorita ao Shell-SP, "Alma Boa..." reestreia
No ano em que júri lembrou títulos de amplo alcance popular, peça tem 5 menções
"Hamlet" e "O Mistério de Irma Vap" são outros "hits" de 2008 que buscarão prêmios em março; júri destaca "estofo artístico"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Líder em indicações ao Prêmio Shell-SP, o mais prestigioso reconhecimento à produção
teatral, e um dos arrasa-quarteirões da temporada 2008, "A
Alma Boa de Setsuan" reestreia
amanhã em São Paulo.
Criação de Bertolt Brecht
(1898-1956), a história de
Chen-Tê, a ingênua prostituta
escolhida por Deus para receber uma soma em dinheiro, foi
vista por 31 mil pessoas em 61
apresentações. No Shell-SP, recebeu menções nas categorias
direção (Marco Antônio Braz),
atriz (Denise Fraga), cenário,
figurino e iluminação.
Pelo menos desde a temporada 2004 o júri paulista da premiação não reconhecia em categorias tão proeminentes tantas peças de amplo alcance popular. Além de "Alma Boa", a
lista de indicados do segundo
semestre (que se soma à dos
destaques do primeiro semestre para compor a relação final)
tem os "blockbusters" "O Mistério de Irma Vap" e "Hamlet".
A primeira, vista por 25 mil
pessoas em 41 apresentações,
foi lembrada na categoria ator
(Marcelo Médici). Já o clássico
shakespeariano estrelado por
Wagner Moura (40 mil espectadores em 74 sessões) teve figurino e tradução reconhecidos (esta última, na categoria
especial).
Para efeito de comparação, o
espetáculo mais lembrado pelo
júri no ano passado, "O Homem Provisório" (cinco menções), foi visto por 1.565 pessoas em 35 apresentações. Já
o líder de indicações da temporada 2006, "BR3" (seis), acumulou 6.880 espectadores em
86 sessões.
Popular com estofo
A respeito da lista de 2008, o
crítico Kil Abreu, porta-voz do
júri do Shell-SP, diz que "há
uma coincidência feliz entre
projetos que têm um apelo popular, com figuras midiáticas
como Denise Fraga e Wagner
Moura à frente, e espetáculos
com estofo artístico, qualidade
estética inegável".
Ele nega que haja um esforço
do júri em aproximar o prêmio
do gosto médio do público.
"Não diria que as peças indicadas neste ano têm um perfil comercial, naquele sentido de espetáculos montados um pouco
de olho na bilheteria."
Para ele, a discussão do teatrão e do alternativo inexiste:
"Às vezes, a gente se esconde
atrás de rótulos para delegar
qualidades que podem não condizer com a substância verdadeira. Então, assim como se
tem um teatro de pesquisa que
não é de boa qualidade, há um
teatro comercial que é bom. O
rendimento artístico independe desse tipo de referência".
O crítico de teatro da Ilustrada, Luiz Fernando Ramos,
vê na lista de indicados de 2008
o reflexo de um "júri conservador, que aponta para uma dramaturgia mais tradicional".
"Isso fica evidenciado quando
ele ignora o trabalho de adaptação de "Mary Stuart" (em "Rainha[(s)]') e "Os Bandidos", que
conseguiu atualizar esses textos do romantismo alemão. É
uma omissão grave."
O crítico não acredita que haja, por parte do júri, um movimento intencional de sintonização com a produção de maior
repercussão popular. "Mas se
se imaginar que espetáculos
mais conservadores são mais
populares... Um júri mais voltado para a pesquisa de linguagem talvez tivesse feito indicações em outro sentido."
Os vencedores do Shell-SP
serão conhecidos em março.
A ALMA BOA DE SETSUAN
Quando: reestreia amanhã; sex., às
21h30; sáb., às 21h; dom., às 19h; até
1º/3
Onde: teatro Renaissance (al. Santos,
2.233, tel. 0/xx/11/3188-4147)
Quanto: R$ 60 (sex. e dom.) e R$ 80
(sáb.)
Classificação: não indicada a menores
de 12 anos
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