São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2011

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Livros

Ian McEwan é acusado de apoiar Israel

Ativistas pressionam autor inglês a recusar prêmio literário de Jerusalém em solidariedade à causa palestina

Escritor afirmou que pretende receber o título e que não apoia assentamentos "nem tampouco o Hamas"

30.jan.2010/FrancePresse
O romancista inglês Ian McEwan conversa com jornalistas durante festival na Colômbia, em janeiro do ano passado

STEPHEN BATES
DO "GUARDIAN", EM LONDRES

Em sua carreira literária, Ian McEwan já recebeu prêmios de muitos lugares no mundo ocidental, mas nenhum talvez seja tão potencialmente polêmico como o de Jerusalém, que lhe será entregue em uma feira de livros em Israel em fevereiro.
Na noite da última quarta, McEwan, autor de "O Inocente" e "Reparação", assinalou que vai receber o prêmio em Jerusalém. Ganhadores anteriores foram pressionados por defensores da causa palestina a recusá-lo como gesto de solidariedade. "Vou aceitá-lo, sem dúvida. É um prêmio de grande prestígio, e sinto-me honrado por integrar a lista de escritores agraciados no passado", disse McEwan.
O prêmio de Jerusalém, que inclui o valor "simbólico" de US$ 10 mil (R$ 16,7 mil), é concedido a cada dois anos a escritores cujo trabalho trate da liberdade individual na sociedade.
O primeiro ganhador, em 1963, foi o filósofo Bertrand Russell (1872-1970). Entre os outros agraciados estão Simone de Beauvoir (1908-1986), J.M. Coetzee e Mario Vargas Llosa.
O último vencedor, o japonês Haruki Murakami, foi pressionado a recusar o título, mas o aceitou, dizendo: "Gosto de fazer o oposto do que me mandam. Acho que é parte de minha natureza de romancista".
Ao "Guardian", McEwan afirmou: "Acho que devemos sempre traçar uma distinção entre uma sociedade civil e seu governo. É a feira de livros de Jerusalém e não o Ministério do Exterior israelense que está me dando o prêmio. Eu exortaria as pessoas a fazer essa distinção. O prêmio é literário".
"Não sou defensor do movimento israelense de construção de assentamentos, nem tampouco do Hamas. Eu me alinharia a muitos de meus amigos israelenses que receiam que nunca haja paz enquanto os assentamentos continuarem", disse.
"Apoio o chamado do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por um congelamento dos assentamentos.
Mas também não acho tolerável o Hamas lançar mísseis contra Israel."

AMBIENTE TURBULENTO
Na escolha do premiado, o júri da feira de livros afirmou ter ficado impressionado com os personagens de McEwan e com o esforço que fazem para expressar suas ideias em um ambiente de turbulência política e social. "O afeto que ele evidentemente nutre pelos personagens e a maneira convincente em que descreve a luta deles fazem de McEwan um dos escritores mais importantes de nossa época." "Saudamos a declaração de McEwan sobre o fato de desaprovar os assentamentos, mas gostaríamos de observar que aceitar esse prêmio é uma maneira de apoiar o governo israelense, que está engajado com políticas ilegais de expulsão do povo palestino. Sua aceitação será utilizada pelo governo israelense para fins de relações públicas", afirma Betty Hunter, secretária-geral da Campanha de Solidariedade com a Palestina. O prêmio vai se somar à grande coleção de outros troféus de McEwan, entre os quais o Booker, o Whitbread, o Somerset Maugham, o WH Smith, o Prix Femina Étranger e o Shakespeare.

Tradução de CLARA ALLAIN


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