São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA ROMANCE

"Bravura Indômita" entretém com humor negro e barbárie

DANIEL BENEVIDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É fácil entender o que despertou a atenção dos irmãos Cohen para "Bravura Indômita", livro escrito em 1968 por Charles Potis. E por que John Wayne ganhou seu único Oscar com a primeira versão do filme, de 1969.
Lançado originalmente em capítulos de jornal, como os folhetins do século 18 e 19, é daqueles romances de faroeste que entretêm do começo ao fim, seguindo a cartilha do gênero, mas que também têm algo de diferente ou mesmo autoparódico.
Há um humor negro que perpassa toda a história, num contraste divertido com o tom seco e bíblico da narradora, também personagem central, que conta os fatos 25 anos depois. Algo como se o autor fosse um ventríloquo e tivesse uma disposição irônica com a seriedade de seu boneco -ou boneca.
Ela é Mattie Ross, menina de 14 anos cujo pai foi morto por um empregado bêbado chamado Tom Chaney. Disposta a se vingar, parte em busca de alguém para ajudá-la e acaba encontrando um agente federal gordo, caolho e beberrão, mas famoso pela pontaria e coragem.
Prática como um homem de negócios, ela consegue convencer um contrariado Rooster Cogburn a deixá-la ir com ele até o perigoso Território Indígena, onde Chaney foi visto pela última vez. Como reforço duvidoso, vai também LaBoeuf, agente texano com outros interesses em capturar o criminoso.
Mattie tem um lado muito correto e teimoso, que desarma tanto os colegas quanto os vilões. O leitor se vê torcendo por ela ao longo da perseguição cheia de provações, cenas pavorosas e desafios que parecem insuperáveis. Chega a lembrar, de alguma forma, Huck Finn e Tom Sawyer, os heróis juvenis (ou anti-heróis) de Twain. As páginas do livro estão respingadas de neve, cuspe e sangue. O romance trafega naturalmente entre a barbárie das ações e a comicidade de alguns diálogos, numa escrita que ora dispara como tiros certeiros, ora adota o trote mais descritivo de um cavalo bem conduzido.
Os tipos mais curiosos são identificados por detalhes incomuns que dão uma ideia precisa do conjunto: o lábio destruído de um ladrão de trens, a marca cinza no rosto de Chaney, as mãos trêmulas de um comerciante que cita Shakespeare etc.

BRAVURA INDÔMITA

AUTOR Charles Potis
EDITORA Alfaguara
TRADUÇÃO Cassio de Arantes Leite
QUANTO R$ 29,90 (192 págs.)
AVALIAÇÃO bom


Texto Anterior: Painel das Letras: Marx,o retorno
Próximo Texto: Hollanda anuncia os secretários do MinC
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.