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Judas vira rock'n'roll
especial para a Folha
Apesar de Bob Dylan e de sua
banda de apoio, The Hawks, tocarem com as guitarras plugadas
num volume para ensurdecer a
platéia do Royal Trade Hall, foi um
grito vindo das primeiras fileiras
do ginásio que marcou a noite de
17 de maio de 1966.
Ao final de "Ballad of Thin Man",
quando a banda se preparava para
tocar "Like a Rolling Stone", uma
voz masculina soltou "Judas", como resumo de toda insatisfação
dos fanáticos ingleses da música
folk que haviam desaprovado o set
elétrico de Dylan.
"Eu não acredito em vocês, seus
mentirosos", retrucou Dylan, virando imediatamente pra banda e
pedindo pra tocar "Like..." o mais
alto possível. O comportamento
da platéia é completamente díspar
nos dois momentos do show.
Na parte acústica, tocando clássicos que haviam confirmado Dylan
como o grande ídolo folk nos meados da década de 60 nos EUA e no
Reino Unido, como "Just Like a
Woman" e "Mr. Tambourine
Man", o músico americano entrou
no palco com o jogo ganho.
Tocando apenas violão e gaita,
Dylan discorre seu repertório com
tranquilidade. Os aplausos são céticos, talvez porque a platéia já
soubesse que novidade e polêmica
só viriam após o intervalo, quando
o show ficaria rock'n'roll.
"Eu nunca tinha ouvido nada tão
apocalíptico. Parecia uma esquadrilha de B-52s (aviões de guerra)
dentro de uma catedral", diz Rick
Sanders, assistente de produção,
sobre o início de "Tell Me Momma", primeira música "elétrica"
do concerto. A partir daí, o famoso
grito começa a ser gerado.
Mas, traidor ou não, a verdade é
que Dylan só virou roqueiro por
opção e diversão. Mickey Jones,
baterista dos The Hawks, diz: "A
postura do Dylan era a seguinte: a
primeira parte do show é pra eles, a
segunda é nossa".
Apesar da pressão, ninguém da
banda estava muito preocupado
com as críticas e pedidos de devolução de dinheiro. Logo após que
as cadeiras se esvaziaram, Dylan
voltou para se divertir tocando Bo
Diddley e Little Richard.
(DV)
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