São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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Exilado em Londres desde 1965, o autor de "Três Tristes Tigres" foi um dos principais críticos do regime ditatorial de Fidel Castro

Escritor Cabrera Infante morre aos 75

DA REDAÇÃO

O escritor cubano Guillermo Cabrera Infante morreu na noite de ontem, no hospital Chelsea and Westminster, em Londres (Inglaterra), onde estava internado desde a semana passada. Ele tinha 75 anos.
O escritor morreu em conseqüência de uma septicemia (infecção do sangue), derivada dos problemas de saúde que o acometeram nos últimos meses.
Cabrera Infante tinha dado entrada no centro médico havia uma semana, depois de quebrar o quadril ao cair acidentalmente em sua casa de Londres, onde residia havia quase 40 anos.
A mulher do escritor, Myrian Gómez, disse que Cabrera Infante também era diabético e estava sendo tratado de uma pneumonia, além da fratura no quadril. Anteriormente, Gómez havia tranqüilizado amigos do escritor, alarmados com a internação, afirmando que a situação de Cabrera Infante não era grave.
Em agosto de 2004, o escritor cubano foi submetido a uma operação de by-pass que o obrigou a convalescer por várias semanas, interrompendo seu ritmo de trabalho.

Cinema e literatura
Cabrera Infante nasceu em 22 de abril de 1929, em Gibara, na Província cubana de Oriente. Quando se mudou com sua família para Havana, em 1941, fascinou-se pelo ritmo vertiginoso da cidade e por sua inesgotável variedade de tipos humanos. Largou a medicina para estudar jornalismo em 1950, mas já era atraído por suas duas paixões -o cinema e a literatura-, às quais decidiu se dedicar. Em 1952, escreveu seu primeiro conto. Dois anos depois, tornou-se crítico cinematográfico, com o pseudônimo de G. Caín, da revista "Carteles".
O escritor colaborou na primeira etapa da Revolução Cubana, em 1959. Foi diretor do Conselho Nacional de Cultura, executivo do Instituto de Cinema e ocupou o cargo de adido cultural de Cuba em Bruxelas, de 1962 a 1965.
Sua consagração literária veio em 1964, quando ganhou o prêmio Biblioteca Breve por seu livro "Três Tristes Tigres". Em 1965 teve seu confronto definitivo com o regime de Fidel. Quando voltou a Cuba, foi detido pelo serviço de contra-inteligência do regime de Fidel, mas conseguiu fugir da ilha e chegou a Madri, na Espanha. Mas dificuldades econômicas e a recusa do regime franquista de regularizar sua situação o fizeram partir para Londres, onde se instalou definitivamente.
Para além da política e da dor do exílio, sua obra seguiu adiante. Em "Exorcismos de Es(t)ilo" (1976), jogou com a literatura; "Havana para um Infante Difunto" (1979) revelou sua maestria para o gênero autobiográfico; "Un Oficio del Siglo 20" (1973) reuniu suas críticas de cinema, e "Mea Cuba" (1992), seus artigos políticos; "Fumaça Pura" (1985) é sua homenagem à língua inglesa.
Além destes, Cabrera Infante escreveu outros livros, fez adaptações (como a de "Sob o Vulcão", de Malcolm Lowry), e produziu milhares de artigos.
Em 1997, o cubano recebeu o prêmio Cervantes, concedido pelo governo espanhol.
Em uma entrevista, citou o escritor português Eça de Queirós e disse que, como ele,"era desses que passam pela vida com uma gargalhada de passagem". Sua risada agora se calou. Sua literatura segue intacta.


Com agências internacionais


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