São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Editoras universitárias buscam maior público

Desejo de profissionalização leva seis entre as maiores editoras a criarem liga

Segundo diretores, associação que inclui editoras da USP, Unicamp e UFMG visa agilidade e visibilidade internacional

MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um racha inédito divide as editoras universitárias, que estavam agrupadas há 20 anos na Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu).
A criação da Liga das Editoras Universitárias (LEU) foi formalizada no último dia 2 pela Edusp (Editora da USP), pela Editora da Unicamp, Editora UFMG, Editora da UFPA, Editora UnB e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
A ruptura tem como causa imediata o processo de eleição da atual diretoria da Abeu, em 2009, que levou ao desligamento de algumas delas. Mas tem como pano de fundo diferenças de visão sobre essas editoras, que nasceram como apêndices das universidades, mas estão cada vez mais profissionalizadas e independentes, adotando formas de gestão mais próximas das editoras comerciais.
A atual presidente da Abeu, Flávia Rosa, diretora da Editora da Universidade Federal da Bahia, não vê a cisão como um sinal de esvaziamento da associação, que registra atualmente 101 filiadas. "Não creio em enfraquecimento, mas claro que o ideal é a união de todos, e esse é o nosso desejo", disse.
O diretor da Editora UFMG, Wander Melo Miranda, evita comentar as diferenças. Mas cita uma questão de "afinidades eletivas". "Temos maior afinidade de programa. Muitas vezes a Abeu não cumpria com o objetivo que queríamos." Ele diz que a LEU será mais ágil, vai permitir mais parcerias, coedições e participação em eventos.
Plinio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp, diz que havia "muita reunião e pouca produção" e cita a participação conjunta no Salão do Livro de Paris, em março próximo, como um marco. Além de agirem mais agressivamente na compra de títulos, as editoras da LEU também vão buscar licenciar suas edições no exterior.
As editoras por trás da nova liga estão entre as mais estáveis e profissionalizadas. Os números são escassos, mas todos são unânimes em apontar um crescimento substancial em lançamentos e vendas. A professora Leilah Santiago Bufrem (UFPR), que analisou o segmento em "Editoras Universitárias no Brasil" (Edusp, 2008), diz que havia apenas 66 editoras em 1999.
"Nos dois últimos anos, crescemos muito", diz Martins Filho, da Edusp. Ele afirma que a editora já lança 150 títulos por ano, incluindo reedições. Ele diz que a Edusp publica com a renda dos seus próprios livros. "O orçamento [da USP] paga os funcionários e o prédio. De certa forma, temos autossuficiência. Não oneramos a universidade." O faturamento anual é de cerca de R$ 5 milhões.
Segundo Wander Melo Miranda, a Editora UFMG lança anualmente cerca de 90 títulos (50 inéditos). "As receitas são todas reaplicadas na editora, para que ela possa crescer. Em 2000, éramos uma editora local, só com dez títulos anuais."
Uma das editoras que melhor representa o crescimento das universitárias, no entanto, não faz parte da nova agremiação. A Editora da Unesp, que em 1996 virou fundação, lançou edições de bolso e tem se destacado ao perseguir uma qualidade gráfica atraente, com títulos que alcançam um público maior.
Além disso, ampliou a rede de livrarias. "Como experiência "fundacional" somos a única, inclusive no mundo ibero-americano", diz o diretor-presidente José Castilho.
Todas as editoras ressaltam que não procuram competir com as editoras comerciais e que evitam a publicação de ficção, por exemplo.
Como importante apoio para a LEU está a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que se tornou uma sociedade anônima em 2003. "Já conquistamos 20 Prêmios Jabuti desde 2004, sendo dois como Livro do Ano", diz o diretor-presidente, Hubert Alquéres.


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