São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Considerado o "rei mirim do suíngue" e um dos símbolos de elegância em NY, o também pianista foi vítima de leucemia

Morre o cantor Bobby Short aos 80 anos

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

Morreu ontem de manhã, em Nova York, o cantor e pianista Bobby Short, aos 80 anos, vítima de leucemia. Considerado um dos símbolos da elegância nova-iorquina, Short era o mais famoso dos que os norte-americanos chamam de "saloon singers", os cantores de bar ou de cabaré.
Sempre num impecável smoking, Short apresentava-se desde 1968 no bar do hotel Carlyle, no Upper East Side, um dos bairros mais sofisticados de Manhattan. Gostava de interpretar canções das décadas de 20, 30 e 40, de nomes como Cole Porter, Duke Ellington, os irmãos Gershwin, Billy Strayhorn e Harold Arlen.
Seus fãs incluíam o escritor Norman Mailer, a milionária Jacqueline Kennedy Onassis e o cineasta Woody Allen, que chegou a colocá-lo em uma cena, obviamente tocando no Carlyle, no longa-metragem "Hannah e Suas Irmãs", em 1986.
O cantor esteve no Brasil sete vezes, a última delas em 1999, quando cantou no Baretto, a então recém-inaugurada casa de shows da família Fasano. A primeira apresentação foi em 1982, no extinto 150 Night Club.

Críticas
Short tinha, de acordo com os críticos, um dom especial para a escolha de seu repertório. "Entre as qualidades de Bobby Short, figuram um gosto impecável em matérias de canções e um faro especial para encontrar jóias pouco conhecidas de Cole Porter", disse uma vez sobre ele o jornal "The New York Times".
A revista "Time" também prestou seu tributo, anos atrás: "Em um mundo cada vez mais deselegante, Bobby Short é o próprio símbolo do estilo e de um modo de vida mais refinado". Ou, como chegou a dizer o próprio cantor: "Meu público espera uma certa dose de sofisticação quando vem me ouvir".

"Rei mirim do suíngue"
Nascido em 15 de setembro de 1924, Robert Waltrip Short era o nono de uma família de dez filhos. Aos quatro anos, já tocava piano de ouvido. Aos nove, cantava em bares perto de sua cidade natal, Danville, em Illinois, para ganhar algum dinheiro durante a Grande Depressão, na década de 30. Dois anos mais tarde, chegou a Chicago, já com o apelido de "rei mirim do suíngue".
Mas Short sentiu saudades de casa e voltou a estudar. Só retornou aos palcos na adolescência. Sua carreira continuou em ascensão até a década de 50, quando viajou a Londres e a Paris. Na década de 60, começou a perder popularidade, com a chegada dos Beatles e de outros grupos vindos do Reino Unido.
Sua reviravolta veio em 1968, quando o disco de um show ao vivo estourou nas paradas. Assinou, no mesmo ano, um contrato com o hotel Carlyle, que virou seu quartel-general pelas próximas quase quatro décadas.
O cantor planejava este como seu último ano no Carlyle, mas ainda não queria se aposentar. De acordo com uma porta-voz, pensava em viajar pelo mundo.
Short nunca se casou. Morava em um apartamento em Manhattan, com a companhia apenas de seus animais de estimação.
Amigo por mais de 45 anos do cantor, o jornalista, fotógrafo e colunista da Folha David Drew Zingg (morto em 2000) bolou uma das melhores descrições para o estilo de Bobby Short: "Sua aparência, sua expressão e sua voz dramaticamente rouca formam a personificação de quem já esteve em todo lugar e já fez tudo -no mínimo duas vezes".


Texto Anterior: Livro/Crítica: Com Klauss Vianna, a arte é antes de tudo um gesto de vida
Próximo Texto: Arquitetura: Norte-americano rebelde Thomas Mayne vence o Prêmio Pritzker
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.