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MÚSICA
Considerado o "rei mirim do suíngue" e um dos símbolos de elegância em NY, o também pianista foi vítima de leucemia
Morre o cantor Bobby Short aos 80 anos
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Morreu ontem de manhã, em
Nova York, o cantor e pianista
Bobby Short, aos 80 anos, vítima
de leucemia. Considerado um dos
símbolos da elegância nova-iorquina, Short era o mais famoso
dos que os norte-americanos chamam de "saloon singers", os cantores de bar ou de cabaré.
Sempre num impecável smoking, Short apresentava-se desde
1968 no bar do hotel Carlyle, no
Upper East Side, um dos bairros
mais sofisticados de Manhattan.
Gostava de interpretar canções
das décadas de 20, 30 e 40, de nomes como Cole Porter, Duke
Ellington, os irmãos Gershwin,
Billy Strayhorn e Harold Arlen.
Seus fãs incluíam o escritor
Norman Mailer, a milionária Jacqueline Kennedy Onassis e o cineasta Woody Allen, que chegou
a colocá-lo em uma cena, obviamente tocando no Carlyle, no longa-metragem "Hannah e Suas Irmãs", em 1986.
O cantor esteve no Brasil sete
vezes, a última delas em 1999,
quando cantou no Baretto, a então recém-inaugurada casa de
shows da família Fasano. A primeira apresentação foi em 1982,
no extinto 150 Night Club.
Críticas
Short tinha, de acordo com os
críticos, um dom especial para a
escolha de seu repertório. "Entre
as qualidades de Bobby Short, figuram um gosto impecável em
matérias de canções e um faro especial para encontrar jóias pouco
conhecidas de Cole Porter", disse
uma vez sobre ele o jornal "The
New York Times".
A revista "Time" também prestou seu tributo, anos atrás: "Em
um mundo cada vez mais deselegante, Bobby Short é o próprio
símbolo do estilo e de um modo
de vida mais refinado". Ou, como
chegou a dizer o próprio cantor:
"Meu público espera uma certa
dose de sofisticação quando vem
me ouvir".
"Rei mirim do suíngue"
Nascido em 15 de setembro de
1924, Robert Waltrip Short era o
nono de uma família de dez filhos.
Aos quatro anos, já tocava piano
de ouvido. Aos nove, cantava em
bares perto de sua cidade natal,
Danville, em Illinois, para ganhar
algum dinheiro durante a Grande
Depressão, na década de 30. Dois
anos mais tarde, chegou a Chicago, já com o apelido de "rei mirim
do suíngue".
Mas Short sentiu saudades de
casa e voltou a estudar. Só retornou aos palcos na adolescência.
Sua carreira continuou em ascensão até a década de 50, quando
viajou a Londres e a Paris. Na década de 60, começou a perder popularidade, com a chegada dos
Beatles e de outros grupos vindos
do Reino Unido.
Sua reviravolta veio em 1968,
quando o disco de um show ao vivo estourou nas paradas. Assinou, no mesmo ano, um contrato
com o hotel Carlyle, que virou seu
quartel-general pelas próximas
quase quatro décadas.
O cantor planejava este como
seu último ano no Carlyle, mas
ainda não queria se aposentar. De
acordo com uma porta-voz, pensava em viajar pelo mundo.
Short nunca se casou. Morava
em um apartamento em Manhattan, com a companhia apenas de
seus animais de estimação.
Amigo por mais de 45 anos do
cantor, o jornalista, fotógrafo e
colunista da Folha David Drew
Zingg (morto em 2000) bolou
uma das melhores descrições para o estilo de Bobby Short: "Sua
aparência, sua expressão e sua voz
dramaticamente rouca formam a
personificação de quem já esteve
em todo lugar e já fez tudo -no
mínimo duas vezes".
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